Você é o missionário
Nesse início de madrugada de sábado fui dormir pensando em Willam Carey, o pai das missões modernas. Assistir o filme, neste momento em que tenho refletido devocionalmente na vida missionária de Epafrodito (Fil 2:25-30) me fez sonhar e sair cedo da cama em meio ao frio deste início de maio para refletir e orar.
Carey era sapateiro e teve uma visão. Visão é uma experiência mística não necessáriamente desvinculada do natural. É mística porque brota com força, dentro de nós; nos domina de maneira incontrolável; exige ser elaborada e traduzida numa linguagem; é compartilhada; submete-se aos exigentes crivos de terceiros e vai se tornando realidade na medida em que damos passos concretos em direção a sua realização.
Visão não é uma receita, mas um script, um roteiro. Carey deixou a Inglaterra para pregar o evangelho. Em sua visão ele se via literalmente pregando. Para ele isso significava, inicialmente, parar diante de pessoas, abrir a Bíblia, discursar um plano sistematizado de salvação e esperar pessoas respondendo favoravelmente aos desafios da Palavra por ele expostos.
Essa porém era uma receita, um modelo, um paradigma que ele carregou consigo. Mas, ao deparar-se com a realidade, a receita não produziu os efeitos imaginados. O ser humano era humano, mas a India não era a Inglaterra, as pessoas não eram as mesmas, a cultura não era a mesma, os desafios não eram os mesmos.
Ele tinha uma visão porque era sensível a voz de Deus falando ao seu coração. Essa sensibilidade possibilitou que ele enxergasse as reais necessidades do povo e agisse de maneira flexivel. Em vez de insistir no velho receituário que permeava sua mente quando do recebimento da visão, ele foi capaz de reelaborar a missão, ajustar a visão, sem perder o foco que era levar ao povo o conhecimento do plano de Deus e as implicações disso - inclusive horizontais - a partir do aqui e agora.
Perdeu filho, perdeu a esposa e, se julgássemos sua história usando valores da nossa cultura (diga-se de passagem um erro técnico, pois história se julga com os valores da época na qual se desenrolou), poderia se dizer que era um louco que sacrificou a família por uma visão.
Porém, em meio a erros e acertos, o fato é que sua vida fez diferença em uma cultura bonita que, como todas, era composta também por elementos nocivos à vida, à humanidade.
O Deus que moveu o coração de Carey continua movendo corações em nossos dias. Seja aqui onde estamos, seja ali ou acolá, o fato é que a humanidade enfrenta desafios próprios de sua época e lugar e é essencial que haja pessoas com visão e senso de missão para interferir e ajudar na construção de novos rumos.
Sim, precisamos de missionários. Não de marionetes a serviço de instituições ideologizadas politicamente que se submetem a interesses corporativos, empresariais, alheios à sua realidade, às suas necessidades. Não de missionários ventriloquos fiéis a discursos elaborados por quem oprime e explora o semelhante.
Precisamos de missionários que tenham visão de seres humanos livres e autônomos que acreditam na cooperação mútua e não na dominação de uns sobre outros. Missionários capazes de ler a realidade que o cerca e até de trilhar por caminhos não percorridos, movidos pelo desejo de ver, em Cristo, uma nova e positiva realidade brotar para o bem comum e não só de alguns, inspirada na pessoa de Jesus de Nazaré.
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