domingo, 17 de maio de 2009

Edvar, não se esqueça da redenção




Foi lá que tudo começou. No alto do morro, lugar de ladrões e outros tipos de criminosos. Acesso tortuoso, íngreme, perigoso por onde passavam pessoas empobrecidas, cabisbaixas, pensativas, chorosas, indignadas, desesperadas e desesperançadas; expectadores, curiosos em busca de movimento, novidades ou adrenalina; policiais altivos, insensíveis, obedientes e escarnecedores.


Foi lá que tudo começou. Gente simples, sem acesso à educação, saúde, segurança pública, meios modernos de comunicação, trajes de gala ou transporte de luxo; sem prestígio ou poder político, que usava uma ou outra roupa classificada como boa somente em ocasiões especiais.


Foi lá que tudo começou. Num lugar desprezado, habitado por gente com interesses passageiros, freqüentado por aves de rapina e dominado por espíritos vingativos ou derrotados.


Foi lá que tudo começou. Muito sangue, muita dor, muito esfolamento, muita perfuração, muita lágrima, muito suor, muita injustiça, muita opressão, muito susto, muito engasgamento, muita falsidade, muita indagação.


Foi lá que tudo começou. E, pasmem, por causa do morro da vingança, do sofrimento e da redenção, surgiram estruturas organizacionais, pequenos santuários e grandes catedrais, becas e fraques, diplomas e títulos, “canonicismos”, dogmatismos, teologias e ideologias, empregos, salários, planejamento estratégico, produção em série, agendas, livros, discos, filmes, revistas, jornais, feiras, capacitações, reciclagem e mentores, tudo em nome do crucificado.


Foi lá que tudo começou. Mas, por nos esquecermos disso, a vida na religião perdeu o bonde da redenção. Em vez de paz, libertação, simplicidade, espíritos alegres, pacíficos, entregues nas mãos do criador, as mesmas más causas que tornaram famoso o tal morro se fazem presentes, solenemente, em nossas pequenas mega-reuniões “cristãs”, regadas à arrogância, “intelectualismo”, falsidade, competições, vazio, solidão e dor.


Foi lá que tudo começou. Alegremo-nos! Também por causa daquele acontecimento a história de milhões de pessoas tomou um novo rumo. Gente que andava em trevas viu uma maravilhosa luz; que se sentia num vale de sombra da morte encontrou o bom pastor; que caminhava sedenta pelos desertos da existência encontrou água da vida; que se encontrava acuada num beco sem saída, encontrou uma porta escancarada; que vivia a dor da solidão encontrou uma família; que não tinha razão pra viver aprendeu a servir, a amar e a se solidarizar; que vivia em dolorosa descrença, viu brotar a esperança.


Foi lá que tudo começou. Cabe, então, a cada um de nós, que experimentou e continua a experimentar a presença do homem do morro da redenção, não se esquecer disso e não permitir que arrogância, “intelectualismo”, falsidade, competições, vazio, solidão e dor, predominem quando se reunir ou fizer algo em nome do redentor.

Por isso, Edvar, aproveite que hoje é domingo e não se esqueça da redenção!







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