sexta-feira, 31 de julho de 2009

Fundamentação e fundamentalismo (Considerações finais) (2003)

Meu objetivo ao tecer comentários sobre o tema em epígrafe foi oferecer argumentos para esclarecer que o fato de não sermos fundamentalistas não significa que não tenhamos fundamento na fé que abraçamos ou nas doutrinas que defendemos. Tentei esclarecer que, por mais bem fundamentadas que sejam nossas doutrinas, devemos ser humildes para reconhecer que não devemos considerar nossas definições absolutas; antes, devemos estar sempre abertos ao diálogo, especialmente com aqueles que não crêem como nós cremos.

Estou convencido de que para construir a paz não precisamos abrir mão de nossas convicções nem impô-las aos outros. Basta admitir que somos diferentes e que o Deus que se revela como Espírito Santo sopra onde quer, não é propriedade particular de uma denominação ou religião, é o principal interessado na salvação humana, trabalha nos corações humanos convencendo-os da verdade , da justiça e do juízo. Portanto, convencimento não se estabelece com legalismo, nem com caça às bruxas, mas com oração e manifestação de amor. O próprio Paulo, outrora fundamentalista a ponto de perseguir cristãos para prendê-los, ensina aos de Éfeso a “seguirem a verdade em amor” (Efésios ), cada um respeitando o outro e tendo firmeza em suas próprias convicções (Rom. 14)

Nem mesmo a tolerância, postura aparentemente democrática, é a mais adequada para quem não deseja ser fundamentalista. Tolerância indica que somos donos da verdade mas, por “bondade”, permitimos a presença de pensamentos divergentes. Não, na verdade pensar diferente não somente é uma direito inalienável de qualquer indivíduo, mas também uma condição natural de qualquer pessoa no processo de construção do conhecimento.

Pessoas em estágios diferentes de construção do conhecimento pensam de maneira diferente. Por isso é natural encontrarmos pessoas que outrora demonstraram fortes traços de fundamentalismo adotarem posturas mais flexiveis em outros momentos da vida. Todos nós, em algum momento da existência, tivemos nossas posturas fundamentalistas. Lembro-me de quando cursava o primeiro ano colegial. A professora de história contou-nos uma versão da história da igreja diante do que, afoito, manifestei meu protesto. Bondosamente ela permitiu que na aula seguinte eu fizesse uma exposição da história do ponto de vista batista. Com muito orgulho apresentei O RASTRO DE SANGUE e dei meu recado. Quando comecei a estudar História do Cristianismo e História dos Batistas descobri que aquela era uma versão sem fundamentos sólidos. Abandonei-a convictamente!!!

Talvez o principal problema do fundamentalismo teológico seja não admitir que a Bíblia deva ser interpretada e não, simplesmente, ser aplicada ao pé da letra. O texto que segue, em que pese certa irreverência ou ironia, ilustra bem o problema do literalismo:

(Texto de aluno de teologia sobre homossexualismo)

O mais grave é que tal critério de interpretação – o literal – não é usado para todos textos. Geralmente é usado para aqueles ligados a moral do corpo. Conhecimentos científicos são usados quando confirmam suas teses; quando as contrariam, são rejeitados como demoníacos.

Acima de tudo devemos analisar não a superfície de nossas crenças e doutrinas, mas os pressupostos que fundamentam tais crenças e doutrinas.

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