sexta-feira, 31 de julho de 2009

Eleitor em crise (2001)

O dia em que elegeremos nossos governantes se aproxima e venho a público confessar que estou em crise. Desde a abertura política brasileira, é a primeira vez que me sinto assim. Como nunca, estou me sentindo como um apostador de loterias que faz uma escolha e espera pela sorte, com uma desvantagem: se o jogador erra, perde apenas o dinheiro da aposta; se o eleitor erra, coloca em risco a vida de milhões de pessoas.

Nestas eleições o preto e branco foi substituído pelo colorido. Isso não significa que as eleições estão mais belas. Significa que as alternativas não estão evidentes. Dizer qual candidato se diz a favor ou contra o governo atual é fácil; difícil é saber, devido às coligações, qual deles fará diferente, para melhor, em prol da maioria. Nas eleições anteriores era mais fácil discernir os interesses que cada candidato representava. Nesta, candidatos com história e condições de vida opostas estão no mesmo palanque. E o pior é que o equilíbrio de condições está sendo nivelado por baixo.

Além disso, agora os candidatos estão sendo, profissionalmente, mascarados. É compreensível que, geralmente, seja difícil compatibilizar o agir político com o agir verdadeiro. Mas nestas eleições chegamos ao extremo. A maquiagem dos candidatos não é somente fruto da imaginação deles; é fruto de orientação profissional, baseada em pesquisas academicamente elaboradas. "Marqueteiro", neste caso, não é um profissional que procura descobrir as qualidades de um produto que interessa ao cliente para ajustar, verdadeiramente, o produto à qualidade exigida. Não, nesta campanha, "marqueteiro" é aquele que trabalha para esconder, descaradamente, a cara e seus defeitos, transformando homens em ventríloquos que falam o que a maioria quer ouvir, visando vender gato por lebre, ou pior, raposa por galinha. Minha filha que votará pela primeira vez, perguntou-me se após as eleições poderíamos processar os eleitos que não cumprirem as promessas, por propaganda enganosa. Disse-lhe que, infelizmente, não temos um "Código de Defesa do Eleitor". O voto, para quem não é filiado a um partido, é sua principal arma de defesa dos hipócritas.

Os governantes eleitos, sejam eles quem forem, governarão com base em leis estabelecidas e, para mudá-las, precisariam primeiro, de boas motivações políticas e, depois, de apoio do Congresso. Eis a questão! Primeiro, ainda que diga o contrário, eles têm compromissos com quem os financiou. Raros são aqueles que financiam campanhas por idealismo. A maioria financia esperando vantagens particulares. Além disso, enquanto todas as atenções estão voltadas para o Executivo é o Legislativo, na verdade, que tem o poder de fazer mudanças estruturais significativas. O Executivo pode administrar bem o estabelecido, mas, reformas que mudem a face do país, dependem do Legislativo. Devemos, portanto, dar mais atenção aos candidatos ao Legislativo.

Quem já administrou sistemas organizacionais democráticos sabe que articulação política para conciliar interesses difusos não é simples. Portanto, um governante, mesmo o mais bem intencionado, não pode, sozinho, mudar os rumos da nação, simplesmente porque isso não depende somente de boa vontade. Depende de conhecimento, visão, habilidade, vontade e apoio político. Apoio político de legisladores cujos corações, como os dos candidatos ao Executivo, também estão sendo escondidos atrás de máscaras profissionalmente elaboradas. E isso deixa o eleitor consciente em crise. Valha-nos Deus!

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