sexta-feira, 31 de julho de 2009

Quando o muito não é o melhor (2004)

“Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou na caixa de ofertas mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuia para viver” (Mc. 12.43-44)

No sistema de valores do Reino de Deus, muito não é sinônimo de melhor. O exemplo mais claro disso é o da comparação feita por Jesus entre a oferta da viuva pobre e a dos fariseus. Ao observar que eles davam muito e ela quase nada, Jesus destacou que ela dava mais do que eles. Usando o sistema da proporcionalidade, ele esclareceu que enquanto eles davam das sobras, ela dava tudo que possuia.

O muito deles era suficiente para alcançar seus objetivos: serem vistos pelos homens. E como a maioria olha o que aparenta – o valor dado – e não o que representa – o esforço despreendido -, eles passavam a vida toda sendo elogiados pelas grandes ofertas que, na verdade, não representavam qualquer esforço, pois, para eles, eram tão somente sobras.

O pouco dela não era valorizado pelas pessoas, afinal, o que poderia ser comprado com o que ela dava? E se ela tinha tão pouco, nem mesmo interessava ser amigo dela afinal, “pobre é odiado até pelo seu vizinho; mas os amigos dos ricos são muitos” (Pv. 14.20). Com tão pouco ela não tinha prestígio e muito menos poder comunitário.

Imagino, portanto, que ao contribuir ela o fazia sem chamar atenção e, colocada a oferta no gasofilácio, recolhia-se a sua insignificância social. Os fariseus, provavelmente, não. Tiravam todo o proveito que a oportunidade de estar diante da plateia lhes proporcionava. Esse comportamento era tão comum entre eles que merecia destaque nas críticas de Jesus.

Apesar de usar o raciocinio matemático, penso que Jesus não estava pensando matematicamente, ao fazer a comparação. Na verdade ele quiz chamar a atenção dos discípulos para o esforço de cada um.

Os fariseus não faziam esforço porque seus propósitos não eram o engrandecimento do Reino. Eles não visualizavam as necessidades da imensa população que precisava ser alcançada pelo amor de Deus. Seus objetivos eram, tão somente, ser vistos pelos homens. O valor dedicado era calculado na proporção exata, necessária ao cumprimento dessa meta. Alcançada a meta, findavam-se as preocupações.

A viuva, provavelmente, não. Talvez ela enxergasse as necessidades do Reino, não as suas próprias, e as multidões que seriam alcançadas com sua cooperação. E, movida por esse sentimento, dar tudo o que possuia, pensava ela, era o mínimo que podia fazer, pois as necessidades da causa sempre são maiores do que a disponibilidade de recursos financeiros.

A virtude, portanto, aprendemos na história, não está no dar pouco ou muito, mas na visão que se tem e no esforço que se faz ao cooperar. Esse princípio pode ser aplicado não somente a valores financeiros, mas também ao tempo que investimos, às funções que ocupamos e às atividades que desenvolvemos na igreja. O muito, pode não ter valor algum se as motivações não forem apropriadas, simplesmente porque nem sempre muito é sinônimo de melhor.

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