sexta-feira, 15 de junho de 2012

Paz no campo - 15.06.12 - 54/100 dias de oração pelo Brasil

Ainda trago na memória o período em que famílias de sítios de Garça, SP, deixaram pra trás casas, trabalhos, amigos, igrejas, enfim, rumo aos centros industriais.

Perdi diversos amigos de infância que, em meados da adolescência, decidiram "fazer a vida" onde as oportunidades pareciam maiores, o trabalho menos penoso do que na agricultura, o acesso à educação superior e a bens de consumo mais fáceis, e as promessas de retorno financeiro melhores.

Claro que, como todo mundo passou a agir igual, as cidades industriais tiveram o número de habitantes multiplicados numa velocidade não acompanhada pelos investimentos necessários em todas as áreas (educação, saúde, saneamento, transporte, pavimentação, segurança, habitação...).

Para alguns, o sonho dourado enferrujou e favelou.

No afã de atender as necessidades dos grandes centros, por causa das industrias, investia-se mais nas metrópoles e menos no "campo", fato que agravava as condições de vida no interior. Pessoas que não deixariam suas origens motivadas por mais dinheiro, sucumbiam diante da necessidade de melhor educação ou atendimento médico, por exemplo.

Os governos que acordaram diante dos efeitos colaterais nocivos de tal política, descentralizaram geograficamente os investimentos, especialmente em saúde e educação, fato que tornou mais atraente a permanência e, em alguns casos, o retorno ao interior. Os que não, contribuíram para que a vida das pessoas, especialmente a das empobrecidas, continuasse desconfortável, tanto pela pela falta de soluções para seus problemas, quanto pela necessidade de busca por elas - soluções - nas grandes cidades.

Nos estados em que a agricultura e a pecuária passaram a ser tratadas como negócio lucrativo a vida no interior voltou a ser atraente. O interesse pela produção estimulou governos a investirem em energia elétrica para todos, especialmente em função dos empreendimentos agrícolas. Estradas passaram a ser abertas ou asfaltadas para escoar a produção. Escolas começaram a ser construídas para atender a demanda de mão de obra qualificada para suprir demandas empresariais do agro-negócio e seus derivados.

Se é verdade que os moradores também ganharam com isso, verdade também é que, em algumas regiões, enquanto uns acumulavam propriedades imensas,
muitos ficaram sem terra, sem teto, sem ter, sequer, de onde tirar o pão de cada dia. A gula de alguns fez (e ainda faz em algumas regiões do país) com que invadissem terras públicas, desmatassem sem qualquer critério e passassem a oprimir quem vivia da agricultura de subsistência, explorando-os ou expulsando-os da terra onde nasceram.

O conflito no campo, portanto, não começou porque organizações tidas como de esquerda surgiram e passaram a mobilizar pessoas, mas porque as políticas adotadas sempre foram em benefício de poucos, em detrimento da maioria. Essa maioria somente era olhada se isso resultasse em benefícios para a minoria. As organizações sociais apenas deram visibilidade a problemas que "passavam despercebidos", porque alguém ganhava com a situação.

E as igrejas com isso?

As igrejas podem contribuir com a paz no campo, levando um evangelho domesticador; que ensina a troca de infernos presentes por um céu escatológico; que propõe paz ao coração fechando os olhos às injustiças sociais; alienando o indivíduo da presente vida

ou

podem levar o evangelho integral que não nega dimensões futuras, nem presentes da vida; que não nega a verticalidade nem a horizontalidade da fé; que não nega a espiritualidade, nem a materialidade da vida; que reconhece todos os seres humanos como criados a imagem e semelhança de Deus  e que, portanto, todos têm direito à vida digna, construída sob valores do reino, tais quais o amor, solidariedade, justiça, cooperação, etc..

A contribuição das igrejas, portanto, para a paz no campo, depende dos valores que abraçam e se eles são pautados na vida de Jesus ou na construção doutrinária ideologizada, como parcela significativa delas sempre fez, beneficiando politicamente alguns com seu discurso,
em troca das migalhas que caem de suas mesas, em detrimento da imensa maioria .

Oremos pela paz no campo, mas não nos esqueçamos de que ela deriva da justiça social, utopia que não deve ser abandonada, pelo contrário, deve servir de norte, de horizonte para nossa caminhada nesta vida.


Abraços do seu pastor,

0 comentários: