Voto analfabeto (2004)
O que você acha do voto do analfabeto, perguntou-me meu filho, um dia desses, enquanto batíamos um papo em família, após o almoço. Ele tinha em mente a letra da música “Perfeição” do Legião Urbana que, dentre outros dizia, ironicamente, “vamos celebrar...o voto dos analfabetos”.
Não sei a qual analfabeto se referia Renato Russo. Acho pouco provavel que a referência fosse à pessoa que somente não sabe ler ou escrever. Aquele que não sabe ler ou escrever também é um cidadão. Como os demais, paga seus impostos absurdos sem saber em que percentual, nem pra que é destinado, mas paga. E se não sabe ler ou escrever, pelo menos saber ouvir o que se diz e sentir o impacto das políticas econômico-sociais em sua vida.
Não sei, também, se referia-se àqueles que, conquanto tenham diploma superior, são analfabetos em política porque desconhecem como se dão as relações entre interesses divergentes que caracterizam toda sociedade; não têm idéia de como funcionam as estruturas administrativas dos poderes; não conseguem enxergar para além das notícias que são veiculadas nos meios de comunicação, nem percebem, por exemplo, a influência das decisões dos países mais ricos sobre a vida do pacato cidadão de Cabrobó ou Orobó.
Pra dizer a verdade, não sei quem, em política, é mais analfabeto: se o que não sabe ler ou escrever ou o que não sabe o significado do que lê ou ouve. Sim, pois saber ler é muito mais do que decifrar um código linguístico. Saber ler é interpretar significados, conhecer o contexto sócio-cultural em que as palavras são proferidas, visando perceber a intenção do escritor a partir da ideológia geral que defende.
Geralmente, somos analfabetos políticos. Nós evangélicos então, nem se fala. Durante anos proclamou-se que crente não deveria envolver-se com política, pois isso não era coisa para pessoas espirituais. Porém, os mesmos que assim nos adestravam, deitavam e rolavam na politicagem dos bastidores da denominação.
Hoje, muitos comemoram a participação evangélica na política. O fato porém é que, se há uma movimentação maior desse segmento na política, isso não se deve a uma tomada de consciência do povo, mas, com algumas excessões, à descoberta de benefícios particulares ou corportativos que a participação proporciona, àqueles que exercem liderança sobre “rebanhos”.
Sou defensor da participação evangélica na política, mas não por uma questão religiosa. Como meu amigo Bento Souto, acredito que a participação dos evangélicos na política, por razões religiosas, não produz nada melhor do que os fundamentalismos cristãos ou islâmicos tem produzido.
Devemos sim estimular nosso povo a participar, porque política é inerente ao ser humano e seu bom exercício pode favorecer o florescimento de valores espírituais, como justiça, liberdade, respeito mútuo... que produzem vida.
Sabemos que, em toda sociedade, estão presentes família, educação, economia, lazer, religião e política. O analfabeto político, porém, acredita que basta fortalecer uma dessas áreas para que os problemas do país se resolvam.
Por isso acredito que voto analfabeto não é somente o dos que não sabem ler ou escrever, mas também de graduados que preferem não se esforçar para ver além do que certos meios de comunicação, inclusive religiosos, divulgam.
Não sei a qual analfabeto se referia Renato Russo. Acho pouco provavel que a referência fosse à pessoa que somente não sabe ler ou escrever. Aquele que não sabe ler ou escrever também é um cidadão. Como os demais, paga seus impostos absurdos sem saber em que percentual, nem pra que é destinado, mas paga. E se não sabe ler ou escrever, pelo menos saber ouvir o que se diz e sentir o impacto das políticas econômico-sociais em sua vida.
Não sei, também, se referia-se àqueles que, conquanto tenham diploma superior, são analfabetos em política porque desconhecem como se dão as relações entre interesses divergentes que caracterizam toda sociedade; não têm idéia de como funcionam as estruturas administrativas dos poderes; não conseguem enxergar para além das notícias que são veiculadas nos meios de comunicação, nem percebem, por exemplo, a influência das decisões dos países mais ricos sobre a vida do pacato cidadão de Cabrobó ou Orobó.
Pra dizer a verdade, não sei quem, em política, é mais analfabeto: se o que não sabe ler ou escrever ou o que não sabe o significado do que lê ou ouve. Sim, pois saber ler é muito mais do que decifrar um código linguístico. Saber ler é interpretar significados, conhecer o contexto sócio-cultural em que as palavras são proferidas, visando perceber a intenção do escritor a partir da ideológia geral que defende.
Geralmente, somos analfabetos políticos. Nós evangélicos então, nem se fala. Durante anos proclamou-se que crente não deveria envolver-se com política, pois isso não era coisa para pessoas espirituais. Porém, os mesmos que assim nos adestravam, deitavam e rolavam na politicagem dos bastidores da denominação.
Hoje, muitos comemoram a participação evangélica na política. O fato porém é que, se há uma movimentação maior desse segmento na política, isso não se deve a uma tomada de consciência do povo, mas, com algumas excessões, à descoberta de benefícios particulares ou corportativos que a participação proporciona, àqueles que exercem liderança sobre “rebanhos”.
Sou defensor da participação evangélica na política, mas não por uma questão religiosa. Como meu amigo Bento Souto, acredito que a participação dos evangélicos na política, por razões religiosas, não produz nada melhor do que os fundamentalismos cristãos ou islâmicos tem produzido.
Devemos sim estimular nosso povo a participar, porque política é inerente ao ser humano e seu bom exercício pode favorecer o florescimento de valores espírituais, como justiça, liberdade, respeito mútuo... que produzem vida.
Sabemos que, em toda sociedade, estão presentes família, educação, economia, lazer, religião e política. O analfabeto político, porém, acredita que basta fortalecer uma dessas áreas para que os problemas do país se resolvam.
Por isso acredito que voto analfabeto não é somente o dos que não sabem ler ou escrever, mas também de graduados que preferem não se esforçar para ver além do que certos meios de comunicação, inclusive religiosos, divulgam.
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