sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sexualidade, a terceira alternativa (2001)

“A liberação não é a única, nem a melhor alternativa à repressão”.
(Examinai tudo, OJB, nº 29 de 16 a 22 de julho de 2001 )


São raras as pessoas que tratam com desenvoltura o tema sexualidade e eu não sou uma delas. Sou de uma geração que pouco ouvia sobre o assunto, exceto para se inculcar como pecado o simples "pensar naquilo". E do pouco que se ouvia, o discurso era que as inclinações da carne - entendidas, para boa parte dos pastores, como sinônimo exclusivo de desejos sexuais - eram pecaminosas.

Mas não podemos tapar o sol com a peneira. Basta olhar para o passado para constatar que a forma como o assunto foi tratado ao longo da história não foi eficaz em seus propósitos. A quantidade de casamentos desfeitos, de casais infelizes e de crentes, inclusive pastores e esposas, com neuroses oriundas da maneira como lidam com a sua sexualidade é incalculável e persistem a despeito dos nossos discursos romanticamente moralistas. Isso sem contar os efeitos nocivos que alguns deslizes sexuais provocam na vida de terceiros e da sociedade. Exemplos? as preocupações mundiais que o batista Bill Clinton, ex-presidente da mais rica potência do planeta, provocou com suas aventuras sexuais na Casablanca ou os prejuízos que as aventuras sexuais do pastor fulano de tal (você certamente tem pelo menos um nome em mente para substituir o “fulano de tal”!) trouxeram à família, à igreja e à denominação que servia com tanta sinceridade e dedicação.

A repressão ao desejo tem sido o caminho mais indicado nas poucas vezes em que o assunto é tratado, sendo a demonização do sexo, sua expressão maior. Para alguns, o desejo sexual deve ser encarado como de origem demoníaca e, por isso, deve ser exorcizado com jejum e oração. Em vez de encararem os sentimentos sexuais como inerentes à constituição bio-psíquica humana para, a partir daí, canalizá-los construtivamente, bloqueia-se o canal do diálogo, mais por insegurança emocional do que cognitiva. O alerta para os perigos do sexo é tão extremista que, mesmo sabendo tratar-se de obra divina, o melhor é ficar bem longe dele. Reprimir sexualmente parece ser o caminho mais curto quando o pregador quer jogar o ouvinte na lama da culpa para depois convocá-lo a uma mudança, geralmente ineficaz, por mais sincero que seja o "Arrependido".

Em posição oposta estão os que defendem a liberação. Existem em minoria e poucos mostram a cara por, digamos, conveniência política. Para estes, a necessidade sexual deve ser encarada da mesma forma como a necessidade de beber água. Se você está a fim, basta encontrar alguém que satisfaça suas necessidades e pronto. É só não esquecer a camisinha. Mas as coisas não são tão simples assim. Sexo não é água, nem corpos, copos descartáveis. Pessoas sentem, pensam, se apegam, se amam, reagem e interagem; têm passado, presente e futuro; têm história; têm família, amigos e colegas; sonham em ser amadas, detestam ser usadas. Além disso, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada causam transtornos e mudam o rumo da vida dos envolvidos e dos que os cercam.

Se a repressão e a liberação são igualmente prejudiciais, qual seria a terceira alternativa? A alternativa é abrir-se ao diálogo franco e conscientizador, começando na própria família. Abrir-se ao diálogo é procurar sentir e entender os dilemas do interlocutor; é admitir, honestamente, que todos estamos sujeitos a enfrentar situações cuja dificuldade de lidar com a sexualidade é real; é não apresentar-se com um anjo que, por ser assexuado, não enfrenta dificuldades na área; é não Ter medo de admitir as próprias fragilidades. Para nós pastores, essa é uma alternativa indecorosa, afinal, não pecamos nem estamos sujeitos a conflitos no campo da sexualidade... Isso é problema de adolescentes, jovens e uma meia dúzia de adultos mal resolvidos...

Esta na hora de revermos nossas posições, de pararmos de ditar normas, como se fôssemos deuses, para dialogar, para ouvir e se deixar ouvir sem um púlpito e uma gravata entre nós e o povo. Está na hora de reavaliarmos algumas questões. Por exemplo: a eficácia da repressão ou da liberação sexual a partir de dados; a função sexual, em termos de reprodução, intercâmbio de afeto e de prazer; a questão cultural e sua influência no trato do assunto; o uso da Bíblia como ponto de partida para uma orientação saudável e não ferramenta de manutenção de costumes sociais oriundos de contextos diferentes ou ponto de chegada fundamentalista; a avaliação crítica do pensamento daqueles que fazem da sexualidade seu nicho de atuação ministerial em face de interesses e motivações questionáveis; o convencimento de que conversar abertamente sobre sentimentos sexuais é tão saudável e necessário para os casais quanto a própria pratica sexual; o interesse dos pais pelo desenvolvimento sexual de seus filhos especialmente quando em fase de namoro, muito mais com ajudadores do que como legisladores ou juizes; o mito de que casar-se é solução para todos os casos de abrasamento sexual e que pessoas casadas estão livres de se sentirem atraídas por terceiros; o mito de que o conhecimento acadêmico do assunto torna a pessoa mais preparada para lidar com a sexualidade, desconsiderando as emoções, a matriz da personalidade e sua história de vida; o papel do afeto nos relacionamentos familiares e na construção de uma sexualidade saudável.

Está na hora de abandonarmos o simplismo, de sermos mais realistas e de dobrarmos mais nossos joelhos em oração, não para fugir do assunto ou mistificá-lo, mas para buscar sabedoria divina e preparo mais adequado aos clamores dos nossos dias.

1 comentários:

Anônimo 21 de abril de 2011 às 20:03  

Pastor Edvar,
Queira Deus que você seja em carne e osso o que é nos seus escritos: maduro, pastor necessário, pastor de almas (não apenas de espíritos), gente boa de Deus.
Que maravilha e que ideal ter um líder espiritual que não se vale de um púlpito e de uma gravata para fazer barreiras de distanciamento das ovelhas pelas quais Jesus deu Sua vida!
Deus te abençoe com toda sorte de bênção.
Recomendações à Gláucia.