Moralidade seletiva (A propósito das repercussões de mostras de museus em POA e SP)
Respeito o direito daqueles que estão protestando contra algumas expressões "artísticas" apresentadas recentemente em museus de Porto Alegre e São Paulo.
Também não se afinam - tais expressões - ao meu gosto estético.
Também tenho minhas dúvidas quanto a teleologia pedagógica e sua ideologia ética.
Também exige a ativação de neurônios bem acima dos que possuo para desencadear minha capacidade de abstração e de reflexão filosófica.
Sinto-me um analfabeto artístico frente ao nível de abstração dos que conseguem apreciar tais expressões.
Sem trocadilhos, sinto-me mais pro garoto que gritou: "o rei está nu", do que para os súditos que paparicavam: "bela camisa, fernandinho".
Mas, como já dizia minha avó, "uns gostam dos olhos; outros, da ramela". O que seria de nós se não fosse assim?
Fico, entretanto, observando as manifestações de protesto, especialmente de pessoas, igrejas e pastores com os quais mantenho vínculos afetivos e organizacionais e meus botões cerebrais são automaticamente acionados exigindo de mim respostas.
Por exemplo: 1) por que tanto reagimos se tão avesso somos a artes em nossas igrejas ou pouco investimos nelas? 2) Por que reagimos apenas em relação à moral e silenciamos sobre ética? 3) Por que a moral sexual provoca reação e as morais econômica, política, religiosa e ecológica, por exemplo, não nos sensibilizam e silenciamos sobre elas em nossos púlpitos? 4) Seria, nosso silêncio, por traumas psicológicos, medo político ou pobreza intelectual?
Responda-me: O que causa mais dano às famílias brasileiras? Uma exposição de arte na qual meia dúzia de quem tem um pouco mais de dinheiro e teve acesso à escolaridade bem acima da média pode ver ou taxas de juros extorsivas que empobrecem os já pobres tirando das famílias o acesso à saúde, segurança, educação ou ao transporte? Uma exposição de arte ou leis injustas que aumentam as desigualdades sociais, provocando violência desenfreiada?
Estava pensando no seguinte, em termos bíblicos, como nossa moralidade é seletiva:
1. Quem silencia deve gostar da imoralidade dos juros de 400% aa no Brasil, a despeito do que nos declara este Salmo: “Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte? Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo; que de coração fala a verdade e não usa a língua para difamar; que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo; que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor; que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado; que não empresta o seu dinheiro visando a algum lucro nem aceita suborno contra o inocente. Quem assim procede nunca será abalado!” (Salmos 15:1-5)
2. Quem silencia deve gostar da imoralidade do fato de 6 brasileiros acumularem fortuna (herança) igual a de 100 milhões (CEM MILHÕES) de conterrâneos seus, a despeito do que nos disse Jesus: ““Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.” (Mateus 6:19-21)
3. Quem silencia deve gostar da imoralidade do tratamento dado a imigrantes refugiados em muitos países ricos do planeta, a despeito do que nos diz as Escrituras: “Pois o Senhor, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno. Ele defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa. Amem os estrangeiros, pois vocês mesmos foram estrangeiros no Egito.” (Deuteronômio 10:17-19)
4. Quem silencia deve gostar da imoralidade de ítens, especialmente da discriminação desfavorável aos empobrecidos, das reformas trabalhista e previdenciária ou mesmo do REFIS que está sendo aprovado no Congresso, a despeito do que diz o profeta: “Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores, para privar os pobres dos seus direitos e da justiça os oprimidos do meu povo, fazendo das viúvas sua presa e roubando dos órfãos!" (Isaías 10:1-2)
É triste constatar essa moralidade seletiva, de quem se esgoela diante da moral sexual e silencia, quando não se delicia, diante da imoralidade política, econômica, religiosa ou ecológica, por exemplo, que estão sendo estampadas diariamente nas páginas dos jornais.
0 comentários:
Postar um comentário