sábado, 15 de agosto de 2009

Cristo e seu amor aos necessitados

Textos:
Texto Bíblico: Mateus 14 e 15
Texto Áureo: Mateus 15.30-31

Comentários da lição:
A chegada do Reino de Deus em nossas vidas traz consigo o imperativo de nos ajudarmos mutuamente em nossas necessidades. Da mesma forma como Jesus demonstrava compaixão pelas pessoas, assim também devemos agir. Seja denunciando o pecado que domina a sociedade e suas estruturas, seja questionando as tradições que prejudicam o desenvolvimento saudável da vida, seja colocando o pouco que temos nas mãos de Jesus, o fato é que não podemos nos omitir diante das carências da humanidade, em todas as suas dimensões.


Mateus 14.1-12 O compromisso com a verdade e a morte de João

João morreu por causa do seu compromisso com a verdade. Mas, mais do que compromisso com a verdade em sua própria vida, João estava comprometido com o estabelecimento da justiça - no caso com o cumprimento da lei - nas relações sociais, inclusive nos mais altos escalões da sociedade. Assim, seu compromisso levou-o a denunciar a relação ilegal que o governador mantinha com a sua cunhada. Tal denúncia custou-lhe a própria vida.
A morte precoce tem sido o fim daqueles que optam por colocar os interesses do Reino acima dos interesses pessoais e das conveniências sociais. João foi um exemplo do ensino posterior de Jesus: "se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto" (Jo. 12.24). Por isso, não só na vida, mas também na morte, ele frutificou. Sua vida chegou ao fim mas o fruto do seu ministério continua sendo colhido.

As necessidades materiais da humanidade são fruto de decisões políticas dos mais elevados escalões da sociedade. Lutar para que as pessoas que ocupam tais escalões ajam de acordo com os valores do Reino de Deus é uma das maneiras de demonstrarmos nosso amor pelos necessitados.

Mateus 14.13-21;15.29-39 - Nossos recursos a serviço dos necessitados

Conquanto haja estudiosos que defendam que as duas histórias são o mesmo acontecimento, há motivos para que não creiamos assim. R.V.G. Tasker ( Mateus, Introdução e Comentário, Editora Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, 1980) diz que não haveria motivos para Mateus e Marcos ocuparem valioso espaço nos papiros para registrarem duas versões de uma mesma história; depois, o próprio Mateus(16.9-10) trata os fatos como diferentes. Segundo ele, na primeira experiência Jesus ensina aos discípulos a serem dependentes dEle e na segunda, a serem empáticos com o mundo gentílico.

Na primeira multiplicação, vemos os discípulos reconhecendo que havia um problema a ser resolvido: o lugar era deserto, a noite chegava e as pessoas estavam sem comer(14.15); a solução mais fácil para o problema seria despedir a multidão(14.15); Jesus porém, coloca sobre os ombros deles a responsabilidade de resolver o problema(14.16); diante do desafio, os discípulos perceberam que o material disponível seria insuficiente(14.17); Jesus, então, intervém no processo e apresenta a solução(14.18-19); o resultado foi que todos se alimentaram com fartura (14.19-21).

Mt. 15.1-20 - A tradição a serviço da opressão

A tradição transformou atos de higiene - lavar as mãos - em rito religioso e transformou leis espirituais - honrar os pais - em mandamento de segunda classe. Ao explicar o problema para Pedro(Mt. 15.16), Jesus faz um trocadilho e esclarece que o essencial é cuidar de problemas mais sérios - homicídios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias - e não tratar hábitos de higiene como algo espiritual. O problema central de Jesus com a tradição, portanto, é quando ela invalida a Palavra de Deus.

O apóstolo Paulo alerta os Colossenses sobre o perigo de se tornarem presas de tradições humanas (Col. 2.8) mas orienta os irmãos de Tessalônica, a não se unirem àqueles que não seguem as tradições repassadas por ele(Tes. 3.6). O problema, portanto, não é a tradição em si mas, que tradição e porque a seguimos.

Conta-se que uma jovem, recém-casada, cada vez que ia fritar uma lingüiça, cortava suas pontas. Ao ser inquirida pelo marido, sobre o por quê, ela respondeu apenas que fazia como a sua mãe. Sua mãe foi inquirida por ela sobre o motivo e a resposta foi que a avó sempre fazia daquela maneira. Ao inquirir a avó sobre o motivo, a explicação foi que, quando se casou, não dispunha de uma frigideira de tamanho grande, por isso precisava cortar as pontas da lingüiça. A jovem casada, embora não tivesse problemas com sua frigideira, repetia o ato irrefletidamente.

Todos trazemos tradições em nossa história. Nossa vida não é construída sobre o nada. Mas é fundamental que, permanentemente estejamos refletindo sobre nossas tradições, à luz dos valores do Reino de Deus, a fim de que elas sejam benéficas e não maléficas à vida humana.

Mt. 15.21-28 - A prioridade do povo de Israel

Segundo Barclay, o texto "descreve a única oportunidade em que Jesus saiu da Palaestina e do território Judeu" (Mateo II, Editorial La Aurora, 1973, Argentina). Sua missão era entre o povo de Israel, a fim de que se cumprissem as profecias. Se o povo de Israel tivesse recebido a Jesus, ele - Israel - passaria a ser o instrumento de Deus para anunciar a obra redentora da humanidade junto aos outros povos.
Por isso a missão de Jesus era com o povo de Israel. Enquanto a rejeição não se concretizasse, caberia a Jesus realizar seu ministério junto aos Judeus. Daí sua relutância em atender alguém que não fazia parte do povo judaico. Porém, mesmo sendo fiel à sua missão, ele se compadecia diante de situações como a da mulher cananéia, da mesma forma que não hesitou em atender o Centurião(Mt. 8).

Mt. 14.22-36 - A presença de Jesus nas horas de necessidade

Neste texto, chama a nossa atenção o fato de Jesus obrigar seus discípulos a entrar no barco e passar para o outro lado. A explicação predominante para tal atitude é que a multidão estaria interessada em aclamar Jesus como Rei, especialmente diante da morte de João Batista, e os discípulos, provavelmente, também participavam do mesmo sentimento. Por isso Jesus teria decidido resolver sozinho, o problema da multidão, uma vez que ainda tinha muito para realizar e não poderia permitir que um desvio da missão colocasse em risco sua vida.

A expressão "andou sobre o mar" é bastante discutida pelos estudiosos. R. N. Champlin (O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, Milenium distribuidora cultural, São Paulo, 1980) apresenta oito alternativas de interpretação mas, a conclusão é que, de fato, tratou-se de um milagre resultado direto da influência divina.

No contexto do tema que estamos estudando, a lição mais importante que fica é que, nas horas de necessidade, Jesus se faz presente em nossas vidas, pronto a estender-nos a mão para ajudar-nos.


A LIÇÃO EM FOCO

1. O compromisso com a verdade é um dos elementos essenciais à ação do cristão em prol dos necessitados. Se a necessidade é espiritual, é fundamental que Cristo, a verdade de Deus, seja anunciado com única alternativa para nos relacionarmos com Deus; se a necessidade é material, os necessitados precisam saber a verdade de como se dão as relações sociais e porque uns têm muito mais do que necessitam para viver enquanto outros padecem necessidades profundas; se a necessidade é afetiva, a presença da verdade é fundamental para que se gere a confiança que os necessitados precisam para se abrirem uns com os outros e caminharem de forma solidária.

A verdade é tão importante para a vida humana que um dos dez mandamentos é "não mentiras". E Paulo ensinou que, seguir a verdade em amor, é o caminho para crescermos em Cristo (EF. 4.15). Ser verdadeiro, no caso cristão, significa agir, pensar, sentir e falar de maneira coerente com os valores do Reino de Deus, presentes na vida de Cristo. Em termos pessoais significa que aquilo que dizemos retrata a realidade que percebemos.

João Batista pagou um preço elevado por causa do seu compromisso com a verdade do Reino de Deus. Ao decidir que denunciaria a mentira plantada nos altos escalões da sociedade do seu tempo ele acabou preso e degolado.

2. Um dos dilemas que envolvem nossas vidas, quando nos dispomos a manifestar nosso amor pelas pessoas, tem a ver com a forma de fazê-lo. Há um dito popular que diz que "devemos não somente dar o peixe mas também ensinar a pescar". Dar o peixe ou ensinar a pescar não são as únicas alternativas. A terceira alternativa é ajudar a pessoa a compreender como os peixes se reproduzem nos rios e como os rios devem ser tratados para que os peixes se multipliquem.
Há situações em que precisamos dar o alimento para resolver uma situação imediata de fome; porém, devemos ir além, não apenas ensinando a pessoa a obter, pelo próprio esforço, seu alimento mas também, esclarecê-la das causas estruturais que geram a fome, o desemprego, por exemplo.
Diante de uma torneira que apresenta vazamento, trocar o vedante parece ser mais inteligente do que passar a vida toda enxugando o chão molhado. Atuar nas três frentes, de acordo com a necessidade e possibilidade, é papel de todo cidadão, especialmente dos que foram alcançados pelo Reino de Deus.

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