sexta-feira, 12 de junho de 2009

Missão cumprida

"Samuel disse a todo o Israel:
'Atendi tudo o que vocês me pediram e estabeleci um rei para vocês. Agora vocês tem um rei que os governará. Quanto a mim, estou velho e de cabelos brancos, e meus filhos estão aqui com vocês. Tenho vivido diante de vocês desde a minha juventude até agora.
Aqui estou. Se tomei um boi ou um jumento de alguém, ou se explorei ou oprimi alguém, ou se das mãos de alguém aceitei suborno, fechando os olhos para a sua culpa, testemunhem contra mim na presença do Senhor, e do seu ungido. Se alguma dessas coisas pratiquei, eu farei restituição'.
E responderam: 'Tu não nos exploraste, nem nos oprimiste. Tu não tiraste coisa alguma das mãos de ninguém'.
Samuel lhes disse: 'O Senhor é testemunha diante de vocês, como também o seu ungido é hoje testemunha de que vocês não encontraram culpa alguma em minhas mãos'.
E disseram: 'Ele é testemunha' " (I Samuel 12.1-5)
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Acho esse texto muito bonito, mas quem conhece a história sabe que nem tudo foi fácil. O poder político era da religião e Samuel o tinha em suas mãos. Ter um Rei seria um primeiro passo para descentralização do poder. Samuel coordenou o processo de transição, porém não o fez por convicção própria, mas porque o povo pedia.

Pedia, me parece eufemismo. Se o redator fosse eu talvez escrevesse: já que insistiram, eis aí o VOSSO rei, enfatizando o “vosso”.

Política pública à parte, gosto do reconhecimento de Samuel de que já estava velho. Ter consciência das próprias condições não é pra todos, especialmente quando comparadas com as necessidades da função que se exerce. Como dizem, saber começar é mais fácil do que saber terminar.

Mais do que isso, na transição do poder, Samuel abre-se para prestação de contas. Eis outra qualidade que vai se tornando rara, por iniciativa de nós líderes. Prova disso é que transparência na adminitração pública brasileira, agora é imposição legal.
Geralmente, a prestação de contas ocorre sob pressão e de forma opaca. Transparência, isto é, prestar contas pensando em facilitar a compreensão e domínio dos dados, das informações, tem sido um pesadelo para muitos de nós. (Alguém tem acesso à prestação de contas de algum pastor televisivo que vive nos pedindo dinheiro para sustentar a visão que “Deus” lhe deu? Billy Graham é uma raríssima exceção)

Samuel, entretanto, lembra as pessoas de que desde a juventude está diante delas. E mais: seus filhos também estão com elas. Sua vida toda e de seus filhos estava disponível para ser avaliada.
Tal postura, além de ser uma abertura para avaliação, serve também de referência para o novo rei. É como se Samuel dissesse: Saul, eu sempre fui honesto, por isso fiquei tanto tempo à frente do povo e gozo do seu respeito. Preste atenção neste detalhe!

Interessante, finalmente, é observar que a prestação de contas de Samuel enfatizava o aspecto social. Tomar, explorar, oprimir, aceitar suborno e fechar os olhos são palavras relacionadas ao mundo dos relacionamentos sociais e, geralmente, associadas a líderes cuja ética evidencia distanciamento de Deus. Prova disso é que o povo declara a idoneidade dele e ele aponta o rei e Deus como testemunhas da afirmação feita.

Penso que Samuel, pelo menos por razões éticas, podia colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. E o melhor: sem Lexotan, Valeriana, Rivotril ou Maracujina.
Sua missão estava cumprida.

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