domingo, 10 de maio de 2009

Casamento: O princípio da fidelidade

Infidelidade Conjugal é importante tema no campo do relacionamento humano. Ela afeta as dimensões emocional e espiritual do indivíduo, desestabiliza a família, afeta a convivência social, prejudica o desempenho profissional e pode até culminar em criminalidade.

Em algumas abordagens jornalísticas o assunto é tratado de forma jocosa ou simplesmente como algo corriqueiro que não merece maiores preocupações. Tais abordagens passam a impressão de que (in) experiências particulares ou desejos latentes dos escritores prevalecem sobre a análise crítica e norteadora.

O princípio da fidelidade foi construído culturalmente ao longo da história, com base em experiências e suas conseqüências nos grupos sociais. Sistematizado detalhadamente, geralmente através de uma tradição religiosa, é repassado de forma oral ou escrita, através dos que dominam o universo religioso. Porém, a cultura do povo e as idiossincrasias individuais determinam maior ou menor submissão ao princípio.

Os cristãos que crêem na autoridade normativa do Segundo Testamento (coleção de textos canonizados pela Igreja Católica, dentre os diversos produzidos pelos primeiros seguidores de Jesus, visando nortear posicionamentos ético-doutrinários da igreja) são mais ou menos radicais em relação ao assunto, de acordo com a formação acadêmica ou estrutura de personalidade de seus líderes.

Teorias ou posicionamentos políticos à parte, todos concordam, porém, com os danos provocados pela infidelidade. Independente, portanto, das questões teológicas, filosóficas, antropológicas, sociológicas, psicológicas, biológicas, enfim, que envolvem o assunto, é inegável a dor que caracteriza a vida dos envolvidos na infidelidade conjugal.

Se as pessoas tivessem noção prévia das conseqüências dolorosas da infidelidade, provavelmente pensariam melhor antes de, irracionalmente, darem vazão aos sentimentos motivadores. Digo irracionalmente porque, via-de-regra, a infidelidade é impulsionada por uma força interior aparentemente incontrolável, capaz de fazer com que o candidato a infiel ou não enxergue as conseqüências ou, simplesmente decida arriscar-se a pagar o preço das possíveis conseqüências. Sem ajuda externa, de pessoa qualificada técnica, emocional e espiritualmente, dificilmente se consegue alterar o propósito do coração.

O triste é que, consumado o objetivo, verifica-se, primeiro, que um ato é insuficiente para satisfazer o desejo e, mais tarde, que todo o prazer alcançado é infinitamente menor do que os efeitos colaterais dolorosos que produz. Diante dos sentimentos destrutivos que assediam o coração, alguns tentam abafá-los envolvendo-se em ativismo doentio, excesso de álcool ou uso de drogas, legalizadas ou não. O corpo fragiliza-se e enfermidades aparecem, como no caso de Davi (Salmo 32.2). A dor é tal, pelo menos nos mais sensíveis a valores espirituais, que o fantasma da morte ronda em forma de desejo. Somente a graça divina, manifesta através de pessoa qualificada pode restaurar o equilíbrio na alma.

Quem se envolve em infidelidade é incapaz de mensurar as conseqüências na vida do cônjuge. Este, independente das explicações teóricas, parece ser o que sofre mais. O fato de sentir-se vítima de traição, a perda da confiança em alguém que faz parte de seus pilares de sustentação emocional, a tristeza de saber que o afeto antes tido como somente seu ter sido canalizado para outrem, os efeitos humilhantes da repercussão social, a tomada de consciência da falta de controle na situação em que o fato se deu, a própria indignação da cruel invasão de terceiros na intimidade daquele que lhe era sagrado, enfim, podem culminar em reações drásticas, irracionais e irreversíveis. O pensamento dominante é que, eliminando-se os traidores, elimina-se a dor. Crimes passionais, portanto, não ocorrem por amor ou ódio, mas pelo desejo de eliminar a própria dor.

O resultado final de um ato de infidelidade é imprevisível. Pode haver restauração da relação, uma simples separação ou até, em casos extremos, ações criminosas. Por isso, é essencial que se busque a imediata restauração do equilíbrio emocional, seguida de reflexão sobre possíveis causas, sob monitoramento de pessoa qualificada.

A restauração da relação é possível, conquanto longa e dolorosa. A transparência e a verdade como meios de resgate da confiança, são essenciais. A abertura para reconhecimento de necessidades não supridas na relação, surgidas antes ou durante o casamento, bem como de possíveis erros cometidos por ambos nos processos que antecederam ao fato, são indispensáveis. A busca de ajuda espiritual, visando restaurar a graça, a misericórdia, o respeito, o afeto, o amor mútuo, enfim, são fundamentais. Somente quando nos abrimos, ainda que através de uma pequena brecha, para o agir divino, algo novo e bom pode acontecer.

0 comentários: