sábado, 4 de julho de 2009

Tocando em frente, de Almir Sater

As vezes me sinto interiormente como uma larva ao deixar o casulo.
Você já assistiu esta cena?
O sofrimento dela é tal que a gente sente vontade de ajudar, mas ajudá-la, por mais paradoxal que seja, seria prejudicial.
Ela precisa superar sozinha o processo, sair meio melecada, ter seu momento desprezível, para daí tornar-se uma bela borboleta.
Não sei se me tornarei uma borboleta.
Não sei se sairei colorido e capaz de voar livremente.
Não sei se a leveza será minha marca
Não sei se embelezarei os campos verdejantes.
Não sei se as crianças quererão correr atrás de mim tentando me apanhar.
Nem sei se um dia toparei com o parabrisa de um carro nas estradas da vida.
Na verdade, não sei se minha "sina" é transpor o obstáculo ou conviver com ele para sempre.
Esse processo não tem nada a ver com crise espiritual
Talvez uma crise espiritual fosse até interessante.
Penso que já equacionei a questão da espiritualidade.
Estou falando de realidade, de existência, de circusntãncias vitais, de jogo de xadrez.
Falo de sentimentos, de experiências, não de raciocínio, de lógica, de pensamentos.
Falo de decepções, desencantos, de falta de colo, de ombro, de abraço, de cafuné, de "xero".
Não falo da falta de dinheiro, casa, roupa, comida, transpoprte, agito, eventos, multidão.
Falo de saudades, de lágrimas, de distãncias, de passado que não volta mais, de equívocos que não podem mais ser corrigidos, mas que insistem em espremer a válvula que faz lágrimas rolarem.
Acho que estou cansado, extremamente cansado, de ser tratado como um papel, uma função, um par de orelhas.
Estou começando a gostar imensamente da idéia de ser ninguém para poder me sentir alguém e aí reside, talvez, a transição pela qual estou tendo a sensação de estar passando.
Começo a pensar que ser "nada" poderia me fazer mais feliz do que ser alguma "coisa".
Olho pro futuro, calculo o tempo que me resta e percebo que ainda há tempo de fazer algo diferente daquilo que tenho feito há décadas.
Não estou insatifeito com o que fiz até aqui. Estou insatisfeito com o que não fiz.
E o que não fiz é muito mais simples e fácil de fazer do que o que fiz.
Acho que está chegando minha hora.
Mas não espere que ela venha com sinais espetaculares. Não, ela está vindo devagar, devagarinho. E vou experimentando sua chegada como aquele menino pobre que ganhou um doce e por se sentir tão feliz, vai lambendo, lentamente, em vez de mastigá-lo. Lambendo bem vagarosamente a fim de que nunca termine e o prazer pareça eterno enquanto dure.
Talvez os que me cercam nunca consigam entender e muito menos perceber.
Alguns, talvez, percebam e se sintam incomodados.
O incômodo deles sim, poderá precipitar a chegada da borboleta ou a morte da larva.
Enquanto isso, como Almir Sater, vou "tocando em frente".



Tocando em Frente
Almir Sater
Composição: Almir Sater e Renato Teixeira

Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia.
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
e no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história,
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

2 comentários:

Adna Oliveira 5 de julho de 2009 às 01:12  

Maravilhosamente lindo e REal!!

O Senhor é realmente inspirado !!

Abraços

Unknown 13 de outubro de 2009 às 16:38  

Mesmo assim, vc sabe que tem colo, xero e muito cafuné heheeh. Bjs e toca a boiada em frente sempre!