Agindo dentro dos limites
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Um detalhe curioso, porém de grande importância, passa despercebido na leitura que fazemos da narrativa bíblica sobre José do Egito. Trata-se da palavra que ele diz à mulher de Potifar e da que Faraó diz a ele, por ocasião de sua posse como governador do Egito. Ei-las:
“Ninguém desta casa está acima de mim. Ele nada me negou, A NÃO SER A SENHORA, porque é a mulher dele. “ (Palavras de José à esposa de Potifar, em Gen. 39.9)
“Você terá o comando de meu palácio, e todo o meu povo se sujeitará às suas ordens. SOMENTE EM RELAÇÃO AO TRONO serei maior que você” (Palavras de Faraó a José, em Gen. 41.40)
Não acredito que Potifar, ao dar instruções e autoridade a José, precisou dizer que sua mulher não fazia parte do pacote. Prefiro crer que José não cedeu ao assédio da mulher do capitão por ser pessoa íntegra, ter consciência dos seus limites e ser disciplinado o suficiente para não ir além do que deveria.
Certamente José não tinha consciência, mas tal postura retratava, em miniatura, uma qualidade essencial em grandes líderes: ter consciência dos próprios limites e saber respeitá-los. Somente pessoas com espírito ditatorial acreditam que podem tudo. Daí sua dificuldade em participar de grupos nos quais os poderes são distribuídos e limites estabelecidos.
Penso que não foi difícil para José entender o recado de Faraó quando disse: “Somente em relação ao trono serei maior que você”. José sabia o que era ter limites e agir dentro deles. Sendo um igual em milhões de humano, sabia que nem sempre teria a última palavra. Sabia que seu limite terminaria quando começasse o de Faraó, da mesma forma que demonstrou saber seus limites por ocasião do assédio sexual, em relação aos limites de Potifar. Nesse quesito, portanto, estava preparado para liderar.
Não podemos tudo, nem somos responsáveis por tudo. Se quem trabalha comigo não está cumprindo bem suas atribuições, posso ajudar, se perceber abertura para tal, mas, jamais, querer gerenciar aquilo que não é da minha competência política, ainda que me sinta tecnicamente competente a fazê-lo.
Quando não nos é explicitado o que nos cabe fazer, usar o juízo faz bem. Quando sabemos quais são nossas atribuições, agir prudentemente dentro dos limites delas é melhor ainda.
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