Título e autoridade (2004)
Houve época em que a autoridade de um pensamento dependia da pessoa que o defendia. Se a pessoa gozava de prestígio social, especialmente em termos filosóficos, sua palavra era respeitada. Por isso, quando desejava fazer prevalecer seu modo de pensar, bastava citar alguém com “autoridade”, defensora das mesmas idéias. Era o tal do “argumento de autoridade”.
Hoje, o modo de conferir autoridade a um pensamento foi transferido para os títulos. Quanto mais títulos acadêmicos ou sociais, ou quanto mais elevados, na hierarquia, forem os títulos, maior autoridade. Essa maneira de tentar fazer prevalecer uma idéia ainda é muito usada. Se se pretende convencer acadêmicos, faz-se referência a autoridades do mundo acadêmico; se ao publico cristão, cita-se autoridade política do mundo eclesiástico, um pastor, por exemplo, especialmente se for de igreja cuja receita financeira, patrimônio ou quantidade de membros é acima da média.
Títulos, entretanto, não são, necessariamente, sinônimos de autoridade. Primeiro, porque título se consegue com certa facilidade. Hoje em dia, com disposição e dinheiro, se pode ter acesso a diversos títulos. Com a desqualificação da educação, eles se tornaram ainda mais fáceis. Segundo, porque além da possilidade do exercício profissional, o máximo que o título confere é autoridade transitória num campo específico do saber. “Transitória”, porque conhecimento e sua construção não se esgotam com acesso a diploma. “Específico”, porque a autoridade está vinculada ao tema (e, talvez, à área) a que se dedicou.
Quem conhece como se tem acesso a títulos de pós-graduação sabe que, com algumas variações, os seguintes passos são observados: 1) a pessoa escolhe um tema para ser pesquisado; 2) frequenta uma carga horária “x” de estudos em sala de aula tendo como facilitador alguém que se acredita ter dominio maior do que ela em temas afins; 3) aplica-se à leitura de textos relacionados ao assunto e afins; 4) produz, na trajetória, textos visando exercitar sua capacidade de elaborar, sistematizar e fundamentar seus pensamentos; 5) ao final, apresenta uma dissertação ou defende uma tese em torno do tema.
Para avaliarmos a qualidade do título, precisamos considerar ainda o fator ideológico da escola onde foi alcançado. Em algumas instituições, certos temas são dogmatizados, portanto, não podem ser objeto de discussão, de reestudo. Para garantir sucesso na manutenção dos dogmas, exige-se que os professores tenham as seguintes qualidades: 1) subserviência aos dogmas estabelecidos; 2) capacidade de impedir que tais dogmas sejam discutidos em sala de aula; 3) capacidade de convencer os alunos de que seu ponto de vista é o único correto; 4) capacidade de impedir que seus alunos tenham acesso a livros que não apoiem tais dogmas. Em que pese o reconhecimento pelo trabalho do aluno, esses critérios depreciam o título.
Quando nos deparamos diante da palavra de alguém que ostenta um título acadêmico, ficamos extasiados. E se o título foi conquistado em São Paulo, Estados Unidos ou Europa, ai então ficamos encantados. Hegemonia político-econômica da região na qual a escola está inserida agrega, em termos de marketing, valor ao título. Isso, porém, também tem seus mitos.
Esses mitos fazem com que, quando uma pessoa passa a usar o título diante do nome, nós mortais tememos questioná-las como se fossem detentoras de profundos conhecimentos em todas as áreas. Nos plenários de assembléias, basta anunciar que a palavra é do “doutor fulano de tal” para todos silenciarem.
Em algumas instituições da denominação, na hora de preencher cargos de direção executiva, simplesmente porque o individuo alcançou um título defendendo a tese em torno das implicações filosóficas do tempo verbal da palavra grega usada no manuscrito x do evangelho tal, ele está habilitado para administrar gente, dinheiro, patrimônio, política e pensamento institucionais. É mole?
Isso tudo, sem falar no uso do título de doutor, por bacharéis de direito, medicina, engenharia... comum no Brasil. Ai dói!
Hoje, o modo de conferir autoridade a um pensamento foi transferido para os títulos. Quanto mais títulos acadêmicos ou sociais, ou quanto mais elevados, na hierarquia, forem os títulos, maior autoridade. Essa maneira de tentar fazer prevalecer uma idéia ainda é muito usada. Se se pretende convencer acadêmicos, faz-se referência a autoridades do mundo acadêmico; se ao publico cristão, cita-se autoridade política do mundo eclesiástico, um pastor, por exemplo, especialmente se for de igreja cuja receita financeira, patrimônio ou quantidade de membros é acima da média.
Títulos, entretanto, não são, necessariamente, sinônimos de autoridade. Primeiro, porque título se consegue com certa facilidade. Hoje em dia, com disposição e dinheiro, se pode ter acesso a diversos títulos. Com a desqualificação da educação, eles se tornaram ainda mais fáceis. Segundo, porque além da possilidade do exercício profissional, o máximo que o título confere é autoridade transitória num campo específico do saber. “Transitória”, porque conhecimento e sua construção não se esgotam com acesso a diploma. “Específico”, porque a autoridade está vinculada ao tema (e, talvez, à área) a que se dedicou.
Quem conhece como se tem acesso a títulos de pós-graduação sabe que, com algumas variações, os seguintes passos são observados: 1) a pessoa escolhe um tema para ser pesquisado; 2) frequenta uma carga horária “x” de estudos em sala de aula tendo como facilitador alguém que se acredita ter dominio maior do que ela em temas afins; 3) aplica-se à leitura de textos relacionados ao assunto e afins; 4) produz, na trajetória, textos visando exercitar sua capacidade de elaborar, sistematizar e fundamentar seus pensamentos; 5) ao final, apresenta uma dissertação ou defende uma tese em torno do tema.
Para avaliarmos a qualidade do título, precisamos considerar ainda o fator ideológico da escola onde foi alcançado. Em algumas instituições, certos temas são dogmatizados, portanto, não podem ser objeto de discussão, de reestudo. Para garantir sucesso na manutenção dos dogmas, exige-se que os professores tenham as seguintes qualidades: 1) subserviência aos dogmas estabelecidos; 2) capacidade de impedir que tais dogmas sejam discutidos em sala de aula; 3) capacidade de convencer os alunos de que seu ponto de vista é o único correto; 4) capacidade de impedir que seus alunos tenham acesso a livros que não apoiem tais dogmas. Em que pese o reconhecimento pelo trabalho do aluno, esses critérios depreciam o título.
Quando nos deparamos diante da palavra de alguém que ostenta um título acadêmico, ficamos extasiados. E se o título foi conquistado em São Paulo, Estados Unidos ou Europa, ai então ficamos encantados. Hegemonia político-econômica da região na qual a escola está inserida agrega, em termos de marketing, valor ao título. Isso, porém, também tem seus mitos.
Esses mitos fazem com que, quando uma pessoa passa a usar o título diante do nome, nós mortais tememos questioná-las como se fossem detentoras de profundos conhecimentos em todas as áreas. Nos plenários de assembléias, basta anunciar que a palavra é do “doutor fulano de tal” para todos silenciarem.
Em algumas instituições da denominação, na hora de preencher cargos de direção executiva, simplesmente porque o individuo alcançou um título defendendo a tese em torno das implicações filosóficas do tempo verbal da palavra grega usada no manuscrito x do evangelho tal, ele está habilitado para administrar gente, dinheiro, patrimônio, política e pensamento institucionais. É mole?
Isso tudo, sem falar no uso do título de doutor, por bacharéis de direito, medicina, engenharia... comum no Brasil. Ai dói!
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