sábado, 27 de junho de 2009

Michael Jackson morre, José Sarney descansa


Posso estar enganado e gostaria de estar, mas tenho a impressão de que a morte de Michael Jackson está servindo de alento para José Sarney. Antes, porém, de dizer o porquê, comentarei a morte do astro pop.



Dificilmente alguém da nossa geração diria não ter gostado de pelo menos uma música de Jackson. Até mesmo o mais ignorante evangélico, daqueles que chamam música popular de “música do mundo”, em algum momento de sua história de vida, se sensibilizou com alguma de suas composições. Talvez não saiba identificar pelo título, por ser em inglês, mas certamente admitirá que, em algum momento, prestou atenção em uma delas.



Jackson foi tão pecador quanto você e eu. Fez coisas que não agradavam a Deus, como você e eu. Desagradou muita gente, como você e eu. A diferença é que a mídia não sabe que você eu existimos. Já ele, bastava dar um espirro para virar notícia. Nossos pecados podem ter se manifestado de maneira diferente, mas os dele eram maximizados em níveis proporcionais à sua fama e riqueza.



Jackson se interessava pelas coisas espirituais. Já se disse que foi Testemunha de Jeová e, ultimamente, seguiria o islamismo. Não recebi nenhuma procuração de Deus para julgar os pecados dele, muito menos para manifestar-me sobre o destino de sua alma. Por isso, prefiro destacar a contribuição que deu, por exemplo, ao combate à pobreza.


Não me refiro às doações financeiras, mas, por exemplo, à influência que a música We are the world exerceu sobre a vida de milhões de pessoas, no sentido de perceberem seu papel social no mundo. Veja a letra:







“Chega um momento, quando ouvimos uma certa chamada
Quando o mundo tem que vir junto como um só
Há pessoas morrendo
E está na hora de dar uma mão à vida
O maior presente de todos


Nós não podemos continuar fingindo todos os dias
Que alguém, em algum lugar irá mudar
Todos nós somos parte da grande família de Deus
É a verdade
Você sabe que o amor é tudo que nós precisamos

Refrão:
Nós somos o mundo, nós somos as crianças
Nós que fazemos um dia mais brilhante
Assim comecemos nos dedicando
Há uma escolha que nós estamos fazendo
Nós estamos salvando nossas próprias vidas
É verdade que nós faremos um dia melhor, só você e eu

Lhes envie seu coração assim eles saberão que alguém se preocupa
E as vidas deles serão mais fortes e independentes
Como Deus nos mostrou transformando pedras em pão
E por isso todos nós temos que dar uma mão amiga



Quando você está acabado, e não aparece nenhuma esperança
Mas se você acredita que não há nenhum modo que nos faça cair
Nos deixa perceber que uma mudança só pode vir
Quando nós nos levantamos junto como um só.”
(letras.mus.br)


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Há os que dizem que ele era um símbolo do capitalismo; que foi acusado de pedofilia; que era emocionalmente desajustado; que era excêntrico; que renegou sua cor original e milhares de outras acusações. Poderão até fazer uma “exegese” da letra dessa música e discordar da teologia nela veiculada. Bem cada um diz o que quer. Eu, entretanto, talvez por ter consciência de um bocado de pecados que tenho cometido ao longo da minha trajetória, dos desajustes que tenho tentado corrigir sem muito sucesso e de como teologia é algo mais complicado do que admitimos, digo, com toda honestidade, que me sinto sem autoridade para acusá-lo.



Creio que refletir humildemente sobre sua vida é legítimo, afinal, ele tornou-se referência para milhões de pessoas. Lembro-me de que, acompanhando a trajetória musical do meu filho – hoje estudante de música na Dinamarca –, preocupei-me com sua fase “Michael Jackson”, na pré-adolescência. Para ajudá-lo a perceber que se tratava de ser humano e não “deus” e que deveria ter um olhar crítico sobre o “ídolo”, certa vez perguntei-lhe, brincando, se ele já havia pensado no astro pop soltando pum ou fazendo cocô. Ele parou, pensou e disse: nunca havia pensado nisso. Rimos juntos e ele continuou ouvindo suas músicas até a fase passar.



Bem, Michael Jackson morreu, a notícia está dominando o noticiário e José Sarney, como disse no início, está tendo seu imerecido descanso. Gostaria muito de que a mídia retornasse com ímpeto às travessuras dos nossos ilustres senadores. Muitas de suas decisões e escolhas têm causado malefício maior à nossa gente do que Michael Jackson com suas músicas. Mas, não tenho certeza. Temo que a mídia encontre outros “produtos’ que atraiam o interesse do povo, como a morte de Jackson, e o descanso de Sarney continue, para a infelicidade de milhões de brasileiros.

3 comentários:

Anônimo 28 de junho de 2009 às 12:32  

Prezado Edvar,
Assino em baixo tudo que você escreveu neste texto.
Uma de suas observações que me chamou a atenção foi sobre a crítica de muitos a MJ: "que renegou sua cor original". E eu me lembrei imediatamente de milhões que renegam o formato original do seu corpo e tentam "corrigir" com plásticas" (Não me refiro a casos de saúde). Sem falar sobre outras renegações nossas do dia-a-dia. E então eu pensei o óbvio: Como somos hipócritas em nossas críticas aos outros.
Muito pertinente sua observação sobre "seu" Sarney.
Saúde para você.

Anônimo 28 de junho de 2009 às 21:16  

Caro Pr. Edvar,
Mais uma vez, lúcido e coerente em seus comentários. Sempre aprendo com seus textos. Vc continua me pastoreando. Obrigado, Éveron.

Waldir 29 de junho de 2009 às 23:12  

Edvar, sua pena, mais que afiada, nos desafia à uma leitura mais lúcida e cristã dos fatos que nos afrontam.
Acho que Sarney não vai dormir com esse barulho...

Grande abraço,
Waldir