domingo, 10 de maio de 2009

Casamento e divórcio

Sob o título "evento para ajudar católicos a redescobrirem sua fé", o jornal West Boca Times, que circula no Sul da Flórida, destacou a desinformação dos fiéis, em torno da possibilidade de retornarem à igreja, depois do divórcio e novo casamento, como uma das causas de afastamento da igreja.

Como divórcio é assunto que incomoda muita gente, gostaria de pensar sobre ele, dizendo inicialmente que, se divórcio fosse bom, faríamos propaganda para que todos se divorciassem. Divulgaríamos seus benefícios por todos os meios. Não fazemos isso porque sabemos que separação é precedida ou seguida de processo doloroso. Geralmente, uma ou mais das partes ¿ marido, esposa ou filhos - sofre desconfortáveis consequências. Assim sendo, não há porque estimulá-lo.

O fato, porém, de acreditarmos que ele não seja, via-de-regra, uma coisa boa, não significa que não seja justo ou, até, necessário. Tanto é assim que Moisés, Jesus e Paulo, cada um em seu contexto histórico, o admitiram.

Moisés percebeu que separação era uma realidade da qual, muita vez, não se poderia fugir. Diferente do profeta ou filósofo que discursa em prol do ideal e raramente testa a praticidade de seu discurso em situações concretas, o administrador e legislador cuida do mundo real. Por isso, creio, Moisés optou pela regulamentação do divórcio.

Regulamentação do divórcio não é causa de divórcio. Apenas possibilita minimizar os efeitos maléficos de relacionamentos inadequados e separações injustas para as mulheres, como no caso dos tempos de Moisés. ( Dt. 24.1-4).

Jesus não era legislador, legalista, nem expôs detalhadamente seu pensamento sobre o divórcio, mas, segundo Mateus, expressou-se sobre o assunto. Ao ser desafiado a posicionar-se diante das alternativas discutidas em seu tempo, seu parecer foi que qualquer motivo não seria motivo para separação. ¿Pornéia¿, porém, seria um justo motivo, uma justa exceção. (O termo grego ¿pornéia¿, traduzido, por exemplo, como imoralidade sexual, adultério ou infidelidade, merece aprofundamento por seus vínculos culturais). (Mt. 5.31).

Ao reconhecer tal exceção, ele não o fez indicando a separação como obrigatória, muito menos emitiu juízo de valor, dizendo ser, o divórcio, a melhor ou pior saída. Seus ensinos nos levam a crer que ele sabia que, até mesmo diante de ¿pornéia¿, o reinício seria possível. Bastava haver sinais de arrependimento, de um lado, e capacidade para perdão, do outro. Porém, se as circunstâncias fossem desfavoráveis a isso, a separação, por ¿pornéia¿, seria justa.

Paulo reconhece uma outra exceção: diferença religiosa. Para ele, o fato do cônjuge incrédulo rejeitar o cristão, legitimaria o divórcio. Conquanto não tenha recomendado a separação por incompatibilidade religiosa, ele reconheceu sua legitimidade. (I Cor. 7.10-15)

Se Moisés, Jesus e Paulo reconheceram exceções, à luz de seus contextos, e se novos contextos geram novas situações que exigem novas respostas, certamente nossa postura não deveria ser diferente. O problema é que as leitoras bíblicas, por falta de aprofundamento hermenêutico, transformam textos isolados em lei, que não admitem exceção. Esse tipo de hermenêutica literalista, legalista e farisaica, porém, seria tema para outra conversa.

Diria, ainda, que, o fato de acreditarmos que divórcio não seja uma boa coisa, não significa que o divorciado deva ser discriminado. Divorciado não é cidadão, muito menos seria cristão, de segunda classe. Os obstáculos que enfrentou em sua vida não são piores do que os que enfrentamos em nossas.

A solução encontrada para seus problemas não são piores, nem melhores, do que as que encontraríamos para os nossos. São soluções diferentes, porém adequadas às possibilidades que seu contexto de vida permitiram. Por isso, o divorciado deve ser acolhido, amado, auxiliado, restaurado e reconduzido à direção de vida que anunciamos, caracterizada por uma relação sincera com Deus, apesar das limitações que a vida nos impõe.

Quanto ao novo casamento, é óbvio que a graça de Deus nunca seria parcial. Se a separação for único remédio, saída menos ruim, não haveria porque permitir o divórcio e impedir novo casamento. A não ser para aqueles que, por ignorância, maldade ou preguiça intelectual, se guiam por um literalismo bíblico cruel. Esses seriam capazes de recomendar a execução de adúlteros (Lev. 20.10), mas, jamais, o divórcio!

5 comentários:

Unknown 11 de maio de 2009 às 00:09  

Querido pastor Edvar
Sou Malke da Igreja Batista Emanuel em BV(Recife).É muito possível que o senhor não lembre-se de mim pois quendo eu o via pregando no pulpito da Emanuel eu estava recem chegando na igreja e o senhor logo logo foi para Salvador. Mas o que gostaria de compartilhar com o senhor é que me encontro em uma dolorosa situação de separação. E suas palavras trouxeram um pouco de conforto ao meu coração. Como sempre! Muito obrigada. Eu não sou a parte que quer separar. Eu sou a parte que quer perdoar. Mas não basto como uma parte. Essa é uma situação que precisa ser feita como um inteiro. Mas eu tenho culpa pastor, casei em julgo desigual! Pode ser que o Senhor esteja me maostrando isso. Com tudo estou orando, tenho fé e tenho aprendido(feliz) a descançar em Deus! Fique na Paz, pastor! Mais uma vez obrigada!

Unknown 23 de maio de 2009 às 14:54  

Oi Pastor,

No último parágrafo, quarta linha deste texto, não estará falatando a palavra "NÃO" antes de permitir??? Do jeito q está o sentido não ficou bem esclarecido!
Ou talvez eu esteja enganada! Mas acho q seria o caso de verificar!!!

Ane Penaforte 27 de julho de 2011 às 12:43  

Parabéns pelo texto pastor. Quando estava para namorar com meu atual marido passei por algumas crises por ele ser divorciado. Mas o Pr. Elpídio, meu pastor na época, e sua esposa erlane, me aconselharam com sabedoria e sem farisaísmo. Hoje sou feliz e creio que meu marido também é. Mas sei que ele sofreu muito e passou por amargos dias na sua separação. Só seis anos depois, quando me conheceu, se achou pronto para um novo casamento. Concordo que divórcio não é bom e deve ser uma solução extrema depois de outras tentativas de conciliação
Abraços

Thales Araújo 28 de julho de 2011 às 13:06  

Muito bom.
Artigo breve e objetivo, enfatizando mais a Graça do que a Lei.

Marcos Quaresma

Anônimo 28 de julho de 2011 às 18:13  

Olá, Edvar!
Esta é uma parte de um texto que escrevi sobre divórcio e novo casamento.
O princípio básico subjacente ao adultério parece ser aquele que rechaça a traição.

Se puder, passe no meu blog e veja o texto. Saúde!

"Considere-se primeiro que princípio estaria envolvido numa palavra tão taxativa como esta? Estaria aqui implicado o divórcio sem motivo e o divórcio com motivo? Ou seja: não haveria absolutamente situação alguma que justificasse o divórcio, salvo o adultério? Seria uma mulher, casada com um homem que se revelou maníaco logo após o matrimônio ou tempos depois do mesmo, obrigada a viver com aquele homem pelo resto da vida, se o tal não viesse a falecer? E se a mesma fosse casada com alguém que a espancasse, não seria isso tal e qual o adultério, uma forma de trair a mulher? O princípio básico subjacente ao adultério parece ser aquele que rechaça a traição. Isto posto, qualquer outro ato de traição contra o cônjuge, não seria motivo para o divórcio? Raciocine-se assim pressupondo-se que o problema colocado concretamente pelo texto é o caso de adultério. Mas é sempre bom lembrar que um princípio sempre existe e é este que precisa ser levado em consideração na interpretação. Um princípio é o pressuposto que pode ter aplicação universal; nunca um mero exemplo situacional ou isolado. Portanto, se for o texto pensado pelo princípio de traição, parece que o mero fato do adultério é apenas um exemplo de traição que desencadearia o divórcio. Outros tantos exemplos possíveis existem que, uma vez acontecidos, seriam motivos para a petição do divórcio por ambas as partes".