terça-feira, 24 de maio de 2016

Perdi um amigo


Perdi um amigo. Na verdade não sei se perdi. Na verdade, já nem sei se poderia dizer que era amigo. Talvez eu o tivesse por amigo, mas a recíproca não fosse verdadeira.

O fato é que a relação era antiga e as lembranças eram boas. Mas daí veio o facebook onde o diálogo não acontece entre duas pessoas, mas dois textos; onde o diálogo não acontece entre dois rostos, mas duas fotos; onde o diálogo se estabelece como bate-dedos e não bate-papos; onde o diálogo não provoca testa franzida, beiço pra frente, pois o rosto está sempre sorrindo; onde o argumento conta mais do que a relação; onde, portanto, o "tom da voz" não é calibrado pela reação corporal do outro...

E se não bastasse a intermediação do Facebook, vieram as eleições. Históricamente lutamos pelos candidatos do mesmo partido, mas então decidi que, pelo fato do partido ter se distanciado de alguns importantes ideais meus, de não concordar com a política administrativa que, a meu ver, geraria instabilidade financeira, de não..., desoPTei em relação ao cargo máximo.

Assim, meu suposto amigo esqueceu-se de nossas histórias, de nossa fé comum, de nossas cumplicidades em momentos adversos, enfim, e, talvez, por acreditar que a política fosse a única e suprema dimensão da vida, decidiu me deletar. Sem aviso prévio e sem indenização.

Minha primeira reação foi propor um diálogo, mas pensei comigo: bobagem, você o tinha como amigo, mas a recíproca talvez não fosse verdadeira. Talvez, pra ele, você fosse visto como um aliado, um networker, um contato útil, enfim. Até porque amizades tem mais a ver com empatia do que com intelecto, tem mais a ver com sentimentos do que com razão, tem mais a ver com convivência do que concordância, tem mais a ver com troca do que com imposição...

Então deixei pra lá. Resignei-me. Fui deletado. Perdi um amigo.

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