Colégios confessionais versus colégios comerciais (2001)
Durante quase oito anos tive o privilégio de dirigir o Colégio Americano Batista, no Recife. Nesse período, participei ativamente da ANEB - Associação Nacional de Educandários Batistas, sendo seu presidente por duas vezes, bem como do SINEPE - Sindicato das Escolas Particulares de Pernambuco, sendo, diversos anos, membro do seu Conselho Consultivo. Desde então, ouço a seguinte pergunta: por que os colégios comerciais - pela finalidade lucrativa e não pejorativamente - estão crescendo e os confessionais - sem fins lucrativos - não apresentam a mesma performance? Para reflexão apresento as seguintes constatações:
A primeira constatação é de natureza conjuntural. O país se desenvolveu e mudou seu modelo econômico e a competitividade passou a ser a tônica. Da mesma forma como o Jornal Nacional da Globo, soberano no IBOPE até os anos oitenta, teve seus índices reduzidos com a chegada de outras emissoras, os colégios confessionais, única alternativa à educação pública, até a década de 70, também tiveram o número de alunos reduzidos, com a chegada dos colégios comerciais. Para que se tenha uma idéia, até o final dos anos 70, num raio de um quilômetro do Americano Batista, no Recife, havia em torno de dez concorrentes, todos confessionais; hoje, com os comerciais, esse número é superior a trinta. Nos bairros de periferia não havia alternativa para a classe média; hoje há um colégio em cada esquina, em função da política neo-liberal e "incapacidade" do governo de atender a demanda educacional. Além disso, na última década o número de filhos, por família, diminuiu e o empobrecimento da classe média tem sido quase que inversamente proporcional ao aumento de escolas, acirrando a competição no mercado consumidor de serviços educacionais.
A segunda constatação é de natureza ética. As famílias mais liberais que, para garantir uma educação de qualidade para seus filhos, suportavam o sistema de crenças dos colégios confessionais, encontraram nos comerciais o perfil desejado. Neles, o ensino religioso, por exemplo, foi substituído por temas abordados no vestibular, a formação de blocos de carnaval e a contratação de cantores famosos de musica popular para seus eventos é comum e alguns não fiscalizam o uso de fumo ou bebida alcoólica em suas dependências ou proximidade, fato que, além torná-los atraentes para os adolescentes, aumenta seus lucros, pela redução de pessoal de disciplina e religião. Pesquisas indicam que, a partir de 13 anos de idade, pelo menos 50% dos adolescentes decidem o colégio em que desejam estudar e a preferência da maior parte deles é pelos colégios "da moda", em que, geralmente, se sentem mais "livres". Os colégios confessionais, especialmente os evangélicos, perderam esse segmento, por razões teológico-filosóficas.
A primeira constatação é de natureza conjuntural. O país se desenvolveu e mudou seu modelo econômico e a competitividade passou a ser a tônica. Da mesma forma como o Jornal Nacional da Globo, soberano no IBOPE até os anos oitenta, teve seus índices reduzidos com a chegada de outras emissoras, os colégios confessionais, única alternativa à educação pública, até a década de 70, também tiveram o número de alunos reduzidos, com a chegada dos colégios comerciais. Para que se tenha uma idéia, até o final dos anos 70, num raio de um quilômetro do Americano Batista, no Recife, havia em torno de dez concorrentes, todos confessionais; hoje, com os comerciais, esse número é superior a trinta. Nos bairros de periferia não havia alternativa para a classe média; hoje há um colégio em cada esquina, em função da política neo-liberal e "incapacidade" do governo de atender a demanda educacional. Além disso, na última década o número de filhos, por família, diminuiu e o empobrecimento da classe média tem sido quase que inversamente proporcional ao aumento de escolas, acirrando a competição no mercado consumidor de serviços educacionais.
A segunda constatação é de natureza ética. As famílias mais liberais que, para garantir uma educação de qualidade para seus filhos, suportavam o sistema de crenças dos colégios confessionais, encontraram nos comerciais o perfil desejado. Neles, o ensino religioso, por exemplo, foi substituído por temas abordados no vestibular, a formação de blocos de carnaval e a contratação de cantores famosos de musica popular para seus eventos é comum e alguns não fiscalizam o uso de fumo ou bebida alcoólica em suas dependências ou proximidade, fato que, além torná-los atraentes para os adolescentes, aumenta seus lucros, pela redução de pessoal de disciplina e religião. Pesquisas indicam que, a partir de 13 anos de idade, pelo menos 50% dos adolescentes decidem o colégio em que desejam estudar e a preferência da maior parte deles é pelos colégios "da moda", em que, geralmente, se sentem mais "livres". Os colégios confessionais, especialmente os evangélicos, perderam esse segmento, por razões teológico-filosóficas.
Determinadas práticas administrativas que aumentam os lucros de alguns colégios comerciais são reprovadas pelos confessionais. Enquanto nos confessionais, as entidades mantenedoras adotam sistema regular de auditoria visando manter os procedimentos rigorosamente dentro da lei, uma parcela significativa de colégios comerciais trabalha com "caixa dois", com professores recebendo um valor na Carteira Profissional e outro "por fora" e não são rigorosos quanto a documentos fiscais nas transações com fornecedores, práticas que aumentam seus lucros.
O "marketing" usado por parte significativa dos colégios comerciais, é outro elemento ético que prejudica os confessionais. A forma como divulgam a aprovação no vestibular, por exemplo, nem sempre é honesta. Uma análise comparativa de dados indica um percentual de aprovação baixo mas a forma como a mídia é utilizada, ludibria os consumidores. Não podendo fazer o mesmo, por coerência, os confessionais levam desvantagem.
Um outro problema de marketing, enfrentado pelos confessionais, especialmente os evangélicos, é que, enquanto eventuais crises financeiro-administrativas dos comerciais são tratadas de forma restrita, pelos proprietários, nos confessionais, as informações chegam rapidamente ao conhecimento publico, pela natureza aberta do seu sistema organizacional. A relação que os confessionais mantém com as igrejas e a proximidade que os crentes mantém, uns dos outros, nas comunidades evangélicas, agilizam a divulgação de situações que funcionam como anti-marketing. Por exemplo: evangélicos demitidos ou que tiveram parentes ou amigos demitidos dos confessionais ou cujos interesses pessoais não foram atendidos pela Direção, denigrem a imagem da escola em suas igrejas e, no caso batista, tais situações chegam a ser debatidas nas assembléias convencionais. A transparência da informação possibilita até que "evangélico" proprietário de colégio comercial use informações restritas para denegrir a imagem do concorrente confessional na comunidade evangélica, para fortalecer a imagem de sua escola.
A terceira constatação é de natureza politíco-estrutural. As pessoas que compõe as Juntas Administrativas, no caso dos batistas, raramente são escolhidas por razões técnicas; predomina o critério político de representatividade. Isso faz com que a percepção empresarial seja anulada pela ação política. A divisão de atribuições entre diretores e Juntas não é clara ou não é obedecida: diretores não têm autonomia para dirigir e as Juntas não tem poderes para executar; se o colégio vai bem, a Junta reivindica o bônus; se vai mal, o ônus é do diretor.
As entidades mantenedoras cobram resultados de empresa privada mas adotam procedimentos de escola pública, especialmente na área de pessoal quanto à forma de contratação e demissão, formulação e reajustes salariais. No caso dos batistas, usuários dos serviços e até beneficiários de descontos financeiros nas mensalidades escolares, podem participar das Juntas Administrativas; empregados se tornam "donos" do colégio, nas assembléias convencionais, na condição de representantes de suas igrejas e membros das Juntas podem deixar o mandato e assumir funções remuneradas nos colégios. Isso permite articulações por interesses pessoais e corporativos, em detrimento dos institucionais.
A predominância de elementos políticos sobre os técnicos permitem, por exemplo, que nas assembléias convencionais, recomendações que alteram a política financeira da instituição sejam aprovadas em clima emocional e não racionalmente, em torno de uma mesa, como nos colégios comerciais. Essa estrutura democrática permite que pessoas feridas em seus interesses, por desemprego, por negativas de bolsa de estudo ou liberação de multas por atraso ou envio de seus nomes para o SPC, por inadimplência, se articulem para desestabilizar a Direção, causando danos que só são percebidos quando a crise se aprofunda. Quando uma pessoa levanta um problema nos fóruns denominacionais de debate, é difícil afirmar se o motivo é ajudar a instituição ou gerar instabilidade por interesses egoístas.
Outro aspecto oneroso para os colégios confessionais é a estrutura patrimonial. Enquanto muitas das escolas comerciais começam suas atividades em residências adaptadas e progridem para estruturas menos onerosas, algumas confessionais contam com verdadeiros sítios em áreas urbanas e prédios antigos que aumentam os custos de manutenção.
Finalmente, os confessionais evangélicos encontram dificuldade para encontrar executivos à altura das exigências do mercado pois seus diretores precisam ser da denominação, por razões estatutárias e filosóficas; pedagogos, por exigência da L.D.B.; competentes para administrar marcas tradicionais, grandes patrimônios, receita e pessoal em números elevados e pacientes para conviver com a pressão política e freqüentes tentativas de equiparação de seus salários com os dos pastores que, em sua maioria, não são bem remunerados, como a maior parte do povo brasileiro.
Na era da competição e da informação em tempo real, que exige conhecimento técnico de mercado, agilidade e perspicácia nas tomadas de decisão, a estrutura organizacional de boa parte das escolas confessionais é desvantajosa pois as decisões são tomadas através de processos burocratizados e lentos. O desafio, portanto, para as entidades mantenedoras, é encontrar formas estruturais que mantenham a fidelidade aos ideais filosóficos que as norteiam e, ao mesmo tempo, possibilitem caminhos que permitam a competitividade com ética numa economia neo-liberal.
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