domingo, 10 de maio de 2009

Casamento: o princípio da humildade

Eis outro princípio essencial à boa convivência conjugal. Se recebesse a devida atenção em nossas vidas, o tema submissão unilateral da mulher desapareceria dos debates. Homens humildes não defenderiam com unhas e dentes a manutenção da submissão de suas esposas. Esposas humildes de homens humildes, não necessitariam clamar por justiça na relação por se sentirem subjugadas.

Mas não somente nisso o casamento seria beneficiado.

Dizem que humildade vem do Latim "humus" cujo significado seria "filhos da terra". A narrativa poética do Gênesis declara: "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra...". (Gen. 2.7). O pregador declara: "...todos são pó, e todos ao pó tornarão" (Ecl. 3.20). Ser humilde, então, seria encarar a mais pura realidade: somos pó.

Em outras palavras, podemos dizer que ser humilde é ter os pés no chão, encarando a realidade tal como ela é, em vez de viver num mundo de mentiras e fantasias. Ser humilde é ter noção exata do que somos, nem mais, nem menos.

Isso aplicado ao casamento faz com que compreendamos melhor possíveis fraquezas da pessoa que está ao nosso lado pela consciência que temos de que também estamos sujeitos a elas. "Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia".(I cor. 10.12).

Também não exigiríamos do cônjuge aquilo que não gostaríamos que fosse exigido de nós.

A vida financeira do casal, uma das causas principais de conflitos na relação, tem outros contornos quando administrada com humildade. É que a noção exata das possibilidades evita que gastemos além do que a renda familiar permite.

Infelizmente há casais que gastam no que desejam ou naquilo que acreditam que merecem e não no que seu rendimento permite. Depois, quando a relação receita-despesa começa a apresentar-se deficitária e as dívidas a crescerem como bola de neve, a relação entra em crise e vão-se a alegria e a paz.

É diferente o diálogo do casal que cultiva a humildade. Quando acreditamos que não somente nós temos coisas importantes, certas e boas a dizer; que não somos detentores da verdade; que também o outro tem percepções da realidade e, portanto, o que dizer, desenvolvemos muito mais nossa capacidade de ouvir. "Todo homem (e mulher também, digo eu!) seja pronto para ouvir, tardio para falar..." (Tg. 1.19). Não é a incapacidade de ouvir, um dos problemas mais sérios de conflitos conjugais?

Com humildade o orgulho não tem espaço. A capacidade de reconhecer os próprios erros é maximizada, a de perdoar multiplicada e a disposição para servir, sem ser servil, torna-se marca da relação.

Quando o centro da questão é o desejo de servir mais e melhor e a não a disputa sobre quem deve sujeitar-se mais a quem, evidenciamos que a graça de Jesus - não a cultura machista e o legalismo judaico de milhares de anos atrás - está, de fato, introjetada em nós.

Sem orgulho fica mais fácil admitir e procurar a ajuda de terceiros quando se percebe que os dois não estão conseguindo equacionar diferenças de modo saudável. Muitos casais sofreriam menos se os maridos aceitassem de pronto a sugestão das esposas de procurar ajuda externa.

Perseguir a humildade, não faz parte dos valores da nossa sociedade. Há, inclusive, uma confusão sobre seu significado. Confunde-se humildade com pobreza material ou ausência de prestígio social e poder político. Além disso, há um fator de natureza emocional que pressiona o orgulho pra cima. É que, geralmente, na história de um adulto orgulhoso, prepotente, quase sempre há uma criança que foi vítima de forte sentimento de humilhação.

Enfatizemos a importância da humildade, semeando-a e cultivando o desejo de vê-la crescer em nós. Fazendo isso com carinho, oração e até, se necessário for, com ajuda terapêutica, nos beneficiaremos do ensino de Jesus: "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas". (Mt. 11.29). E para o casamento também!

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