J. Reis Pereira ensinava errado? (2003)
“Como professor de História Eclesiástica... e como Diretor d’O Jornal Batista, o Pr. José dos Reis Pereira ministrou a seus alunos, durante quase quatro decênios, a idéia de que o trabalho batista no Brasil começou...em 15 de outubro de 1882. Seguia ele os passos de A R. Crabtree... Fundamentado em tais argumentos... tornou-se o autor da proposta que fez do dia 15 de outubro o Dia Batista do Brasil...Hoje, a proposta teria dificuldade de ser aprovada, num plenário convencional, tal como há 35 anos” (Laudas de nossa história, OJB, 16, de 20.04.03).
Não é meu objetivo envolver-me na polêmica sobre o início do trabalho batista no Brasil, dentre outros, porque história eclesiástica não é minha praia. Muito menos me proponho a fazer um julgamento de J. Reis Pereira, pois seria um desrespeito à sua memória, aos seus familiares e aos batistas brasileiros, pelos destacados serviços por ele prestados. Por que, então, um título tão provocante? Simplesmente para atrair sua atenção para um fato importante ligado à educação teológica, referente ao processo de formação de nossos pensamentos, doutrinas e ministérios.
O que despertou minha atenção, na questão da “Proposta J. Reis Pereira”, foi a informação de que durante anos a história foi ensinada de uma forma, mas “novas informações deram nova visão da obra...” provocando no meio batista a possibilidade de rediscussão do assunto. Isto me levou a pensar o quão importante é sermos humildes e flexiveis para admitir que o mesmo pode ter se dado e continuar se dando em relação a outros aspectos da educação teológica e da formação ministerial. Da mesma forma que J. Reis Pereira, por seguir a cartilha de A. R. Crabtree, provavelmente a melhor e talvez a única existente à epóca, ensinou algo como sendo o certo que, com os olhos de hoje, não seria tão certo assim, também devemos admitir que muito do que construimos doutrinaria e metodologicamente foi resultado de um ou outro livro, de autores norte-americanos, representantes do pensamento de um segmento, de determinada época e região. Havendo hoje, abundância de literatura teológica, de diversas correntes de pensamento, oriundas de diversas regiões do planeta, que possibilita uma reflexão mais profunda sobre diferentes temas, não podemos ser inflexiveis e orgulhosos e rotular, pejorativamente, aqueles que estão abertos a revisar suas formas de perceber um tema, simplesmente por divergir daquilo que nos foi ensinado numa época em que a produção de textos e o acesso a eles eram precários.
A qualidade dos professores dos nossos seminários depende, primeiro, de sua capacidade crítica; segundo, da abertura que a instituição dá para acesso a fontes divergentes; terceiro, de sua disposição para pesquisar o máximo de fontes diferentes sobre um mesmo assunto; quarto, de sua coragem de não se posicionar politicamente apenas para agradar pessoas ou manter o status ou o emprego, em detrimento da verdade. Além disso, precisamos considerar que ainda engatinhamos em termos de pesquisa teológica no Brasil. Se fizermos um levantamento das dissertações de mestrado e teses de doutorado dos nossos mestres e doutores, talvez constatemos que poucos ousaram avançar além das fronteiras do pensamento dominante. É que o limite da verdade é o pensamento estabelecido pelos antepassados, de preferência do mesmo partido denominacional. Essa situação se agrava pela força política daqueles que creem que seminário é espaço para formação de técnicos em ministério, eternos reprodutores de um modo de pensar e enxergar as coisas, e não de ministros com sólida formação teológica.
Não existe nada mais cruel e ultrapassado, do ponto de vista metodológico, do que um professor de história encher a cabeça dos alunos com datas e exigir que, no dia da avaliação, eles comprovem que memorizou-as. Discutir os acontecimentos, destacando que alternativas existiam à época, que interesses estavam envolvidos e porque prevaleceu um ponto de vista e não o outro, por exemplo, é muito mais relevante, se o objetivo é aprender com o passado para construir novos tempos, em vez de fortalecer ideologias e alimentar imagens de “heróis”. O mesmo se pode dizer da teológia sistemática. Cruel é o seminário ou o professor que não possibilita, aos alunos, acesso a pensamentos divergentes, colocando-os honestamente em discussão, para construir, coletivamente, um caminho em direção à verdade. Se não fazemos isso em nome da preservação doutrinária, indicamos com nossa postura que a verdade que defendemos é frágil e não resiste ao menor confronto.
J. Reis Pereira ensinava errado? Se considerarmos as informações disponíveis à época, talvez não. Se considerarmos as informações disponíveis hoje, talvez sim. A questão, porém, não é essa. A chave da questão do certo ou errado é o acesso às informações disponíveis e os conhecimentos construídos à partir delas. Se não houver liberdade para veiculação de informações, nem interesse por reflitir crítica e construtivamente em torno delas, nossos ministros não passarão de meros reprodutores, meros copiadores da percepção de terceiros, portanto, extremamente bem preparados para copiar qualquer novidade do mercado religioso, inclusive aquelas que causam empobrecimento bíblico e conflitos desnecessários nas igrejas e denominação.
Não é meu objetivo envolver-me na polêmica sobre o início do trabalho batista no Brasil, dentre outros, porque história eclesiástica não é minha praia. Muito menos me proponho a fazer um julgamento de J. Reis Pereira, pois seria um desrespeito à sua memória, aos seus familiares e aos batistas brasileiros, pelos destacados serviços por ele prestados. Por que, então, um título tão provocante? Simplesmente para atrair sua atenção para um fato importante ligado à educação teológica, referente ao processo de formação de nossos pensamentos, doutrinas e ministérios.
O que despertou minha atenção, na questão da “Proposta J. Reis Pereira”, foi a informação de que durante anos a história foi ensinada de uma forma, mas “novas informações deram nova visão da obra...” provocando no meio batista a possibilidade de rediscussão do assunto. Isto me levou a pensar o quão importante é sermos humildes e flexiveis para admitir que o mesmo pode ter se dado e continuar se dando em relação a outros aspectos da educação teológica e da formação ministerial. Da mesma forma que J. Reis Pereira, por seguir a cartilha de A. R. Crabtree, provavelmente a melhor e talvez a única existente à epóca, ensinou algo como sendo o certo que, com os olhos de hoje, não seria tão certo assim, também devemos admitir que muito do que construimos doutrinaria e metodologicamente foi resultado de um ou outro livro, de autores norte-americanos, representantes do pensamento de um segmento, de determinada época e região. Havendo hoje, abundância de literatura teológica, de diversas correntes de pensamento, oriundas de diversas regiões do planeta, que possibilita uma reflexão mais profunda sobre diferentes temas, não podemos ser inflexiveis e orgulhosos e rotular, pejorativamente, aqueles que estão abertos a revisar suas formas de perceber um tema, simplesmente por divergir daquilo que nos foi ensinado numa época em que a produção de textos e o acesso a eles eram precários.
A qualidade dos professores dos nossos seminários depende, primeiro, de sua capacidade crítica; segundo, da abertura que a instituição dá para acesso a fontes divergentes; terceiro, de sua disposição para pesquisar o máximo de fontes diferentes sobre um mesmo assunto; quarto, de sua coragem de não se posicionar politicamente apenas para agradar pessoas ou manter o status ou o emprego, em detrimento da verdade. Além disso, precisamos considerar que ainda engatinhamos em termos de pesquisa teológica no Brasil. Se fizermos um levantamento das dissertações de mestrado e teses de doutorado dos nossos mestres e doutores, talvez constatemos que poucos ousaram avançar além das fronteiras do pensamento dominante. É que o limite da verdade é o pensamento estabelecido pelos antepassados, de preferência do mesmo partido denominacional. Essa situação se agrava pela força política daqueles que creem que seminário é espaço para formação de técnicos em ministério, eternos reprodutores de um modo de pensar e enxergar as coisas, e não de ministros com sólida formação teológica.
Não existe nada mais cruel e ultrapassado, do ponto de vista metodológico, do que um professor de história encher a cabeça dos alunos com datas e exigir que, no dia da avaliação, eles comprovem que memorizou-as. Discutir os acontecimentos, destacando que alternativas existiam à época, que interesses estavam envolvidos e porque prevaleceu um ponto de vista e não o outro, por exemplo, é muito mais relevante, se o objetivo é aprender com o passado para construir novos tempos, em vez de fortalecer ideologias e alimentar imagens de “heróis”. O mesmo se pode dizer da teológia sistemática. Cruel é o seminário ou o professor que não possibilita, aos alunos, acesso a pensamentos divergentes, colocando-os honestamente em discussão, para construir, coletivamente, um caminho em direção à verdade. Se não fazemos isso em nome da preservação doutrinária, indicamos com nossa postura que a verdade que defendemos é frágil e não resiste ao menor confronto.
J. Reis Pereira ensinava errado? Se considerarmos as informações disponíveis à época, talvez não. Se considerarmos as informações disponíveis hoje, talvez sim. A questão, porém, não é essa. A chave da questão do certo ou errado é o acesso às informações disponíveis e os conhecimentos construídos à partir delas. Se não houver liberdade para veiculação de informações, nem interesse por reflitir crítica e construtivamente em torno delas, nossos ministros não passarão de meros reprodutores, meros copiadores da percepção de terceiros, portanto, extremamente bem preparados para copiar qualquer novidade do mercado religioso, inclusive aquelas que causam empobrecimento bíblico e conflitos desnecessários nas igrejas e denominação.
1 comentários:
Bom seria que essa visão fosse discutida em um fórum de educação teológica batista, proposto pelo nosso STBNE.
Postar um comentário