Casamento: o princípio da harmonia
Dois textos bíblicos são usados pelos que são radicalmente contrários ao "jugo desigual": o de Amós (3.3) que pergunta se andarão dois juntos se não estiverem de acordo e o de Paulo (II Cor. 6.14) que fala da incompatibilidade de comunhão entre luz e trevas.
Ambos, conquanto no contexto em que são mencionados não se refiram especificamente à questão do casamento, são os que fornecem mais claramente o princípio a ser buscado por aqueles que almejam casar-se: a harmonia.
Os líderes religiosos judeus sempre foram exclusivistas e consideravam o casamento misto - judeu com não judeu - como condenado por Deus (Esdras 10.10-11). Porém, na prática isso sempre foi uma tremenda dor de cabeça, pois, dos reis até o mais ilustre desconhecido, geralmente a orientação não era seguida.
No inicio do cristianismo, quando o movimento era pequeno, os contornos doutrinários da fé mais nítidos e tornar-se cristão resultava em fortes atritos políticos, identificar quem era cristão era mais fácil. Porém, com o crescimento do movimento, a institucionalização da igreja, a diversificação de correntes doutrinárias, teológicas e ideológicas dentro do cristianismo e o fortalecimento cultural da individualidade em detrimento da comunidade, torna-se cada dia mais difícil definir quem é ou não cristão.
Assim, o reconhecimento da presença de "luz e trevas" dentro de uma mesma igreja local, bem ao estilo do que Jesus alertou sobre trigo e joio (Mt. 13.24-30) é crescente em nossos dias. Isso implica que, haver casamento misto entre dois batistas, dois pentecostais, dois presbiterianos, dois "sem nome", enfim, é uma probabilidade indiscutível.
Diante disso, nem mesmo o fato de duas pessoas serem da mesma igreja, denominação, corrente teológica ou segmento cristão seria, por si só, garantia de sucesso na relação.
Creio que o princípio que os dois textos ¿ de Amós e Paulo - apontam é o da harmonia. Quanto maior harmonia de sentimentos, pensamentos, ideais, enfim, houver entre um casal, maiores as probabilidades de serem felizes.
A questão é que ninguém, antes de se apaixonar, faz análise "matemática" do outro. Se fosse assim a vida seria chata. Por razões ainda não esclarecidas adequadamente, a gente simplesmente se apaixona. Daí opostos se atraírem.
A Editora Mundo Cristão, se não me engano, lançou um livrinho na década de 80 intitulado "Os opostos se atraem". Na verdade a tradução literal do título em inglês, "Quando os opostos se atraem", expressaria melhor a intenção do autor. Conforme se percebe no texto, a intenção foi apontar caminhos para uma convivência saudável, quando opostos se atraem.
Penso que a questão religiosa, por se tratar de algo essencial à vida humana, é uma das áreas que precisam de melhor atenção na busca da harmonia. Defendo que quanto maior harmonia houver nesta área, maiores as chances de sucesso.
Esclareço, entretanto, que por harmonia espiritual quero dizer muito, mas infinitamente muito mais, do que pertencer a uma mesma denominação religiosa.
Penso que, como em todas as áreas da vida, na construção de um relacionamento o casal deve ser honesto para não esconder as diferenças e também sincero para discutí-las, a fim de tentar visualizar como seria a relação depois que o ímpeto da paixão sofrer a inevitável redução.
Toda relação traz consigo um risco. O que se pode fazer é avaliar as igualdades e as diferenças conhecidas e decidir se está a fim de construir a vida com aquela pessoa. Até porque diferenças que percebemos hoje podem ser equacionadas e novas diferenças certamente podem surgir.
Assim, quem entra numa relação não deve faze-lo pensando que tudo se resolve com ¿beijinho, beijinho¿. Relacionamento é uma construção diária, até à morte.
Defendo, portanto, que, como ponto de partida, se deve buscar o máximo de harmonia, especialmente na vida espiritual, mas lembrar-se de que surpresas aparecerão e sempre existirão arestas para serem aparadas nas diversas dimensões que caracterizam uma relação. Alma gêmea, como regra, é coisa de novela!
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