quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Recompondo a liderança da IBG (II)

Em todo grupo humano, o papel dos líderes é essencial. É da visão que eles têm, da sua capacidade de articular crenças, idéias e relacionamentos, da sua competência técnica, que depende os rumos de uma comunidade.


No processo de escolha da liderança, somos expostos à possibilidade de nos orientarmos por critérios equivocados. Até mesmo pessoas experientes estão sujeitas a se equivocarem. Foi o caso de Samuel e Jessé, antes de escolherem Davi (I Sam. 16.6-7,11,13).


Que critérios encontramos nas Escrituras para servirem de norte em nossas escolhas? Eis alguns:


1. Devemos considerar o uso da inteligência


Howard Gardner classifica a inteligência em sete tipos diferentes: lingüística, musical, lógico-matemática, espacial, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Fatores sócio-culturais influenciam numa maior ou menor valorização de um dos tipos, causando prejuízos não somente às pessoas possuidoras de inteligência do tipo menos valorizado, mas também à sociedade que se empobrece quando não reconhece o valor de todas, nem abre espaço para sua expressão social.


Vale salientar que tanto no meio judaico quanto babilônico, para citar exemplos dos tempos bíblicos, a inteligência era valorizada. Vemos isso nas palavras de Jeremias: “Então eu lhes darei governantes conforme a minha vontade, que os dirigirão com sabedoria e com entendimento” (Jer. 3.15), bem como nas do narrador do livro de Daniel: “A esses quatro, Deus deu sabedoria e inteligência para conhecerem todos os aspectos da cultura e da ciência” (Dn. 1.17;5.11,14).


2. Devemos considerar a capacidade de servir como Jesus


É clássica a história da mãe de Tiago e João, que desejava que os filhos ocupassem posições de destaque ao lado de Jesus. A reação dos discípulos, talvez por terem o mesmo desejo mais do que por condenarem o pedido da nobre senhora, também.


Jesus, entretanto, deixa claro que o critério valorizado no Reino de Deus era o serviço e não a disputa pelo prestígio ou poder (Mt. 20.26). Usando a didática da dramatização, ele ensina a importância da humildade para servir, quando lava os pés dos discípulos (Jô. 13.3-14).


Ele agia assim porque não era inseguro quanto a sua autoridade (13.3). Assim como pessoas interiormente pobres fazem uso da aparência de riqueza para se auto-afirmarem num grupo, pessoas inseguras usam o argumento da força, da imposição, em lugar do serviço, no exercício da liderança.


3. Devemos considerar a disposição para ser “lavado” por Jesus


Todos nós cometemos desvios em nossa caminhada de vida. Eles são prejudiciais à saúde tanto do desviado quanto dos que são por ele influenciados. Daí a necessidade de reconhecermos que nos desviamos do projeto de Deus e de admitirmos a necessidade que temos de confiarmos em sua graça para acertarmos o rumo de nossa existência (I Jô 1.8-10).


Pessoas resistentes à ação de Deus em suas vidas, como ocorreu com Pedro, no episódio do lava-pés (Jô. 13.8-9), demonstram dificuldades para admitir seus próprios desvios e são profundamente danosas quando alçadas à posição de liderança. Se, então, forem psicopatas, incapazes de sentir culpa, a crueldade é total.


4. Devemos considerar a sinceridade do amor a Jesus


Após ter negado sua condição de discípulo, Pedro foi confrontado por Jesus com uma dolorosa pergunta: “Tu me amas?”. Pedro responde que sim e Jesus declara: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jô. 21.15-17).


Embora o verbo usado por Jesus e Pedro tenha sido traduzido pelo verbo amar, eles usaram verbos diferentes, no grego. A idéia embutida no verbo grego usado por Jesus era de um tipo de amor capaz de motivar uma pessoa a sacrificar-se por outra. Pedro, agora consciente de que não tinha tal capacidade, respondia usando um verbo que demonstrava o reconhecimento de ser capaz apenas de ser amigo de Jesus.


O interessante, no contexto desta reflexão, é que, conquanto Pedro não fosse capaz de morrer por Jesus, ainda assim foi alçado à condição de liderança. Isso significa que Jesus não exige perfeição de seus líderes. O que ele espera é que sejamos sinceros e humildes para reconhecermos nossas limitações e dispostos a amá-lo, mesmo que apenas como amigo e não mártir.


Finalizando: Inteligência, capacidade de servir, disposição para reconhecer erros dependendo da graça de Deus e sinceridade no amor a Jesus são critérios básicos na avaliação daqueles que ocuparão funções de liderança na caminhada da igreja. Se acertarmos nisso, as chances de sermos bem sucedidos em nossos objetivos aumentam consideravelmente.

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