terça-feira, 19 de junho de 2012

Multiplicação de igrejas - 19.06.12 - 58/100 dias de oração pelo Brasil


Houve um tempo em que multiplicar igrejas não implicava em custos financeiros como os de hoje. Os envolvidos no processo não precisavam, por exemplo, criar estatuto, ter CNPJ ou abrir conta bancária. Não se ocupavam com a difícil tarefa de encontrar terreno bem localizado em metrópolis, comprá-los, construir templos, pagar água, luz, telefone, internet, contabilidade, zeladoria (e todas as implicações fiscais, trabalhistas e previdenciárias decorrentes e, vez por outra, pagar advogado para defender-se judicialmente); nem selecionar um pastor com formação superior, oriundo de seminário, tendo que oferecer-lhe salário que cubra alimentação, vestuário, habitação, educação dos filhos, transportes, FGTM, plano de saúde, etc.. 

Houve um tempo em que multiplicar igrejas não implicava em participar de sistema cooperativo empresarialmente estruturado com todas as implicações administrativas, políticas e financeiras decorrentes.

Houve um tempo em que multiplicar igrejas não implicava em ter que optar, dentre milhares de alternativas, por subordinar-se a um ou a nenhum conjunto sitematizado de princípios e doutrinas.

Houve um tempo em que multiplicar igrejas não implicava em ter que ocupar-se com "denominação" ou, na linguagem empresarial, marca de fantasia. Exatamente no momento em que escrevo esta reflexão, acabo de ler um e-mail enviado de dentro de avião, na rota Miami-Lima, por um membro da IB da Graça.SSA. Ele compartilha a história de uma das igrejas que visita quando está nos Estados Unidos, em suas viagens a serviço de uma multinacional. Ela está avaliando a possibilidade de retirada da marca denominacional (ainda que permaneça vinculada à sua denominação), porque pesquisa indica que aproximadamente 29% da população jamais entraria em igreja com aquela "marca", em torno de 20% entraria, mas com ressalvas e os resultados, segundo a pesquisa, seriam piores vinculando-se a "marca" da igreja à da convenção com a qual coopera.

(Diga-se de passagem, uma igreja de referência para milhares de líderes evangélicos no mundo, a Saddleback Church, optou por não usar a marca de sua denominação por motivos semelhantes. Por isso, já tem sido copiada no Brasil, não sei se por resultado de pesquisa ou  mera imitação).

Não faço tais ressalvas por saudosismo. Não sou do tipo que vive com os olhos prioritariamente no retrovisor. Nem cito isso por lamentar que as coisas estejam como estão. A vida passa e as estruturas sociais se modificam. Quem não é capaz de "ajustar-se", morre mais depressa e quem se "ajusta" irrefletidamente, também. A igreja tem mesmo que ser contemporânea, respondendo aos desafios do seu tempo.

Faço tais ressalvas para fazer uma comparação. A multiplicação das igrejas, citada no Novo Testamento, não se inspirava no modelo de produção em  série, como no capitalismo pós-industrial, porque igreja não era vista como ponto de captação de recursos ou venda de produtos religiosos. Em vez de inspirar-se no mercado, procurando um nicho para explorar, inspirava-se na "coragem do Espírito Santo"; num caminhar reverente diante do Senhor, na edificação mútua e valorizando a paz.
Ou, como Lucas descreve: "A igreja passava por um período de paz em toda a Judéia, Galiléia e Samaria. Ela se edificava e, encorajada pelo Espírito Santo, crescia em número, vivendo no temor do Senhor." (At. 9:31).  A multiplicação não era objetivo, mas consequência; não era a razão de ser, mas, decorrência.

Tenho ciência dos desafios do nosso tempo, tanto quanto da importância que a igreja pode ter para a sociedade, como sal da terra e luz do mundo. Por isso, oro ao Senhor no sentido de que Ele, não discursos vagos, seja nossa inspiração na adoração, na comunhão, no discipulado, na proclamação, no serviço e, naturalmente, na multiplicação de igrejas.


Abraços do seu pastor,

0 comentários: