sábado, 21 de julho de 2012

Instituições que trabalham com crianças - 21.07.12 - 90/100 dias de oração pelo Brasil

Há quem defenda que não seja papel da igreja trabalhar com crianças empobrecidas ou em situação de risco. Defendem que cabe ao Estado cuidar das questões sócio-economicas do país. À igreja, dizem, cabe o papel de cuidar das almas (no sentído medieval da palavra, não psicológico ou mesmo bíblico-teológico). A igreja, dizem, deve cuidar do futuro, impedindo que pessoas vão morar no inferno, trabalhando para que aceitem ir morar no céu.

Este tipo de compreensão é fruto muito mais de alinhamento político-ideologico com o poder político e econômico do que reflexão sobre a vida e ensinos de Jesus. Além disso, coloca seus defensores na mesma condição do sacerdote e do levita, da Parábola do Bom Samaritano.


Entendo que, em primeiro lugar, compete aos
pais trabalharem para que seus filhos tenham boas condições de vida. A responsabilidade número um, portanto, é dos pais. Entretanto, os pais não vivem numa ilha. Suas vidas são fruto de todo um contexto sócio-cultural. A educação e condições de vida que receberam e a cosmovisão de mundo que desenvolveram se deram num contexto em que há pessoas de todo tipo. Pelo fato de ser característico do ser humano, a luta pelo poder sobre o outro, a defesa de interesses particulares em detrimento dos públicos, a competição sem ética, sempre haverá quem acumule muito (dinheiro e poder) e quem fique sem nada. O desequilíbrio social torna-se realidade, se não houver elemento atento e regulador.

Nesse contexto, além dos pais nem sempre conseguirem dar o que não lhes foi dado, há também circunstâncias de vida que tornam desfavoráveis a estabilidade familiar. Uma enfermidade, um desemprego, um acidente, enfim, uma série de fatores contribue para que famílias estejam sujeitas a problemas e nem sempre consigam recuperar a condição de oferecer aos filhos o que eles necessitam.


Cabe então, ao
Estado, criar ambiente favorável à vida  de todos os cidadãos, especialmente das crianças. Ele deve adotar políticas que favoreçam o equilíbrio das famílias e assim elas possam cuidar bem de seus filhos, de nossas crianças.

Só é aceitável o Estado criar instituições e designar recursos para ajudar crianças em situações excepcionais. Via-de- regra, ele deve oferecer à família, condições favoráveis ao seu desenvolvimento, a fim de que ela não precise receber esmolas do Estado. Quando, entretanto, o desequilíbrio está estabelecido, como é o caso do nosso pais, é óbvio que o Estado precisa intervir visando recuperar as condições necessárias ao desenvolvimento autônomo de cada família. Que caminho técnico usar é o X da questão. Daí as diferenças ideológicas nos modelos econômicos que cada país adota.


Onde as
igrejas entram nisso?  As igrejas, atentas à realidade que as cerca, não podem passar de fininho como se nada estivesse acontecendo. Há um problema social com nossas crianças, ou seja, a quantidade de problemas está acima do nível considerável aceitável e o Estado não está dando conta de sua parte, seja porque razões forem.

Nesse caso, não só a igreja, mas todas as pessoas e instituições devem se mobilizar. Mobilizar-se através de atuação política mais contundente, visando otimizar a administração da coisa pública e do uso dos recursos disponíveis; trabalhar para reduzir a probabilidade de corrupção e estender as mãos - ofercendo assistência e educação - aos que são vítimas de um sistema social que não oferece condições para que o cidadão tenha acesso a educação, saúde, transporte, habitação, renda, etc..


As igrejas podem, então, fazer um bom papel, dando o peixe nos casos de emergência; ensinando a pescar, nos casos em que a integridade da pessoa não está em risco e conscientizar sobre as causas dos rios não estarem produzindo peixe em quantidade suficiente ou de alguns conseguirem mais peixes do que outros.


Vibro cada vez que vejo uma igreja fazendo algo pelas crianças. Cada uma deve encontrar sua forma de cooperar, dentro dos recursos financeiros, humanos, estruturais que dispuser. O que não podemos é ficar dando ouvido a uma teologia alienante, cujos defensores transformam igrejas apenas em nicho para vender seus livros e suas conferências "teológicas", a pretexto de fidelidade à palavra de Deus.


Fidelidade à palavra de Deus é amar ao próximo como a si mesmo, é não deixar que seja feito com as crianças dos outros aquilo que não gostaríamos que fosse feito com nossas crianças.


Abraços do seu pastor,

2 comentários:

Matheus 12 de agosto de 2012 às 21:23  

Ótima iniciativa!!

Matheus 12 de agosto de 2012 às 21:25  

Parabéns pela matéria e pelo blog!