Fundamentação e fundamentalismo (II) (2003)
Na primeira parte deste artigo tentei esclarecer que a boa fundamentação das teses que abraçamos é uma postura exigida em todos os círculos de construção do conhecimento, não devendo ser diferente na formulação de pensamentos ou doutrinas bíblico-cristãs. Defendi que o que diferencia fundamentalismo dos que buscam fundamentação sólida para seus argumentos é a postura frente às proposições conceituais. Fundamentalistas absolutizam – idolatram – a tal ponto suas definições doutrinárias que são incapazes de aceitar a existência de posicionamentos divergentes, sem combater ferozmente, tanto tais conceitos quanto aqueles que os formulam.
De acordo com Rubem Alves, o fundamentalismo protestante teria surgido da necessidade de se contestar a crença de que somente a Igreja Católica seria verdadeira por estar ligada, por uma linha histórica, até as igrejas apostólicas. Segundo ele, a produção de Confissões de Fé foi a forma encontrada para provar que o vínculo das igrejas evangélicas com as igrejas apostólicas seria seus compromissos com a essência da fé descrita nos textos bíblicos. Tal busca pela essência teria virado uma obsessão, surgindo, então, a idéia da reta doutrina e fé (ortodoxia) e da adesão doutrinária como necessária à salvação, fato que, na prática, torna a fé na graça de Deus insuficiente. Daí a necessidade que o mundo fundamentalista tem de ser fixo, estável, dominado por idéias e não por sentimentos. (Dogmatismo e Tolerância, Edições Paulinas)
Enquanto fundamentação é uma expressão de natureza epistemológica, fundamentalismo é um termo de natureza predominantemente política, com significado amplo e profundo, passível de aplicação a todos os campos, cujos adeptos se sentem os únicos portadores da ‘única verdade’ conceitual existente. Podemos encontrar fundamentalistas na religião, nas artes, na literatura, na economia, na política, na educação e assim por diante. Por isso, seria reducionismo classificar alguém como fundamentalista simplesmente porque crê num Deus que se revela como criador ou como salvador, em Jesus ou como consolador, no Espírito Santo; ou porque fundamenta suas doutrinas de fé à partir da Bíblia ou adota posições conservadoras. Arrisco dizer, inclusive, que muitos daqueles que são membros de igrejas cuja razão social inclui o termo fundamentalista, não são, a rigor, fundamentalistas pois o que querem, de fato, é viver em paz com Deus e com seus semelhantes e não agir como políticos da religião ou como fanáticos por disputas doutrinárias. Seria injusto se não arriscasse dizer que alguns que se apresentam como progressistas, liberais ou modernos também podem apresentar traços fundamentalistas.
Fundamentalismo é, acima de tudo, uma postura política permanentemente extremista, radical. Para fazer prevalecer seus pontos-de-vista, seus seguidores são capazes não só de denegrir a imagem dos que pensam diferente, matando-os socialmente (inclusive para a vida denominacional), mas também de caçá-los como bruxas para lançá-los, física e espiritualmente no “mármore do inferno”. Para eles, os que tentam compreender a realidade usando lentes diferentes das suas são a própria encarnação do demônio. Nisso a história comprova que os Protestantes Fundamentalistas conseguiram se igualar aos Católicos Medievais.
Enquanto buscar fundamentação para teses é uma postura desejável e necessária, a postura fundamentalista é nociva pois, como escreveu Paul Tillich, ela “eleva algo finito e transitório a uma validez infinita e eterna. Neste sentido o fundamentalismo tem traços demoníacos. Ele destrói a humilde honestidade da busca pela verdade, divide a consciência de seus seguidores que refletem e os torna fanáticos. Isto porque são forçados a suprimir elementos da verdade dos quais eles estão veladamente conscientes” (Teologia Sistemática, Editora Sinodal). Por isso temos alertado dos perigos que o fundamentalismo representa.
Seria, o fundamentalismo, fruto de insegurança emocional? De necessidade psicológica de poder, de dominação? De infantilidade espiritual? Seria manifestação de orgulho inveterado? De oportunismo político? De ignorância intelectual? A resposta a essas questões exigem aprofundamento e conhecimentos específicos. Por isso, deixo-as no ar.
De acordo com Rubem Alves, o fundamentalismo protestante teria surgido da necessidade de se contestar a crença de que somente a Igreja Católica seria verdadeira por estar ligada, por uma linha histórica, até as igrejas apostólicas. Segundo ele, a produção de Confissões de Fé foi a forma encontrada para provar que o vínculo das igrejas evangélicas com as igrejas apostólicas seria seus compromissos com a essência da fé descrita nos textos bíblicos. Tal busca pela essência teria virado uma obsessão, surgindo, então, a idéia da reta doutrina e fé (ortodoxia) e da adesão doutrinária como necessária à salvação, fato que, na prática, torna a fé na graça de Deus insuficiente. Daí a necessidade que o mundo fundamentalista tem de ser fixo, estável, dominado por idéias e não por sentimentos. (Dogmatismo e Tolerância, Edições Paulinas)
Enquanto fundamentação é uma expressão de natureza epistemológica, fundamentalismo é um termo de natureza predominantemente política, com significado amplo e profundo, passível de aplicação a todos os campos, cujos adeptos se sentem os únicos portadores da ‘única verdade’ conceitual existente. Podemos encontrar fundamentalistas na religião, nas artes, na literatura, na economia, na política, na educação e assim por diante. Por isso, seria reducionismo classificar alguém como fundamentalista simplesmente porque crê num Deus que se revela como criador ou como salvador, em Jesus ou como consolador, no Espírito Santo; ou porque fundamenta suas doutrinas de fé à partir da Bíblia ou adota posições conservadoras. Arrisco dizer, inclusive, que muitos daqueles que são membros de igrejas cuja razão social inclui o termo fundamentalista, não são, a rigor, fundamentalistas pois o que querem, de fato, é viver em paz com Deus e com seus semelhantes e não agir como políticos da religião ou como fanáticos por disputas doutrinárias. Seria injusto se não arriscasse dizer que alguns que se apresentam como progressistas, liberais ou modernos também podem apresentar traços fundamentalistas.
Fundamentalismo é, acima de tudo, uma postura política permanentemente extremista, radical. Para fazer prevalecer seus pontos-de-vista, seus seguidores são capazes não só de denegrir a imagem dos que pensam diferente, matando-os socialmente (inclusive para a vida denominacional), mas também de caçá-los como bruxas para lançá-los, física e espiritualmente no “mármore do inferno”. Para eles, os que tentam compreender a realidade usando lentes diferentes das suas são a própria encarnação do demônio. Nisso a história comprova que os Protestantes Fundamentalistas conseguiram se igualar aos Católicos Medievais.
Enquanto buscar fundamentação para teses é uma postura desejável e necessária, a postura fundamentalista é nociva pois, como escreveu Paul Tillich, ela “eleva algo finito e transitório a uma validez infinita e eterna. Neste sentido o fundamentalismo tem traços demoníacos. Ele destrói a humilde honestidade da busca pela verdade, divide a consciência de seus seguidores que refletem e os torna fanáticos. Isto porque são forçados a suprimir elementos da verdade dos quais eles estão veladamente conscientes” (Teologia Sistemática, Editora Sinodal). Por isso temos alertado dos perigos que o fundamentalismo representa.
Seria, o fundamentalismo, fruto de insegurança emocional? De necessidade psicológica de poder, de dominação? De infantilidade espiritual? Seria manifestação de orgulho inveterado? De oportunismo político? De ignorância intelectual? A resposta a essas questões exigem aprofundamento e conhecimentos específicos. Por isso, deixo-as no ar.
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