Mudanças nas estruturas da CBB (II) (2007)
Ao ser eleito, mais uma vez, em 2006, para o Conselho do Seminário do Norte, compartilhei com o diretor da instituição, em seu escritório, minha falta de ânimo com a estrutura vigente. É que, com 35 anos ininterruptos de exercício de liderança em igreja local ou estrutura denominacional, já trabalhei dos dois lados: presidi e fui presidido; fui conselheiro e executivo. Já experimentei, portanto, o que seria ser “vilão” ou “vítima” do modelo.
Talvez por isso coloquei-me ao lado dos que se alegraram com as reformas, mesmo criticando alguns aspectos da forma. Como educador, aprendi que devemos valorizar tanto o processo quanto o resultado.
Se estivesse executivo, destacaria vantagens e desvantagens gerenciais das mudanças. Como não estou, destaco os aspectos políticos. Assim, meus comentários nesta parte do texto têm como alvo alguns resultados políticos.
O Perfil do Conselho Geral
Politicamente, a mudança mais importante tem a ver com a composição do Conselho Geral. A Assembléia da CBB ampliou sua perda de controle sobre o perfil do Conselho Geral. Enquanto a Assembléia elegerá 25 componentes do Conselho (8 membros da diretoria administrativa + 12 membros renovados anualmente + 5 relatores de comitês), 70 serão eleitos por outros caminhos (5 nomeados pelo próprio Conselho (executivos da JMM e JMN e do STBNB, STBSB, STBE) + 3 eleitos por organizações auxiliares (Jumoc, UHBB, UFMBB) + 62 escolhidos pelas convenções regionais (presidentes e executivos)).
Assim, salvo melhor juízo, de um total de 95 conselheiros, a Assembléia da CBB terá poderes sobre o perfil de apenas 26%. Isso tem pelo menos duas boas implicações:
O Fortalecimento do Pluralismo
A primeira implicação disso é que estamos livres de articulações como a realizada na Convenção do Sul dos Estados Unidos, há 26 anos.
Lá, quando os fundamentalistas assumiram a direção da Convenção, iniciou-se um processo de uniformização do pensamento batista (contrariando nossa história e princípios de pluralidade). Os conselhos passaram a ser formados por aliados do pensamento único que, por sua vez, passaram a eleger somente aliados para a direção das organizações que, por sua vez, passaram a eliminar funcionários (especialmente professores de seminário e missionários) que divergiam da política do pensamento único.
O pensamento expresso nas salas de aula dos seminários e na literatura publicada passou a ser único e a visão de mundo dominante naquela convenção, preto e branco. (Tem gente de lá investindo em gente de cá, através de literatura e conferências, esperando que o mesmo acontecesse em nossa Convenção).
No modelo adotado pela CBB, para haver pensamento único seria necessário articular todas as igrejas na escolha de mensageiros, todas as assembléias estaduais e organizações auxiliares por ocasião de suas eleições presidenciais, além dos conselhos regionais na hora da escolha de seus executivos. Impraticável!
A visão do Plano Cooperativo
A segunda é que o modelo ajuda a aumentar a consciência das convenções estaduais quanto ao princípio da lealdade na administração e envio do Plano Cooperativo.
Esclareço: as igrejas batistas são filiadas a duas convenções: a estadual e a nacional. Para facilitar a remessa, num tempo em que não havia transferências on-line, e fortalecer a cooperação, ficou decidido que, em vez das igrejas enviarem metade para cada Convenção, elas enviariam tudo para a Estadual que, por sua vez, repassaria 50% para a nacional.
Ocorre que tal princípio foi rompido unilateralmente, através das Assembléias Estaduais, que deixaram de repassar 50% do Plano Cooperativo recebido das Igrejas, reduzindo o repasse para 20% ou menos. Sem falar na retenção feita por alguns escritórios estaduais que, para saldar déficits, utiliza o dinheiro que seria da CBB, sem sequer informar a executiva nacional. Não discuto a questão do percentual, mas que a decisão unilateral é desleal, isso é.
O quorum das reuniões do Conselho *
Se por um lado a representação dos campos aumentou, há um detalhe que merece reflexão, relacionado ao quorum das reuniões do Conselho. Conquanto seja composto por 95 conselheiros com direito a voto, suas reuniões poderão acontecer com a presença de apenas 14, em primeira convocação ou 11 em segunda, sendo que para nomear ou exonerar o Diretor Executivo bastam apenas 15.
Qual a razão de uma reunião acontecer até com 12% dos membros? Provavelmente se deve ao fato de 70 dos 95 conselheiros não terem suas viagens financiadas pela CBB e sim pelas convenções que representam.
Assim, apesar da impressão de que a representatividade aumentou, na realidade não há garantia de que presidentes e executivos das regionais se farão presentes, pois isso depende das possibilidades financeiras e interesse de cada convenção. Essa é a única justificativa que enxergo para quorum tão baixo.
Como conseqüência do não financiamento pela CBB e possibilidade de funcionamento com, inclusive, 12% dos conselheiros, as convenções situadas mais próximas da sede do Conselho (coincidente as que têm receitas maiores e custos de transportes menores) são beneficiadas, fortalecendo o domínio do sudeste nas decisões de uma convenção que é de abrangência nacional.
A Nomeação e o Salário dos Executivos
Outra mudança importante tem a ver com a nomeação dos executivos pelo Conselho e não por diversos conselhos. Um dos primeiros efeitos disso será quanto ao salário deles. Há instituições que enfrentam dificuldades para escolher executivos por falta de condições financeiras. Se executivos não podem dar tempo integral, em algum ponto a qualidade de suas ações será prejudicada. Não defendo salário igual para todos, muito menos discrepância absurdas. Com o novo modelo, as comparações, nas reuniões, serão inevitáveis e critérios mais justos terão que ser estabelecidos.
Obviamente, o Conselho precisará estar atento para uma articulação especial com os seminários do Norte e Equatorial, por razões geográfico-culturais. Mas isso não é difícil de se resolver.
Os critérios de Composição dos Comitês
A questão da nomeação dos Comitês (palavra importada das estruturas americanas) pelo Conselho Geral, através de critérios técnicos é outro aspecto que julgo importante. Na parte anterior deste texto já defendi que técnico e político são categorias diferentes, mas inseparáveis. Assim, defenderei dois aspectos em relação a isso: 1) que os critérios que definirão a escolha técnica sejam explicitados; 2) que haja garantias de que os técnicos que preencherão os comitês sejam oriundos das diversas regiões do país.
Em relação ao primeiro ponto, o Conselho Geral deverá apontar explicitamente qual a formação ou experiência de cada indicado e que necessidade técnica do Comitê se busca atender. Falo da necessidade do comitê porque, é óbvio que um Comitê de Missões, por exemplo, não precisa ser formado apenas por missiólogos ou ex-missionários para ser técnico. Nem seria técnica – mas política - a escolha de alguém por ser de uma igreja que envia ofertas acima da média para missões (ofertas altas e ardor missionário não são, necessariamente, sinônimos. Pode ser apenas retrato de má distribuição de renda). O funcionamento das organizações missionárias exige, também, pessoas com conhecimento em, por exemplo, administração, contabilidade e finanças, relações públicas, inclusive internacionais.
Quanto ao segundo, justamente por não dissociar o técnico do político, por ser “sudestino” por nascimento e nordestino por opção e conhecer batistas de todas as regiões do país, sei que pessoas qualificadas estão presentes em todas elas e devem ser aproveitadas. Este é o preço de querermos ser uma Convenção Batista Brasileira.
Comitê de Ação Social e Necessidade de Câmara Setorial
A definição, em plenário, da criação do Comitê de Ação Social foi outro ponto relevante. Mudar a mera condição de departamento do Conselho para Comitê fará diferença. Essa diferença será ainda mais significativa quando a Câmara de Ação Social, para tratar do assunto nas assembléias, for incluída no Regimento Interno. Num país com os graves problemas sociais como o nosso, uma denominação que se preze, independente de concepções teológicas, não poderia deixar tal assunto em segundo plano.
Papel das Comunicações
O papel das comunicações em nosso “projeto” denominacional ainda não mereceu maior atenção. Atenção especial precisa ser dada não somente quanto ao possível uso da televisão, rádio ou internet, mas também, por exemplo, da estrutura de funcionamento d’O Jornal Batista. A meu ver ela é um retrato da importância que damos às comunicações.
Finalizando, há uma série de outros aspectos interessantes para nossa reflexão e penso que o povo batista deveria ser convocado a emitir suas opiniões sobre as mudanças, no espírito de ajudar nossos líderes. Manifestações públicas são geradoras de reflexão, favorecem o despertar de idéias e possibilita surgimento de soluções.
Talvez por isso coloquei-me ao lado dos que se alegraram com as reformas, mesmo criticando alguns aspectos da forma. Como educador, aprendi que devemos valorizar tanto o processo quanto o resultado.
Se estivesse executivo, destacaria vantagens e desvantagens gerenciais das mudanças. Como não estou, destaco os aspectos políticos. Assim, meus comentários nesta parte do texto têm como alvo alguns resultados políticos.
O Perfil do Conselho Geral
Politicamente, a mudança mais importante tem a ver com a composição do Conselho Geral. A Assembléia da CBB ampliou sua perda de controle sobre o perfil do Conselho Geral. Enquanto a Assembléia elegerá 25 componentes do Conselho (8 membros da diretoria administrativa + 12 membros renovados anualmente + 5 relatores de comitês), 70 serão eleitos por outros caminhos (5 nomeados pelo próprio Conselho (executivos da JMM e JMN e do STBNB, STBSB, STBE) + 3 eleitos por organizações auxiliares (Jumoc, UHBB, UFMBB) + 62 escolhidos pelas convenções regionais (presidentes e executivos)).
Assim, salvo melhor juízo, de um total de 95 conselheiros, a Assembléia da CBB terá poderes sobre o perfil de apenas 26%. Isso tem pelo menos duas boas implicações:
O Fortalecimento do Pluralismo
A primeira implicação disso é que estamos livres de articulações como a realizada na Convenção do Sul dos Estados Unidos, há 26 anos.
Lá, quando os fundamentalistas assumiram a direção da Convenção, iniciou-se um processo de uniformização do pensamento batista (contrariando nossa história e princípios de pluralidade). Os conselhos passaram a ser formados por aliados do pensamento único que, por sua vez, passaram a eleger somente aliados para a direção das organizações que, por sua vez, passaram a eliminar funcionários (especialmente professores de seminário e missionários) que divergiam da política do pensamento único.
O pensamento expresso nas salas de aula dos seminários e na literatura publicada passou a ser único e a visão de mundo dominante naquela convenção, preto e branco. (Tem gente de lá investindo em gente de cá, através de literatura e conferências, esperando que o mesmo acontecesse em nossa Convenção).
No modelo adotado pela CBB, para haver pensamento único seria necessário articular todas as igrejas na escolha de mensageiros, todas as assembléias estaduais e organizações auxiliares por ocasião de suas eleições presidenciais, além dos conselhos regionais na hora da escolha de seus executivos. Impraticável!
A visão do Plano Cooperativo
A segunda é que o modelo ajuda a aumentar a consciência das convenções estaduais quanto ao princípio da lealdade na administração e envio do Plano Cooperativo.
Esclareço: as igrejas batistas são filiadas a duas convenções: a estadual e a nacional. Para facilitar a remessa, num tempo em que não havia transferências on-line, e fortalecer a cooperação, ficou decidido que, em vez das igrejas enviarem metade para cada Convenção, elas enviariam tudo para a Estadual que, por sua vez, repassaria 50% para a nacional.
Ocorre que tal princípio foi rompido unilateralmente, através das Assembléias Estaduais, que deixaram de repassar 50% do Plano Cooperativo recebido das Igrejas, reduzindo o repasse para 20% ou menos. Sem falar na retenção feita por alguns escritórios estaduais que, para saldar déficits, utiliza o dinheiro que seria da CBB, sem sequer informar a executiva nacional. Não discuto a questão do percentual, mas que a decisão unilateral é desleal, isso é.
O quorum das reuniões do Conselho *
Se por um lado a representação dos campos aumentou, há um detalhe que merece reflexão, relacionado ao quorum das reuniões do Conselho. Conquanto seja composto por 95 conselheiros com direito a voto, suas reuniões poderão acontecer com a presença de apenas 14, em primeira convocação ou 11 em segunda, sendo que para nomear ou exonerar o Diretor Executivo bastam apenas 15.
Qual a razão de uma reunião acontecer até com 12% dos membros? Provavelmente se deve ao fato de 70 dos 95 conselheiros não terem suas viagens financiadas pela CBB e sim pelas convenções que representam.
Assim, apesar da impressão de que a representatividade aumentou, na realidade não há garantia de que presidentes e executivos das regionais se farão presentes, pois isso depende das possibilidades financeiras e interesse de cada convenção. Essa é a única justificativa que enxergo para quorum tão baixo.
Como conseqüência do não financiamento pela CBB e possibilidade de funcionamento com, inclusive, 12% dos conselheiros, as convenções situadas mais próximas da sede do Conselho (coincidente as que têm receitas maiores e custos de transportes menores) são beneficiadas, fortalecendo o domínio do sudeste nas decisões de uma convenção que é de abrangência nacional.
A Nomeação e o Salário dos Executivos
Outra mudança importante tem a ver com a nomeação dos executivos pelo Conselho e não por diversos conselhos. Um dos primeiros efeitos disso será quanto ao salário deles. Há instituições que enfrentam dificuldades para escolher executivos por falta de condições financeiras. Se executivos não podem dar tempo integral, em algum ponto a qualidade de suas ações será prejudicada. Não defendo salário igual para todos, muito menos discrepância absurdas. Com o novo modelo, as comparações, nas reuniões, serão inevitáveis e critérios mais justos terão que ser estabelecidos.
Obviamente, o Conselho precisará estar atento para uma articulação especial com os seminários do Norte e Equatorial, por razões geográfico-culturais. Mas isso não é difícil de se resolver.
Os critérios de Composição dos Comitês
A questão da nomeação dos Comitês (palavra importada das estruturas americanas) pelo Conselho Geral, através de critérios técnicos é outro aspecto que julgo importante. Na parte anterior deste texto já defendi que técnico e político são categorias diferentes, mas inseparáveis. Assim, defenderei dois aspectos em relação a isso: 1) que os critérios que definirão a escolha técnica sejam explicitados; 2) que haja garantias de que os técnicos que preencherão os comitês sejam oriundos das diversas regiões do país.
Em relação ao primeiro ponto, o Conselho Geral deverá apontar explicitamente qual a formação ou experiência de cada indicado e que necessidade técnica do Comitê se busca atender. Falo da necessidade do comitê porque, é óbvio que um Comitê de Missões, por exemplo, não precisa ser formado apenas por missiólogos ou ex-missionários para ser técnico. Nem seria técnica – mas política - a escolha de alguém por ser de uma igreja que envia ofertas acima da média para missões (ofertas altas e ardor missionário não são, necessariamente, sinônimos. Pode ser apenas retrato de má distribuição de renda). O funcionamento das organizações missionárias exige, também, pessoas com conhecimento em, por exemplo, administração, contabilidade e finanças, relações públicas, inclusive internacionais.
Quanto ao segundo, justamente por não dissociar o técnico do político, por ser “sudestino” por nascimento e nordestino por opção e conhecer batistas de todas as regiões do país, sei que pessoas qualificadas estão presentes em todas elas e devem ser aproveitadas. Este é o preço de querermos ser uma Convenção Batista Brasileira.
Comitê de Ação Social e Necessidade de Câmara Setorial
A definição, em plenário, da criação do Comitê de Ação Social foi outro ponto relevante. Mudar a mera condição de departamento do Conselho para Comitê fará diferença. Essa diferença será ainda mais significativa quando a Câmara de Ação Social, para tratar do assunto nas assembléias, for incluída no Regimento Interno. Num país com os graves problemas sociais como o nosso, uma denominação que se preze, independente de concepções teológicas, não poderia deixar tal assunto em segundo plano.
Papel das Comunicações
O papel das comunicações em nosso “projeto” denominacional ainda não mereceu maior atenção. Atenção especial precisa ser dada não somente quanto ao possível uso da televisão, rádio ou internet, mas também, por exemplo, da estrutura de funcionamento d’O Jornal Batista. A meu ver ela é um retrato da importância que damos às comunicações.
Finalizando, há uma série de outros aspectos interessantes para nossa reflexão e penso que o povo batista deveria ser convocado a emitir suas opiniões sobre as mudanças, no espírito de ajudar nossos líderes. Manifestações públicas são geradoras de reflexão, favorecem o despertar de idéias e possibilita surgimento de soluções.
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