sábado, 9 de abril de 2011

Marta Suplicy altera texto do PL 122 e libera pregação anti-gay em igrejas e templos


Iniciei oficialmente minha caminhada pastoral há 28 anos. 

O período coincidia com a tomada do poder, na Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, pelos autodenominados conservadores ou denominados pelos adversários como fundamentalistas. Pra mim a segunda expressão tornou-se mais forte porque presenciei a queda de um professor pela pressão do novo "comando mundial" dos batistas. 

(Trago viva em minha mente a reunião na sala do reitor, quando, sentados no chão pela falta de espaço, David Mein explicava pacientemente porque tomou a decisão de demitir o professor. Depois veio a queda do segundo, quando David Mein já havia saído. E entre eles, a derrubada do novo diretor do Seminário, pelos alunos, quando eu já trabalhava em Maceió) 

Foram anos de histórias tristes, no mérito das quais não entro aqui, mas estou mencionando para informar que neste período iniciava-se, dentre outras, uma mudança de concepção hermenêutica que não era novidade, mas que até então não prevalecia: Jesus deixou de ser a chave hermenêutica dos batistas para interpretação da Bíblia e a expressão "a Bíblia interpreta a própria Bíblia" se popularizou trazendo danos ainda imensuráveis à vida de pessoas e instituições. 

Mantendo as convicções tradicionais dos batistas, até aqui não abri mão de *Jesus como chave hermenêutica de interpretação. 

O que isso tem a ver com o assunto do tópico? É simples: inspiro-me no ministério de Jesus para definir a linha teológico-ministerial que adoto. E quanto mais leio e releio a vida e ensinos de Jesus, nos evangelhos, mais me convenço de que os arquiinimigos de Jesus não foram os pecadores (segundo a definição popular da palavra pecado), mas a religião institucionalizada. Confira nos evangelhos com quem foram os principais embates de Jesus, pra não dizer todos. Foram com líderes fariseus. 

Fundamentado nesse pressuposto, decidi que "púlpito" por mim ocupado não seria usado para atacar manifestações específicas de minorias relativas ao estado de separação no qual a humanidade se encontra (pecado, teologicamente, é quebra de comunhão, diferente de eticamente que é quebra de código de ética). Antes, se não pudesse anunciar o amor que restaura primeiramente a comunhão da pessoa com Deus e, só depois, como consequência, mudanças em nossos relacionamentos com pessoas, coisas e meio ambiente, ficaria em silêncio. 

Nesses 28 anos nunca senti necessidade do discurso fundamentalista, ainda que, certamente, ele também possa ser identificado em meus discursos, afinal, todos somos pecadores. Optei por colocar o acento da minha pregação no caminho da resturação da comunhão com Deus e, ao mencionar sinais da separação, cuido para não deixar que a cultura - responsável pela escolha de algumas manifestações da separação em detrimento de outras - prevaleça, transformando algumas manifestações da ausência de comunhão em "bodes expiatórios". 

Transformando toda essa prolixidade em uma frase: não aderi, não adiro, nem pretendo aderir ao discurso anti gay como bandeira política de pregação. 

Respeito aos que optaram por esse caminho - de combate a gays e outros - e luto para que eles respeitem o escolhido por mim.


 .....
Talvez você goste de ler algo mais que penso sobre sexualidade:
1. Sexualidade, a terceira alternativa
2. "Despertar" o que?
3. A educação sexual dos pastores
4. Sexo não é água

5 comentários:

Hélio Pariz 9 de abril de 2011 às 10:37  

Caro Pr. Edvar,

Parabéns pelo texto corajoso, confessional e cristocêntrico, discurso que reflete a sua prática de vida e que, tanto em retórica como práxis, está em falta não só entre os batistas mas no meio evangélico brasileiro como um todo. A sua tomada de posição pró-mensagem da cruz e anti-bodes expiatórios de ocasião é um marco raro na blogosfera, pelo que tomo a liberdade de pedir a sua autorização para reproduzi-la no meu blog, dando-lhe o devido crédito, obviamente.

Que a graça, o amor e a paz do Nosso Senhor Jesus Cristo nos cubram e nos enviem sempre!

Abraços!

Alfrêdo Oliveira 9 de abril de 2011 às 15:42  

Pastor Edvar, como sempre, gosto de ler seus textos pela inteligência e coerência com sua caminhada.

Compartilho da idéia de que a nossa atuação pastoral deve ter ênfase na restauração das pessoas, no reestabelecimento da comunhão com Deus e com o próximo.

Grande abraço,

Prof. Valdinei 9 de abril de 2011 às 17:49  

Meu querido irmão,foi de extrema relevância o artigo do irmão, confesso que me ensinou muito,afinal serviu para rever algumas posições que tenho tomado, tenho procurado crescer na graça e no conhecimento e o irmão muito tem me ajudado.
Obrigado.
Pr. Valdinei

Escrevinhando 12 de abril de 2011 às 17:08  

Querido colega Edvar,
Comecei na labuta pastoral mais recentemente - ainda não alcancei os 28 anos. Mas cheguei a presenciar alguns dos momentos não tão gloriosos em nossa Casa de Profetas. E assim fomos forjando nossa visão pastoral. Gosto de levar como lema tanto a restauração de Pedro em Jo 21 - "Tu me amas, então cuida dos meus cordeiros". Com o exortação apostólica em 2Tm 4 - "Prega a Palavra".
Se entendi bem suas colocações, e creio que entendi por que concordo com elas, seu modelo de ministério está alinhado com o que procuro fazer.
Assim, querido, saiba que há companheiros na caminhada. Aqui em Aracaju com certeza há mais um.
Que o Senhor o fortifique na continuidade desta jornada.
Um abraço

Cristão 24 de abril de 2011 às 18:41  

Caro pastor, muito legal esse seu discurso politicamente correto.

Mas faço uma pergunta: Se um homossexual lhe perguntar se a homossexualidade é pecado, o que vc responderia?

A Biblia fala sobre o amor, mas também fala pra pregar contra o pecado, e pregar o arrependimento e o novo nascimento. Você prega isso na sua igreja?

Esse discurso seu me parece uma covardia, para parecer politicamente correto e não arrumar briga com o movimento Gay.

Acho que na sua igreja não se prega contra o pecado. Pois se não se pode pregar contra a homossexualidade, então também não se pode pregar contra o divórcio, assassinato, roubo, etc.