sexta-feira, 31 de julho de 2009

O corpo vai ao culto (2005)

O corpo vai ao culto. Se não fosse, o evento seria fantasmagórico, pois sem as cordas vocais, sons não seriam emitidos, não haveria pregação, cânticos, beleza ou alegria. Ele não vai nu. A nudez despertaria sentimentos e reações inadequados à ocasião. Já que vai vestido, cada um se veste a seu modo, à luz de crenças e objetivos particulares ou do grupo. Os que vêem Deus como autoridade governamental, se vestem formalmente, como se fossem encontrar um Presidente; os que O vêem como um amigo pessoal, comparecem vestidos informalmente. Uns respeitam essas diferenças de visão; outros, fundamentalistas, são capazes de matar para "uniformizar" a todos.

No culto o corpo se expressa de diversas formas. Por ser na “casa de Deus” e não na dele, em reverência, permanece a maior parte do tempo sentado e não deitado, podendo, no transcorrer da programação, se postar de outras maneiras.

O culto, neste caso, é coletivo por isso, o corpo é estimulado a expressar sua boa vontade para com o outro apertando sua mão. Originalmente essa expressão indicava que duas pessoas estavam literalmente desarmadas, dispostas a viver em paz. Hoje significa espírito desarmado, abertura para aproximação. Esse mesmo sentimento pode ser expresso através de um recíproco movimento dos músculos faciais, conhecido como sorriso.

Em alguns momentos do culto, um respeito maior é solicitado. Nesse caso, o corpo é convidado a expressar esse sentimento colocando-se em pé. Ao longo da vida, aprendeu que ficar em pé diante do outro pode significar respeito. Na escola, quando um adulto adentrava à sala de aulas, ele assim agia. No exército, aprendeu a expressar-se assim diante dos "superiores", batendo continência. Além disso, após longo tempo sentado, ficar em pé pode produzir relaxamento e, consequentemente, melhorar a performance litúrgica.

Em alguns momentos do culto, o corpo ajoelha-se. Isso é símbolo de humildade e reconhecimento da soberania divina. Alguns não gostam dessa postura por preconceito. Alegam que ajoelhar-se é prática de católicos ou pentecostais. Os que não pensam assim, respeitam a dificuldade de idosos ou doentes, os quais permanecem sentados, postura que, nesse caso, não significa desrespeito à divindade.

As mãos podem ser usadas para expressar alegria, reconhecimento, bênção, legitimação, adoração ou como instrumento acústico. O encontro da palma da mão direita com a da esquerda, produz som. A esse movimento dá-se o nome de bater palmas. Seja por consenso ou por imposição dos que detém o poder, nem sempre a alegria ou o reconhecimento podem ser manifestos através das mãos. A facilidade de se aceitar a expressão corporal de reverência ou humildade é maior do que a de alegria. O contato das mãos com algum instrumento musical produz sons agradáveis aos nossos ouvidos e, por isso, cremos que são também agradáveis aos "ouvidos" de Deus. Há pouca resistência ao uso das mãos ao final do culto ou em ocasiões especiais, quando são levantadas sobre a cabeça, simbolizando bênção ou legitimação. Também já se aceita em alguns cultos, a recomendação paulina para se levantar as mãos em adoração(I Tim. 2.8). Vez por outra se fala de mãos que foram usadas para dar soco ou para apertar o pescoço do outro em "cultos administrativos". Mas isso é outra história...

Balançar-se ou dançar, como expressão rítmica ou de alegria, é difícil para corpos envelhecidos. Por serem eles, geralmente, os que detém o poder de definir as regras do culto, esse tipo de expressão é tido como inadequado, afinal, "o que não é bom pra mim, não é para os todos..." Corpos mais jovens, cheios de saúde e vigor, sentem-se tolhidos, daí os conflitos.

Movimentar-se de forma harmoniosa e sincronizada também é um meio de comunicação de mensagens. Pode não ser tão eficiente como a comunicação oral mas produz efeitos positivos nos apreciadores de arte. Há os que têm problemas com a libido e olham mais para o corpo, do que para o que ele está se propondo, mas isso é outro problema. Se um corpo fica encantado com a beleza de algum(a) corista e não presta atenção à mensagem da música coral, o problema não é do coral. O problema, portanto, não está nos movimentos corporais, mas nos olhos de quem os assiste. Quando os olhos estão doentes, até uma afegã dentro de uma burca ou uma freira em seu hábito provoca encantamento e excitação.

O corpo vai ao culto mas não coloca o rosto em terra como símbolo de temor ou espírito de oração, expressões corporais comuns nos tempos de Jesus. Quando um corpo brasileiro vai ao culto, conquanto essa prática - colocar o rosto em terra - seja bíblica (Mt. 26.39; Mt. 17.6 etc.), ela não é usada. É que, graças ao senso crítico, à capacidade de aprender história, de pensar, de lidar com os símbolos, com a sexualidade, com a cultura ou com a política, nem todos os corpos se dobraram àqueles que impõem interpretações literais da Bíblia, para favorecer esta ou aquela expressão corporal.

Quanto à vontade de Deus, nu Ele enviou o corpo ao mundo e nu o corpo voltará a Ele. Por isso, durante a sua estada neste planeta, os corpos podem aperfeiçoar maneiras saudáveis de cultuarem, com objetivos claros, sempre visando a glória do criador.

1 comentários:

Tania 23 de março de 2013 às 01:14  

amigo, você disse tudo.Estava procurando algum artigo que falasse sobre esse assunto. Concordo plenamente com você.Amanhã em minha classe de EBD, vão cair de pau em cima dos movimentos de dança dos jovens...Vou ler seu artigo na íntegra...
Depois posto aqui o que deu...
Deus abençoe e um abraço
de Tania Maria