sábado, 1 de agosto de 2009

A paixão de Cristo (2004)

Depois de dez dias da estréia, fui aumentar a conta bancária de Gibson em 7,75 dólares, além dos impostos de 0,44 cents para o governo americano. Ninguém é de ferro! A estratégia de marketing foi tão boa que nem ateus – que não é o meu caso - resistiram. Por isso, fala-se em faturamento cinco vezes maior do que os 25 milhões de dólares investidos.

Não estou dizendo que ele fez o filme visando lucro. Isso não precisa ser dito num pais em que se respira dinheiro e lucro não é sinônimo de pecado. Aqui ninguém é criticado por ganhar dinheiro. Pelo contrário, quanto mais acumular, mais prestígio terá.

O filme inicia com Jesus esmagando a cabeça de uma serpente no Getsêmani. Com isso, deixa claro, de cara, que nEle se cumpriu a promessa registrada em Gênesis 3:15. Sob esse pressuposto, prossegue enfatizando aquilo que tem sido anunciado historicamente nas igrejas cristãs: o contraste entre as extremas maldade humana e bondade divina.

Senti-me emocionado na cena em que Pedro nega a Jesus. As reações emocionais de Maria, porém, me desapontaram. Talvez, no afã de apresentá-la como uma mulher forte, sua atuação ficou aquém da que seria comum em mães diante do sofrimento do filho.

Judas foi premiado. Tendo sua crise de consciência demonstrada em pelo menos 4 ou 5 cenas fortíssimas, parece pagar ali seu pecado da traição. Doravante, quem sabe, será menos surrado no sábado de aleluia.

Pilatos, criticado historicamente por “lavar as mãos”, ganhou uma oportunidade de defender-se, apresentando suas razões de forma um tanto comovente.

O “Santo Sudário”, mais conhecido como peça de museu e de controvérsias históricas, ganhou cores e vida. Teria surgido das mãos de uma bela e bondosa jovem.

Uma cena de conteúdo duvidoso é a que um corvo pica o ladrão crucificado que zombou de Jesus. Simbolizaria o diabo? Não, pois eram aliados. Simbolizaria Deus? Não, pois Aquele que perdoa os que “não sabem o que fazem”, não agrediria o infeliz, afinal, ladrões não são piores do que líderes religiosos sem escrúpulos.

O momento em que o carpinteiro Jesus brinca, jogando água no rosto de Maria, após inovar fabricando uma mesa, repassa uma idéia positiva, menos medieval do Cristo, infelizmente ausente dos púlpitos eclesiásticos e do imaginário popular.

Seria o filme, um incentivo ao anti-semitismo? Não! Talvez estimule o sentimento anti-religião institucionalizada, pois a postura dos líderes religiosos judeus é nojenta, como nojentos são todos aqueles que querem impor impiedosamente sua crenças. Seria capaz de motivar pessoas a serem cristãs? Não! Pode sim, suscitar debates e abrir espaços para o compartilhar da fé. Porém, não passaria disso, pois o que se vê é um festival de barbáries contra Jesus, desproporcional à acusação e incompatível com o bom senso, mesmo em tempos remotos.

A violência pode gerar pena de Jesus, mas jamais serviria de ponte, para uma reflexão existencial ou revisão de valores e crenças. Violência produz revolta contra os violentos, e não amor pelo violentado ou compromisso com valores e causas defendidos por ele. O confronto entre os ensinos do Mestre e o sofrimento imposto, isso sim, poderia surtir efeito, mas recebeu pouca ênfase.

Num pais em que o fundamentalismo é politicamente ativo e ativamente político, Gibson acertou na fórmula. Aproximou sua versão dos textos canonizados pelo catolicismo e defendidos com unhas e dentes pelo protestantismo; incluiu poucos conceitos apócrifos; declarou-se inspirado pelo Espírito Santo na produção e imbuido de uma missão evangelizadora; respondeu, antes que alguém perguntasse, que não era anti-semita e anunciou que era sua, a mão que aparece segurando o braço de Jesus na cena em que é cravado na cruz, incluindo-se assim, disse, como culpado pela crucificação.

Se as intenções de Gibson foram espirituais, não cabe a nós julgar. Mas que ficou muito mais rico, isso ninguém pode negar!

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