sexta-feira, 31 de julho de 2009

Feliz Natal ou Boas Festas (2005)

Aparentemente não faz diferença se usamos a expressão Feliz Natal ou Boas Festas. Só aparentemente. Se assim não fosse, o tema não estaria sendo objeto de debate em alguns jornais dos Estados Unidos, nesta semana. Qual seria a diferença? A diferença está numa batalha que vem sendo travada entre fundamentalistas e moderados no que se refere à separação entre Igreja e Estado, naquele país.

Os moderados defendem que o Estado deve ser leigo, isto é, sem vinculo oficial com determinada religião. Crêem que, em virtude da diversidade religiosa, nenhuma religião deve receber tratamento especial da parte do Estado. Invertendo a idéia, todas devem receber tratamento igual.

Baseados nisso, defendem que, nas repartições ou salas de aula de escolas públicas, não deve haver manifestações religiosas que privilegiem determinada religião. Assim, orações ou uso de símbolos cristãos não devem ser utilizados em órgãos públicos em respeito à diversidade religiosa. Em outras palavras, ou todas religiões se expressam em órgãos públicos ou nenhuma.

É em nome da mesma igualdade de tratamento que os fundamentalistas defendem que não só a Teoria da Evolução deveria ser ensinada nas escolas públicas, mas também a crença na criação conforme descrita na Bíblia.

O problema é que há Estados naquele país em que 80% da população são batistas. Assim, desde o início foram acostumados, por exemplo, a orar em sala de aula de escolas públicas. No momento em que isso passou a ser questionado ou proibido, a informação que os conservadores fundamentalistas passaram a divulgar foi que isso seria uma espécie de perseguição religiosa ou negação da fé.

Observem, portanto, que o fato é um só, mas as explicações não.

A polêmica deste final de ano é que, no cartão enviado pela Casabranca, em vez de conter a expressão “Feliz Natal”, apareceria “Boas Festas”. Esta seria a expressão politicamente correta, defendem os moderados. Já os fundamentalistas, acusam Bush de não ser “nascido de novo”, isto é, não seria um genuíno cristão porque assinou cartões com a expressão “Boas Festas” – expressão genérica - e não “Feliz Natal” – expressão cristã -.

Eu também, por outras razões, não tenho certeza da genuinidade da fé cristã de Bush! Mas não sou Deus para julgá-lo. Porém, posso dizer que a fé de alguém não pode ser avaliada por expressar-se com um “Feliz Natal” ou “Boas Festas”. Pelo menos fora daquele contexto!

Diga-se de passagem, gostaria de ver os fundamentalistas discutindo a fé de Bush, não por causa de um cartão, mas por causa de algumas guerras em que envolveu seu país ou por algumas políticas externas adotadas, seja no campo econômico ou ambiental, por exemplo. Isso, porém, não interessa aos fundamentalistas. O importante é orar em sala de aula, dizer “Feliz Natal” e ser contra união civil homossexual, aborto e sexo antes do casamento.

Se nos Estados Unidos a luta dominante nos órgãos públicos tem sido no sentido de garantir um Estado leigo, no Brasil o próprio Estado descumpre a lei ao manter como oficial um feriado religioso católico – 12 de outubro – em desrespeito à Constituição. Mas isso já seria outra conversa.

Por hora, resta-me desejar um “Feliz Natal” aos Cristãos; “Boas Festas” aos não cristãos e a todos, que aproveitem a ocasião não somente para investir em presentes, comidas ou bebidas, mas, sobretudo, para avaliar a vida, especialmente na dimensão espiritual, cultivar a gratidão e praticar a solidariedade que só nos fazem bem.

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