quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sistema Prisional - 24.05.12 - 32/100 dias de oração pelo Brasil



Foi em meados da minha adolescência que tive a primeira oportunidade de visitar a Cadeia Pública de Garça. Naquela época os índices de violência eram infinitamente baixos (ou menos perceptíveis pela ausência das moderna tecnologias de comunicação) e os casos que chamavam a atenção, pela atrocidade, eram poucos.

Os presos da Cadeia de Garça, a cidade onde nasci e fui criado no interior de São Paulo, eram de baixa periculosidade. Isso facilitava nosso acesso à Delegacia, aos domingos, para levar uma palavra de Deus às vidas dos presidiários. Fazíamos isso sem burocracia.

Entrávamos, na maioria jovens, entregávamos literatura, conversávamos com os mais interessados, orávamos por eles e, com alguns, amizades eram construídas e cartas eram trocadas, pois, naquela época, a existência de PCs ou celulares nem passava por nosso sonhos.

Claro que sempre havia o receio, sempre havia a dúvida quanto à sinceridade deles e ao que se poderia fazer por eles, ao sairem. O apoio após cumprimento de pena geralmente continua frágil.

Depois daqueles anos voltei a um presídio em 2004. Foi em Miami, na Flórida. Uma jovem brasileira que havia saido do país por problemas com a justiça americana, conseguiu novo visto e retornava regularmente ao país especialmente para fazer compras. Em uma das vezes foi surpreendida ao chegar ao Aeroporto e levada diretamente à prisão. Motivo: se não me falha a memória,
quando da renovação do visto, agora com o nome de casada, não teria informado ao consulado,  que já havia tido problemas com a justiça daquele país (ou coisa parecida).

O presidio era como o que vemos na maioria dos filmes americanos. O trâmite para visitas era bastante organizado desde a inscrição, na chegada, passando por detector de metais e revistas pessoais, na qual os objetos proibidos de serem levados para dentro, como aparelhos celulares, ficavam com a fiscalização.

Acompanhados por um policial, erámos dirigidos ao elevador que nos levaria ao andar onde a pessoa encontrava-se. Ele ficava nos observando enquanto conversávamos com a pessoa, por telefone, separados por um vidro. O ambiente era bastante limpo, todos os presos uniformizados e a ala, feminina, era formada, se não me engano, por pessoas com problemas com a imigração.

Por mais bem tratadas que as pessoas fossem, o drama de estar e sentir-se preso era evidente na fala da pessoa por nós visitada.

Claro que, tendo conhecido uma cadeia numa cidade do interior de São Paulo, no final da década de 80 e um presídio em Miami, no início do século XXI, não tenho como imaginar a realidade dos presídios brasileiros, nos dias em que vivemos.

Tudo o que sei, das condições predominantes extremamente desfavoráveis, sei pelos meios de comunicação.

Lamentavelmente, por não haver investimento adequado na educação, seja formal ou familiar;
por termos um modelo econômico-social que favorece a concentração e não o compartilhar justo do resultado do trablaho e renda; ; por termos um sistema judiciário lento e com imensas possibilidades de corrupção; por termos nos tornado, como igreja, mais em agência de serviços religiosos do que espaço e encontro para crescimento espiritual,  enfim, por esses e por outros motivos que podem ser lidos em trabalhos de especialistas abundantemente disponíveis, o sistema prisional, em vez de ajudar na recuperação, tem se tornado uma escola de pós graduação para bandidos, um lugar para aprofundamento de neuroses.

Trabalhar com este grupo, hoje estimado em 500 mil habitantes, é um desafio que exige muito amor, esperança e fé. Sim, são três ingredientes essenciais. Além disso, maturidade, perspicácia, conhecimento da realidade e muita disposição para servir não podem ficar de fora, pois, trabalhar com presidiários é trabalhar com pessoas cuja manifestação da pecaminosidade humana impressiona.


1. Oremos pela sociedade que prioriza e alimenta valores éticos que, em vez de contribuir para vivermos de forma pacífica, agrava a situação;

2. Oremos pelos governantes, para que sejam sensíveis e capazes de estabelecer prioridades adequadas e sejam honesto no uso dos recursos, para ajudarem a minimizar a criminalidade no país;
3. Oremos pelos que fazem parte do sistema judiciário e que pensam os processos de aprisionamento, rogando a Deus que façam o seu melhor visando a recuperação dos presos;
4. Oremos pelas igrejas, para que se enxerguem não como empresas prestadoras de serviços religiosos, nem se movam por uma teologia enlatada e exclusivamente escatológica, mas que perceba e assuma seu papel de sal e luz neste tempo, neste lugar, a fim de contribuir, seja preventiva, seja curativamente para que os índices de criminalidade sejam reduzidos.

Abraços do seu pastor,

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