Esporte Clube Bahia versus Jael: o velho conflito entre instituição e individuo
(Jornal A Tarde, 1.2.11, Caderno Esporte Club, página 1)
Jael era atacante do Esporte Clube Bahia e herói da conquista que levou o Club à divisão de elite do futebol brasileiro. Deu um soco no gerente da instituição “por conta de salários atrasados de 2009, além de férias, 13º, três ordenados e premiação pelo acesso, em 2010” , segundo a imprensa.
Em face disso, foi demitido e, nesse contexto, o gestor Paulo Agioni afirmou que “a instituição sempre estará acima de todos os homens”.
Radialistas afirmaram que o problema do E.C. Bahia seria de má gestão. Nada posso dizer sobre o assunto, pois estou distante desta realidade. Posso declarar, porém, que dentre os motivos que contribuem para que qualquer empreendimento fracasse, um deles é a secundarização do ser humano.
Quando isso ocorre, o indivíduo é apenas mais um recurso - daí a expressão “recursos humanos” e não “recursos de humanos” - na máquina organizacional cuja razão de ser geralmente é o aumento do capital dos investidores, seja financeiro, político ou de qualquer outra natureza.
Seria oportuno lembrar - ainda que o propósito não seja julgar, muito menos menosprezar uma pessoa, mas defender uma tese - que a compreensão expressa por Agioni é diametralmente oposta à compreensão do Cristo quando afirmou: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” (Mc. 2.27).
O sábado, no caso, era a instituição e o homem, um paralítico trazido a Jesus para ser curado. Os mestres da lei, representantes da instituição religiosa, criticavam Jesus por curar um homem no sábado, contrariando a interpretação vigente das leis mosaicas. Nesse contexto, Jesus declara, em outras palavras, que as instituições existem em função do ser humano e não o inverso.
As instituições, cuja saúde também precisa ser preservada, são, indiscutivelmente, essenciais ao bem-estar dos indivíduos. Deixam, entretanto, de cumprir essa finalidade quando seus dirigentes as transformam em meio de exploração e até opressão, usando as pessoas apenas como meio, como ferramenta, como objeto em função de interesses nem sempre virtuosos.
Não é este, acredito, o caso dos dirigentes do Bahia em relação ao atleta Jael, mas não tenho dúvidas de que grande parte dos problemas individuais e sociais que enfrentamos têm como raiz uma relação instituição-individuo mal equacionada, quando não invertida.
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