Mensagem aos batistas brasileiros
Mensagem apresentada à Assembléia da Convenção Batista Brasileira, reunida em Niterói, em Janeiro de 2011
A ARDENTE EXPECTAÇÃO DA CRIAÇÃO
por Josué Mello Salgado*“Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus” Romanos 8:19
INTRODUÇÃO:
A Escritura Sagrada afirma no texto lido: “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus”. Toda a criação vive sob a ardente expectação, da apaixonada expectativa, de que aqueles que são chamados filhos de Deus pensem, falem e ajam como legítimos filhos de Deus! Que os filhos de Deus reproduzam em suas ações o caráter divino! Que aja coerência de vida com o nome que levamos!
A experiência na presidência da CBB nestes dois anos foi para mim semelhante à do profeta Isaías: Primeiramente fez-me perceber de forma mais clara a impureza dos meus próprios lábios em comparação com a Santidade de Deus e desejar ardentemente para mim o toque purificador e perdoador da brasa viva do altar. Uma responsabilidade como a da presidência de uma denominação com mais de 1.500.000 de pessoas fez-me refletir mais profundamente sobre as minhas próprias fraquezas e como um presidente, até mais do que um pastor, precisa servir de exemplo para os outros. Fui inspirado pelo ensino de Lucas 12:48 – “a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”. Senti que à grande responsabilidade dada, correspondeu uma grande tarefa ética pessoal. Li uma vez de Fidel Castro a afirmação que deixar de fumar charutos era o último desafio que ele se impunha para ser exemplo para os cubanos. Não sei se ele cumpriu o desiderato, nem se a enfermidade que o tirou do poder foi consequência do não cumprimento do desafio, mas me impressionou a consciência da posição do líder.
Em segundo lugar a experiência na presidência da CBB fez-me também ver mais de perto certas, chamemos assim, impurezas dos lábios da nossa denominação e desejar ardentemente para ela o toque purificador e perdoador da brasa viva do altar. Microorganismos patogênicos não são vistos a olho nu, só com olhar microscópico. Certas fraquezas da denominação não são tão visíveis ao grande público ou detectáveis através de relatórios ou discursos triunfalistas. Elas, contudo estão aí presentes minando o nosso testemunho como filhos de Deus. Um dia uma jaqueira centenária amanheceu caída e morta no Seminário do Norte. Ninguém se apercebeu, mas bichos a comiam por dentro.
Quero mencionar aqui sete aspectos que chamaram a minha atenção nesses dois anos de presidência e que exigem de nós uma tomada de posição ao lado de Deus, como filhos de Deus.
Precisamos pois ser imitadores de Deus, como filhos amados (Efésios 5:1), isso é o que significa a ardente expectação da manifestação dos filhos de Deus!
Como agem genuínos filhos de Deus?
1)FILHOS DE DEUS SÃO PROTAGONISTAS PROATIVOS NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
Esta assembleia convencional reveste-se de um significado paradigmático, tanto pelo contexto histórico das chuvas torrenciais que açoitam com violência pelo menos quatro estados brasileiros e principalmente o Rio de Janeiro, quanto pela “coincidência” do tema proposto: vida plena e meio ambiente; uma proposta batista de revisão da nossa relação com o meio ambiente. A criatura humana está perplexa com a dimensão dos chamados “desastres naturais”. Os números no estado do rio são alarmantes, quase mil mortos, milhares de desabrigados e desalojados.
O que vemos não são meros desastres naturais, são a consequência direta de comissões e omissões humanas. Não se pode culpar apenas a natureza pelos desastres naturais. Há anos atrás o jornalista Joelmir Beting fez uma afirmação paradigmática: A NATUREZA NÃO SE DEFENDE, ELA APENAS SE VINGA. Como ignorar a (ir-)responsabilidade dos governos, quase sempre apenas reativos e não proativos? No último dia de votação efetiva na Câmara dos Deputados, o plenário aprovou o projeto de aumento de 61,83% nos salários dos próprios parlamentares, de 133,96% no valor do vencimento do presidente da República e de 148,63% no salário do vice-presidente e dos ministros de Estado. A Auditoria Cidadã da Dívida ao comentar a situação das cidades brasileiras devastadas revelou que o Orçamento Geral da União (OGU) de
2010 reservou 442,5 milhões para o programa “Prevenção e Preparação para Desastres”, dos quais foram gastos apenas 13 milhões (2,97%) até 25 de dezembro de 2010. Infelizmente o Governo passou a desqualificar os números denunciados pela Auditoria Cidadã porque desta vez não pode se referir a herança recebida... O que mais nos surpreende é que o Rio sofre com os efeitos de tempestades desde 1700, de acordo com registros de jornais na época, e ano após ano os governos se recusam a investir nessa área. Contudo, como ignorar a teimosia dos próprios cidadãos que decidem, talvez por falta de melhores opções, viver perigosamente ocupando irregularmente áreas de risco? Como ignorar a relação irrefletida do ser humano com o meio ambiente? Mas sobretudo, como ignorar a presença pecaminosa do povo de Deus no mundo? Refiro-me a pecado no sentido de errar o alvo de Deus para nós. Como ignorar uma presença no mundo sem um sentido lato de missão que não seja apenas a de salvar almas para o céu, mas de guardar, observar, obedecer TODAS AS COISAS que Jesus ensinou (Mateus 28:20)? Como em Ezequiel 22:24ss não se pode culpar apenas a natureza pelos desastres ambientais, governo, povo e igrejas têm sua parcela de culpa. A nossa tarefa durante a assembleia seria fazer o nosso mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.
Quando Deus criou o ser humano e o colocou no jardim do éden, ordenou claramente um desenvolvimento sustentável do planeta: “E tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” Gênesis 2:15. Nem lavrar sem guardar, nem guardar sem lavrar. Vê-se por aqui que a responsabilidade ecológica não foi uma invenção humana moderna, foi uma ordenança divina antiga.
Que desta assembleia e durante todo este ano saíamos para ser protagonistas de um desenvolvimento sustentável do nosso meio-ambiente.
2)FILHOS DE DEUS NÃO DESFEREM “FOGO AMIGO”
“Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros”. Gálatas 5:15
Fogo amigo é o tiro acidental contra as próprias forças ou amigos durante a tentativa de envolver as forças inimigas, especialmente quando esta resulta em ferimentos ou morte.
Tenho visto muito fogo amigo no meio denominacional.
Não sei de onde surgiu a idéia absurda que a denominação precisa de oposição para melhorar. Infelizmente a necessária e salutar crítica aos processos e ações denominacionais foi transmudada em bloco de oposição e oposição em bloco. Diferencio claramente a oposição da crítica. A oposição fundamenta-se em críticas gratuitas e apressadas, é niilista, inflexível, sem conhecimento de causa e ordinariamente parte de posições antagônicas que tentam assim conquistar espaços não conquistados legitimamente. A crítica ainda que obstinada e implacável avalia minuciosamente o objeto, considera as variáveis, é construtiva, saudável necessária e urgente. Nenhuma instituição progride ou perdura sem interlocutor ou contraponto.
Irmãos nós estamos no mesmo barco, lutamos contra um inimigo comum, e não uns contra os outros, não contra a denominação, não contra a obra de Deus. “Pois não é contra carne e sangue que temos de lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes” Efésios 6:12. É verdade que esses principados, potestades, príncipes do mundo destas trevas, e hostes espirituais da iniquidade marionetam muitos de nós para destruir a obra que Deus está realizando. A crítica ataca os processos errôneos, a oposição ataca pessoas e representam muitas vezes uma posição de “combate contra Deus” como alertou Gamaliel (Atos 5:39).
Quando não fazemos parte da solução e só queremos fazer parte do problema, então irmãos estamos desferindo fogo amigo absolutamente mortal. Estamos matando a denominação e suas instituições!
Amados irmãos uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Ou nos focamos realmente o nosso inimigo, ou a denominação não subsistirá.
Que cessemos de desferir fogo amigo em nossa denominação. Que cessemos de atirar em nós mesmos.
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3)FILHOS DE DEUS SÃO PROFETAS, NÃO POLÍTICOS
“O profeta que teve um sonho, que conte o sonho; e aquele em quem está a minha palavra, que fale a minha palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? -- diz o SENHOR.” Jeremias 23:28.
Não gosto de política! Essa é uma expressão usada por muitos que fundamentam assim a sua postura apolítica, i.e, "que ou aquele que não se interessa por política ou por ela tem aversão" (Dicionário Houaiss). Contudo, a expressão pode ser usada em um outro sentido, que, paradoxal e aparentemente, envolve sim participação, e às vezes até militância política. O significado da expressão depende do sentido da palavra!
Das diversas definições da palavra política duas se destacam: 1) política é a arte de bem governar os povos. Neste sentido, i.e,. como arte de bem governar, o conceito é positivo e fundamenta a conhecida afirmação aristotélica: "o homem é um animal político." Dessa política eu gosto e procuro "participar" e não tentar ser "apolítico", embora não goste da militância.
Mas política também pode ser: 2) astúcia, ardil, artifício e esperteza. Há aqueles que fazem política usando de negociações e negociatas, artifícios, manobras, conchavos, lobbys, mentiras e até usando as leis, encontrando nelas brechas! Infelizmente tal "política" vem sendo usada na sociedade de um modo geral, por vezes nas denominações religiosas e até em igrejas. É dessa política que não gosto, nem jamais gostarei, até porque não tenho tal habilidade nem quero desenvolvê-la. Talvez porque não sou político, mas profeta! O instrumento do político é a habilidade, a astúcia; o do profeta é o "assim diz o Senhor".
Os anabatistas proibiam a qualquer de seus membros exercerem cargos públicos. Eles levavam a separação entre igreja e estado muito a sério. Na verdade eles só admitiram entrar na política para implantar um estado teocrático, que acabou sendo um fiasco. Temo que em nossa denominação estejamos cada vez mais distantes do ideal anabatista; estamos flertando cada vez mais com o poder. E é por isso que creio firmemente que deixamos de lado a nossa vocação profética. Todas as vezes que alguma palavra profética se levantou em nosso meio foi fortemente criticada.
Destaco três temas abordados nos últimos tempos para os quais precisamos de coragem profética: aborto, lei da homofobia e laicidade do Estado. Quanto ao aborto, após o assunto ser levantado nas últimas eleições, setores governamentais procuraram minimizar posições claramente assumidas de descriminalização. A então candidata chegou a afirmar que é contra o aborto porque é uma violência contra a mulher, quando o aborto principalmente é uma usurpação da prerrogativa divina sobre a vida, e é principalmente uma violência contra a vida. Poucos perceberam que o nº 190 do Diário Oficial da União - Seção 3, pg. 88 no dia 4.10.2010, publicava um termo aditivo de prorrogação ao termo de cooperação entre a União Federal (Ministério da Saúde) e a Fundação Oswaldo Cruz (RJ) para "Estudo e Pesquisa para Despenalisar o Aborto no Brasil". Precisamos reafirmar profética e biblicamente que somos contra o aborto!
Sobre a lei de homofobia (PL-122), em tramitação no Congresso, poucos também se deram conta da crescente divulgação de atos de violência contra homossexuais. Condenamos todo ato de violência contra o ser humano (por isso somos contra o aborto) e defendemos o direito inerente da pessoa humana de liberdade de escolha. E contudo não se pode aceitar que em nome da luta contra a violência contra homossexuais as igrejas seja criminalizadas. Que, a liberdade deles, não tire a nossa de continuar crendo na Bíblia Sagrada, e de continuar a pregar a palavra, botando o dedo nas feridas da nossa sociedade.
Quanto à laicidade do Estado, o governo federal desferiu um golpe na liberdade religiosa ao aprovar e sancionar o Acordo Brasil-Vaticano. Disfarçado sob o manto de um acordo entre Estados, o Estado Brasileiro e o Estado do Vaticano, privilegiou-se uma religião, obviamente não oferecendo o mesmo privilégio a todas as outras religiões. Voltou-se, de certa forma, à religião oficial no Brasil, desmobilizada pela Constituição de 1889. Não é do meu conhecimento qualquer pronunciamento ou voto contrário de nossos parlamentares contra esse absurdo. No dia 12 de julho, em Sessão Especial no Senado Federal para homenagear a Igreja Memorial Batista pelo seu cinquentenário falei a apenas três senadores presentes sobre a necessidade da manutenção
do Estado laico e da liberdade religiosa. Afirmei a eles: Senhores Senadores, queremos continuar a ser uma igreja livre, num estado livre!
Que sejamos mais proféticos e menos políticos.
4)FILHOS DE DEUS VENCEM OS SEUS PRECONCEITOS
O dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define preconceito como uma opinião ou sentimento concebido ou assumido sem exame crítico, sem conhecimento abalizado, em consequência de generalização apressada ou imposta pelo meio.
Nós batistas temos reproduzido sem maiores reflexões vários preconceitos do nosso meio no correr da nossa história: há preconceito racial – Devo lembrar que muito desse preconceito teve os seus teólogos que provavam com a Bíblia na mão ser o negro designado por Deus para ser inferior e subalterno. Se alguém duvida que haja preconceito racial também em nosso meio recomendo a leitura do livrinho publicado pelo ISER, o Negro Evangélico. Há também entre nós o preconceito social, do rico contra o pobre, das igrejas ricas contra as igrejas pobres, das igrejas grandes contra as igrejas pequenas, e (pasmem) das igrejas pequenas contra as igrejas grandes, há o preconceito regional, sulistas contra nordestinos, paulistas contra baianos. E, contudo o que está mais evidente no tempo presente é o preconceito de gênero, contra a mulher e isto ficou muito evidente no horizonte da discussão sobre consagração de mulheres ao ministério pastoral batista. Muitas das argumentações contrárias deixam claramente evidente o preconceito contra a mulher: há uma desigualdade ontológica ou pelo menos funcional entre homem e mulher, a mulher foi criada para ser auxiliar do homem. Em muitas das argumentações percebe-se claramente a idéia da superioridade do homem em comparação à mulher e da inferioridade da mulher em comparação ao homem. Notem contudo que não estou dizendo que quem é contra a consagração de mulheres ao ministério pastoral pastoral batista seja preconceituoso, mas que muitos que são contrários, o são por puro preconceito contra a mulher.
Para confrontar bíblicamente o preconceito contra a mulher precisamos de uma teologia bíblica da mulher.
A TEOLOGIA DA CRIAÇÃO DESAUTORIZA A SUBALTERNAÇÃO DA MULHER AO HOMEM. Em Gênesis 2:18: “Disse mais o Senhor Deus: não é bom ao ser humano ser só; far-lhe-ei um socorro que lhe corresponda como uma imagem do outro lado do espelho” (tradução livre - Gênesis 2. 18).
Homem e mulher, mulher e homem foram criados por Deus como iguais ontológica e funcionalmente. Foram criados à imagem e semelhança de Deus (pouco menor do que Deus), coroados de honra e de glória, incumbidos de uma missão dada por Deus a ambos e dados um ao outro não como um auxiliar subalterno e inferior, foram dados um ao outro como auxílio e socorro.
É preciso lembrar que a subalternação da mulher em relação ao homem não é fruto da teologia da criação, mas da teologia da queda. "E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará" Gênesis 3:16. O problema é que há muitos que subordinam sua visão e ação sobre a mulher não à teologia da criação, mas à teologia da queda.
A TEOLOGIA DA REDENÇÃO PRECEITUA A ISONOMIA ENTRE HOMEM E MULHER. Essa subalternação de um ser criado ao outro identificada na teologia da queda representa uma ruptura da igualdade desejada e criada por Deus. Em sua oração sacerdotal Jesus orou “para que todos sejam um”. A oração de Jesus era uma expectativa, um desejo, um sonho. Paulo escrevendo aos Gálatas 3:28, disse: “porque todos vós sois um”. A expectativa de Jesus parece ter sido realizada na Galácia. E Paulo parece oferecer uma razão para tanto: "Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus." Em Cristo afirmou Paulo não há homem nem mulher, porque todos são um. Ou dito de outra forma: "Todavia, no Senhor, nem a mulher é independente do homem, nem o homem é independente da mulher" (1 Coríntios 11:11). A subalternação na queda deve ser superada na redenção, na igreja.
Há contudo dois textos que trazem alguma dificuldade para nós: a) "As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja" 1 Coríntios 14:34-36, b) "A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão (dedicação, devoção). Pois não permito que a mulher ensine (didasko), nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio" 1 Timóteo 2:11, 12.
Contudo a Tito (2:3) Paulo escreve: “As mulheres idosas (gr. presbutidas), semelhantemente, que sejam reverentes no seu viver, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras do bem (kalo–didaskalous)”. Sem entrar no mérito do uso do termo PRESBUTIDAS obviamente da mesma raiz de presbíteros, Paulo diz que elas devem ensinar, ser boas mestras (Lutero). Enquanto em Timóteo ele diz que não permitia que a mulher ensinasse na igreja, aqui ele diz que as mulheres idosas deviam ensinar, e ensinar bem. É bom lembrar que no único texto do NT em que a palavra pastor (POIMEN), aparece se referindo a líderes na igreja e mesmo assim no plural é Ef. 4.11. Aqui o título é pastores-mestres (POIMENAS KAI DISDAKALOUS).
Sobre as mulheres na igreja aprendemos que: Foi Maria de Nazaret a que deu à luz e educou ao menino Jesus; foi Maria de Magdala a primeira a ver o Senhor ressuscitado; foram quatro mulheres as que, de todos os discípulos, estiveram ao lado da cruz. Priscila com seu marido Aquila era uma mestra apreciada na igreja primitiva, uma mestra que guiou a Apolo no conhecimento da verdade (Atos 18:26). Evodia e Sintique, apesar das desavenças, eram mulheres que trabalharam no evangelho (Filipenses 4:2-3). Felipe, o evangelista, tinha quatro filhas que eram profetizas (Atos 21:9). Paulo considerava com alta honra a Loide e Eunice (2 timóteo 1:5), e muitos nomes de mulheres são mencionados com alta estima em Romanos 16.
Tanto o pano de fundo Judaico quanto grego era que a mulher não era uma pessoa, mas uma coisa. Assim as orientações paulinas procuravam enfrentar uma situação concreta em um contexto social concreto, com leis claras e definidas (como também ordena a lei). Não devemos ler estas passagens como uma barreira à tarefa e serviço da mulher dentro da igreja, devemos fazê-lo á luz do pano de fundo judaico e da situação em uma cidade grega. Todos são aptos para servir a Cristo, Deus quer usar a todos.
A teologia da criação, a teologia da queda e a teologia da redenção devem nos levar a superação de todo o preconceito contra a mulher, de qualquer diminuição de sua dignidade e funcionalidade dentro da igreja e diante de Deus.
Que aos pés da cruz vençamos os nossos preconceitos raciais, sociais, regionais e de gênero.
5)FILHOS DE DEUS RESOLVEM OS SEUS CONFLITOS BIBLICAMENTE
“Ousa algum de vós, tendo uma queixa contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? Para vos envergonhar o digo. Será que não há entre vós sequer um sábio, que possa julgar entre seus irmãos? Mas vai um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos? Na verdade, já é uma completa derrota para vós o terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?” 1 Coríntios 6:1,
“O mal que mais ameaça o cristianismo não é o anti-cristianismo, mas o sub-cristianismo”!
Depois do famigerado arrombamento da PIB de Goiânia para a realização de um casamento fora dos normativos internos daquela igreja e determinado por uma juíza ímpia, eu não imaginava que veria o que temos visto em nossa denominação, uma verdadeira paranoia querelante. De todos os estados ouvimos a mesma coisa, membros de igreja que não querem viver a vida cristã pelos ditames da Palavra de Deus leva os outros às varas criminais deste país (igrejas, e até a CBB) e isto perante juízes ímpios que não conhecem sequer as determinações bíblicas.
Meus irmãos Daniel foi condenado pela lei dos medos e dos persas “que não se pode revogar” (Daniel 6:12) porque desobedeceu ao interdito estabelecido pelo edital de Dario. Note ele foi condenado pela lei dos medos e dos persas, mas com certeza não pela lei de Deus. Não estou pregando aqui uma desobediência às leis, mas afirmando que a lei de Deus, a Palavra de
Deus não pode estar para nós abaixo das leis humanas! A Bíblia ensina o caminho para resolver os conflitos: a) Auto-exame – contrição, arrependimento, confissão e restituição, b) Alter-exame – exame do outro, c) Admoestação em particular, d) Admoestação comunitária, e) Sofrimento do dano!
Quem não quer viver pela Bíblia que saia da igreja!
Que busquemos resolver os nossos conflitos entre nós e aos pés da cruz e se não formos contemplados em nossas percepções pessoais, que soframos o dano!
6)FILHOS DE DEUS GUARDAM-SE ISENTOS DA CORRUPÇÃO DO MUNDO
“Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo;” Filipenses 2:14-15.
Em pesquisa divulgada pela Transparência Internacional na quinta-feira, 9 de dezembro, apontando o nível de percepção da corrupção em todo o mundo, um dado chamou a atenção: em seis anos, a percepção de que a corrupção afeta as instituições religiosas quase dobrou! Em outras palavras: as pessoas tomaram consciência que as instituições religiosas não são tão santas quanto dizem ser ou deveriam ser!
Amados irmãos, lembro-me de muitos anos atrás ler uma reportagem no Jornal Batista que falava de um executivo da denominação ter contratado vários membros da família para atuarem em funções na organização dirigida por ele. O que já me surpreendia na época, ainda um jovem, era que a reportagem falava da benção de toda a família trabalhar na obra denominacional: não era benção, era nepotismo mesmo! E já soava estranho a mim um jovem funcionário público.
A pesquisa divulgada pela Transparência Internacional não deve ser novidade para nós. Em muitas áreas temos visto a corrupção do mundo penetrar em nossas instituições.
No passado no embate com o movimento pentecostal éramos conhecidos pelo foco na ética, na lisura, e os pentecostais eram conhecidos pelo foco na experiência sensitiva, o que gerava neles um certo relaxamento na ética. Era comum ouvir as experiências espirituais profundas visivelmente mentirosas. O importante era mostrar o poder! Ou como escreveu Sammy Tippit: Buscava-se o poder de Deus, mais que o Deus do poder. Temo que hoje, por causa da idolatria do crescimento e dos números, tenhamos relaxado na ética flertando muitas vezes com líderes carismáticos, com evidente fraqueza moral e ética.
Têm-se notícias, muitas vezes advinda do espanto da sociedade secular, da corrupção, do tráfico de influência, da malversação da coisa denominacional, do enriquecimento ilícito, das propinas etc...
Que nos guardemos isentos da corrupção do mundo e sejamos de fato astros no mundo!
7)FILHOS DE DEUS VALORIZAM TODA A OBRA DE DEUS E A OBRA DE DEUS TODA
Quero recontar uma história bíblica usando-a como uma alegoria: os filhos de Rebeca. Isaque o filho da promessa (Abraão) tinha quarenta anos quanto tomou por mulher a Rebeca. Rebeca era estéril e Isaque orou insistentemente ao Senhor por sua mulher, e o Senhor ouviu as suas orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu a gêmeos: Esaú e Jacó. “Cresceram os meninos; e Esaú tornou-se perito caçador, homem do campo; mas Jacó, homem sossegado, que habitava em tendas. Isaque amava a Esaú, porque comia da sua caça; mas Rebeca amava a Jacó” (Gênesis 25:27-28). Rebeca teve dois filhos, gêmeos, mas amava apenas um, aquele que era “sossegado”, que não exigia maiores cuidados e preocupações. As ações de Rebeca visaram sempre superproteger Jacó, em detrimento dos cuidados de mãe também a Esaú. Quero entender tal história por alegoria. Rebeca, a mãe, é a denominação batista. Esaú o filho, mal ou não amado, é a área de formação ministerial, os seminários. Jacó o filho sossegado, e amado são as juntas missionárias.
As juntas missionárias têm sido chamadas e tratadas equivocadamente de “meninas dos olhos da denominação”. É curioso que a expressão “menina do olho” seja aplicado à pupila do olho. Agora notem para termos visão não podemos só cuidar bem da pupila, mas também da
retina, do nervo ótico, enfim de todo o globo ocular. E notem de nada aproveitará uma pupila bem cuidada e saudável com um coração parado!
Tal tratamento diferenciado me faz perguntar se, as outras áreas da denominação, não são também importantes e essenciais para a existência sadia da denominação.
Em 2009 tínhamos como tema “O Aperfeiçoamento dos Santos: Descobrindo e Capacitando Líderes”. Tal tema traz uma percepção programática importante para o aperfeiçoamento dos santos: é preciso descobrir e capacitar líderes. Tais ações, entretanto devem conduzir naturalmente ao envio para que o ciclo se feche num todo harmônico, integral e sucessivo: descobrir, capacitar e enviar.
Como partes de um todo harmônico e integral descobrir, capacitar e enviar precisam receber o mesmo enfoque, a mesma ênfase, o mesmo investimento sob pena de sofrermos nanismo em uma ação em contrapartida à elefantíase em outra. É preciso conjugar os três verbos com a mesma força! Já foi o tempo em que no Brasil batista se dizia que antes de sermos testemunhas na “Judéia”, “Samária” e até “os confins da terra” era preciso ser testemunhas primeiro na nossa “Jerusalém”. O consenso hoje é que se faz necessária uma ação testemunhal concomitante, simultânea, coerente. Fazemos Missões Mundiais com a mesma paixão que Missões Nacionais e Missões Locais e Estaduais! É chegado o tempo em tenhamos a mesma paixão para capacitar que temos tido para descobrir e enviar.
Os batistas brasileiros temos investido significativamente na captação e descoberta de vocações. Os grandes e pequenos congressos missionários têm gerado um contingente considerável de vocações. Não há crise vocacional na denominação. Temos conjugado bem o verbo descobrir!
Nos últimos dois anos nomeamos e comissionamos cerca de 300 novos missionários para os campos de missões nacionais e mundiais, sem contar de missões estaduais. Os batistas brasileiros somos pródigos no envio e para isso levantamos vultosas ofertas nos dias especiais. Somos a segunda força missionária mundial e isso nos leva a conclusão: Temos conjugado bem o verbo enviar!
Lamentavelmente não podemos dizer o mesmo quando o verbo é capacitar! O dia especial para levantamento de ofertas para as casas de formação ministerial no mês de novembro não tem hoje qualquer apelo junto às nossas igrejas, às nossas lideranças, aos nossos corações. Dizemos que os seminários são importantes para a denominação, mas não o demonstramos com nossas afirmações e ações! Tratamos os seminários como empresas que devem dar lucro e se auto-sustentarem. Falta-nos paixão na conjugação do verbo capacitar! Pelo menos falta-nos a mesma paixão com que conjugamos os verbos descobrir e enviar! Como denominação ainda não descobrimos que preparo e envio são duas faces da mesma moeda!
Alguns argumentarão que o problema da nossa pouca paixão pelo verbo capacitar, pela educação teológica, é culpa dos próprios seminários mau gerenciados! Eu perguntaria como reagimos na crise de gestão que se abateu sobre a JMN em 2005, um endividamento acima dos 4 milhões? Parte dessa concepção decorre de uma visão reducionista da crise financeira que se abate há anos sobre os seminários administrados pela CBB. Os três seminários têm uma receita operacional abaixo das despesas. Reduzimos tudo a uma má gestão, mas há pelo menos três fatores responsáveis por essa situação: a) Modelo importado de difícil gestão. O modelo de campus enormes trazido pelos nossos irmãos norte-americanos era baseado no modelo de Richmond, regado a dólares não só para a aquisição de grandes áreas, mas também para o sustento de professores-missionários não remunerados por aqui, além da facilidade de conseguir verbas para cobrir os gap orçamentários. Quando as contas apertavam o Dr. David Mein ligava para os EUA e imediatamente chegavam ofertas dolarizadas para o Seminário do Norte. Os professores hoje são praticamente todos nacionais e devem receber por suas aulas, não há mais a mesma facilidade em receber ofertas de fora. B) Concorrência Interna. A abertura de instituições de ensino teológico (IET) estaduais, associacionais e eclesiásticas trouxe a redução significativa de matrículas para os seminários administrados pela CBB. C) Má Gestão. A competência na área de gestão impõe-se hoje sobre os Seminários administrados pela CBB. Além disso, precisamos responsabilizar os maus gestores por suas más gestões! Precisamos
disponibilizar instituições saudáveis e sustentáveis aos gestores e cobrar deles responsabilidade fiscal e financeira, à luz de sua competência para tal.
Para a missão precisamos de preparação e, se queremos realizar a missão nacional e mundial com egressos dos seminários que tenham um rosto batista não multifacetário e confuso, mas homogêneo, traçado pela visão nacional e não setorizada então os seminários administrados pela CBB precisam receber de nós um melhor tratamento. Penso que precisamos encarar o preparo e o envio como duas faces da mesma moeda.
Se vamos continuar a ter “menina dos olhos” da denominação entre as áreas de atuação, é melhor que esta assembleia delibere estrategicamente em matar e enterrar de vez o resto do corpo, que em alguns casos, está na UTI há muito. Será lamentável, mas pelo menos agiremos coerentemente com a nossa atitude.
Que valorizemos toda a obra denominacional como Deus valoriza, sem “menina dos olhos” entre todo o olho. Que superemos nossa “gagueira” missiológica. Que conjuguemos com toda a força todos os verbos da missão: descobrir, capacitar e enviar.
CONCLUSÃO:
Li que certo general ao encontrar no seu exército um soldado homônimo, mas com sérios problemas morais e de indisciplina decretou: OU MUDA DE ATITUDE OU MUDA DE NOME!
“Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus”.
Que desta assembleia e durante todo este ano saíamos para ser protagonistas de um desenvolvimento sustentável do nosso meio-ambiente.
Que cessemos de desferir fogo amigo em nossa denominação. Que cessemos de atirar em nós mesmos.
Que sejamos mais proféticos e menos políticos.
Que aos pés da cruz reconheçamos, enfrentemos e vençamos os nossos preconceitos raciais, sociais, regionais e de gênero.
Que busquemos resolver os nossos conflitos entre nós e aos pés da cruz e se não formos contemplados em nossas percepções pessoais, que soframos o dano!
Que nos guardemos isentos da corrupção do mundo e sejamos de fato astros no mundo!
Que valorizemos toda a obra denominacional como Deus valoriza, sem “menina dos olhos” no meio de todo o olho, de todo o corpo. Que superemos nossa “gagueira” missiológica. Que conjuguemos com toda a força todos os verbos da missão: descobrir, capacitar e enviar.
Ouçamos a exortação bíblica: 1“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;” Porque, noutro tempo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz 9 (porque o fruto do Espírito está em toda bondade, e justiça, e verdade), 10 aprovando o que é agradável ao Senhor. 11 E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas, antes, condenai-as. 12 Porque o que eles fazem em oculto, até dizê-lo é torpe. 13 Mas todas essas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta. 14 Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. Efésios 5:1, 8-14
A maior contribuição ecológica que podemos fazer é corresponder e superar a ardente expectação da criação: de que nós chamados filhos de Deus pensemos, falemos e ajamos como legítimos filhos de Deus! Que aja coerência de vida com o nome que levamos
* Pastor da Igreja Memorial Batista de Brasília e ex-presidente da Convenção Batista Brasileira
2 comentários:
Para mim, que estive presente, e pude assistir essa mensagem ao vivo, posso dizer que as palavras Me alcançaram de uma maneira especial. Não sou tão experiente em convenção, mas, gostei de ter assistido essa mensagem, vinda do presidente. Pôde falar, livres das amarras da estrutura.
Excelente palavra,profética e desafiante.
Que Deus nos conserve na sua graça.
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