sábado, 15 de agosto de 2009

Cristo, seus ensinos e ações em Jerusalém

Textos:
Texto bíblico: Mt 21-22
Texto áureo: Mateus 22.31-32

Comentários da lição:
A entrada de Jesus em Jerusalém marca um momento muito especial quando ele assume sua condição de Messias. Para isso, podemos dizer que o ato foi planejado com antecedência, na medida em que o texto informa que Jesus deu orientações precisas a dois de seus discípulos, sobre onde encontrariam o animal que lhe serviria de transporte e como deveriam proceder diante do dono, provavelmente, também discípulo dele.

De maneira coerente com o modelo de Reino que estava estabelecendo, Jesus não entra na cidade vestido de guerreiro, com cavalos e carros pois seu reinado se caracterizaria pelo serviço. O dado da humildade de Jesus é tão significativo que Leonhard Golppet (Teologia do Novo Testamento, Editora Sinodal, São Leopoldo, 1976) chega a afirmar que "Jesus não é o messias prometido porque cumpriu determinadas profecias, mas porque realiza a verdadeira intenção de Deus para os homens. Ele é o Messias prometido porque é o humilde e misericordioso que se interessa pelos humildes e misericordiosos".

A alegria tomou conta da maior parte da multidão que estende seus mantos para que Jesus passasse por cima deles, como sinal de reconhecimento do seu reinado, a exemplo do que ocorreu com Jeu (II Reis 9.13).

Mt. 21. 12 -17 Purificando o templo de Jerusalém

Nenhuma realização humana prescinde da existência de alguma atividade econômica para sustentar-se. Com as atividades religiosas não é diferente. Seja para construir um espaço e conservá-lo ou para desenvolver suas atividades, a própria igreja, por exemplo, depende de atividades econômicas que forneçam os bens e serviços necessários à sua existência e funcionamento.
Com o templo de Jerusalém também não era diferente. Ele dependia do pagamento de impostos para a sua própria manutenção e das atividades nele desenvolvidas. Os adoradores precisavam de animais para serem sacrificados. Portanto era natural que houvesse espaço no templo tanto para a troca de moedas e pagamento dos impostos quanto para venda, aos adoradores, dos animais que seriam sacrificados.
Não foi por causa dessa atividade econômica, moral e espiritualmente legítima, que Jesus expulsou os comerciantes. A ira de Jesus se deu pelo sentido de exploração humana, predominante entre os comerciantes. Para trocar as moedas dos peregrinos, por exemplo, os cambistas lhes cobravam um valor exorbitante. Assim, a finalidade do serviço foi alterada. Em vez de prevalecer a finalidade que era ser casa de oração, prevalecia a exploração humana através da cobranças de valores inaceitáveis.

As atividades religiosas tornaram-se meios de comercialização e, portanto, perderam seu significado espiritual. As pessoas se exploravam umas as outras exatamente através dos próprios elementos sacrificiais que deveriam simbolizar a disposição para reconhecimento de pecados, reconciliação com Deus e reconciliação de umas com as outras.

Com seu ato, Jesus proclamou que as estruturas e atividades religiosas não têm qualquer valor se não forem compatíveis com corações que expressam, por exemplo, pureza, sinceridade e justiça na forma como se relacionam com Deus e com seus semelhantes.

Mateus 21.18 - 22 Uma crítica à aparência de religiosidade de Jerusalém

A leitura deste episódio suscita, como é natural, reações diferentes em cada leitor. Alguns, devido à sua consciência ecológica, reagem ao sacrifício de uma planta, mesmo infrutífera; outros, mais místicos, são atraídos pela aparente "magia" da ação de Jesus ou pelo ensino subsequente a respeito do poder da fé; outros, ainda, seja por maior devoção ou sentimento de necessidade mais acentuado, se prendem mais à promessa de Jesus sobre a oração.

O entrelaçamento deste episódio com o episódio da purificação do templo, deve nos ajudar a compreender o significado pedagógico do ato. Se o ato em si nos ensina que não basta a uma figueira ter aparência de planta frutífera, o significado do ato é que de nada valiam o sentimento de religiosidade do povo de Jerusalém e as atividades desenvolvidas no templo se no dia-a-dia das pessoas não ficasse evidenciado o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

O corte de plantas ou de varas que não produzem fruto é um processo natural na agricultura. Jesus é claro quanto a isso quando, falando de Deus como agricultor, afirma que "toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto"(Jo. 15.2). O corte da figueira, portanto, serve de alerta para a necessidade de verdadeira e não apenas aparente comunhão com Deus. É a fé e a oração que devem revigorar nossas vidas, a fim de que sejamos pessoas frutíferas.

Mt. 21.28 - 22.14 - Jerusalém rejeita o projeto de Deus

Ainda que não pareça ser esta a intenção de Mateus, a sequência de parábolas do texto evidencia três tipos diferentes de reações diante do advento do Reino. A primeira parábola evidencia a rejeição passiva do Reino de Deus. Ainda que as palavras do verso 32 não possam ser entendidas de forma absoluta, o fato é que, em geral, aconteceu como descrito: os religiosos, que se diziam trabalhar para Deus, rejeitaram a pregação do enviado de Deus; os publicanos e as prostitutas, classificados como desobedientes, se abriram para o evangelho. Em termos individuais, aprendemos que não basta dizer sim a Deus; é preciso que nossas ações cotidianas também digam sim.

A segunda parábola a revela uma rejeição perversa ao Reino de Deus. Sua origem pode ter se dado no "ânimo revolucionário dos camponeses galileus contra os latifundiários estrangeiros, excitado pelo zelotismo que tinha sua sede na Galiléia" (J. Jeremias, As Parábolas de Jesus, Edições Paulinas, São Paulo, 1980). Em Mateus ela é claramente alegórica e indica que o Reino não apenas seria rejeitado mas o filho do Rei seria assassinado. Em termos de lição pessoal podemos afirmar que, sempre que alguém se dispõe a tomar para a si, a glória pertencente a Deus, a perversidade predomina.

A terceira parábola revela uma indiferença para com o Reino de Deus, não registrada nas anteriores. O convite foi feito mas outros interesses fizeram com que a festa ficasse em segundo plano para os convidados.
As três parábolas apontam para o fato de que a prioridade dada aos judeus, na pregação do evangelho, sofreria alteração e que publicanos, prostitutas e gentios convertidos ocupariam o espaço, no projeto de Deus de expansão do Reino.

Mateus 22. 34 - 40 Jesus é experimentado em Jerusalém

A reação dos líderes religiosos de então e os confrontos criados com Jesus nos legaram ensinos preciosíssimos. No texto em pauta, um doutor experimentou Jesus, perguntando-lhe sobre qual seria o grande mandamento da lei. O amor a Deus e ao próximo, foi sua resposta.
Segundo Frank Stagg (Comentário Bíblico Broadman, Vol. 8, Juerp, Rio de Janeiro, 1983), "os fariseus haviam descoberto que as leis eram em número de 613, sendo que 365 proibições e 248 mandamentos positivos".
As igrejas também, para equacionar problemas de relacionamento, necessitaram de estabelecer normas, ao longo de sua existência. Se nos propuséssemos a catalogar tais normas, certamente não haveria papel para tal empreendimento. O registro do resultado desse diálogo se tornou essencial à igreja, e deve continuar servindo, como elemento norteador no estabelecimento e aplicação de suas normas.
Essa compreensão nos indica que o tema que mais precisa de aprofundamento teórico e exercício prático em nossas igrejas é o amor. O amor é a base da existência humana. Tanto é assim que ele é tido como a evidência de que passamos de uma vida velha para uma nova vida(I JO. 3.14). O amor a Deus e ao próximo, se entendido e praticado em sua profundidade, dispensaria, em tese, a existência de qualquer outro tipo de legislação.

A LIÇÃO EM FOCO

1. No processo de desenvolvimento do ministério da igreja, ocorre a possibilidade de cometermos o mesmo pecado que ocorria no templo de Jerusalém. É que precisamos produzir literatura e promover congressos para fortalecer os crentes na Palavra e capacitá-los para agirem em prol do Reino; precisamos produzir discos para proclamar o evangelho e edificar a vida espiritual das pessoas; precisamos manter empresas educacionais para promover educação em bases cristãs, precisamos desenvolver, enfim, uma série de empreendimentos e produtos para dar cumprimento à missão que Jesus nos delegou.
O equívoco pode acontecer quando o produto ou o serviço que teriam a finalidade de conduzir pessoas à adoração ou à conversão ou serem meios de edificação de vidas, passam a ter um fim em si mesmos, como meio de comercialização e obtenção de lucro que represente exploração do outro.
Além disso, quando o produto ou serviço se torna um fim em si mesmo, a preocupação dos produtores deixa de ser a fidelidade aos valores do Reino de Deus e passa a ser com a satisfação do consumidor.

0 comentários: