sábado, 1 de agosto de 2009

Curiosidades da nossa moral (2006)


Ouço o candidato do psdb/pfl criticando o Presidente Lula por não ter visto uma série de problemas ocorrendo em andares próximos ao do seu gabinete de trabalho.
Curiosidade: o marido, governador e candidato Geraldo não percebeu sua mulher chegando em casa com centenas de vestidos “doados” por destacado figurinista de São Paulo!

Fico escutando o candidato do psdb/pfl encher os pulmões ao falar que o Brasil não aproveitou o momento favorável internacional para crescer mais e ficou entre os últimos da lista em crescimento.
Curiosidade: em nenhum momento o tão lúcido candidato, que pensa que somos idiotas e não somos capazes de fazer análise de conjuntura, cita as diferenças históricas, territoriais, culturais, políticas e estruturais entre o Brasil e os países que cresceram mais do que o Brasil.

Acabo de receber um texto escrito por um pastor que decidiu não mais classificar-se como evangélico pela falta de moral dos evangélicos, criticando duramente a ética do governo Lula.
Curiosidade: há alguns anos ele estava na mídia nacional, no centro de acusações éticas, no campo familiar e político!

Leio sobre o lançamento de documento da liderança batista contra a corrupção, curiosamente foi lido em sessão solene, na presença de um deputado batista carioca que integra o grupo de fundadores do Partido da Frente Liberal – PFL, partido oposicionista ferrenho ao do governo Lula, o qual ficou com a “difícil missão” de entregar tal documento aos seus pares (fato que, certamente repercutirá na Assembléia de Santa Catarina).
Curiosidade: além da representação duvidosa de oposicionistas do governo lula no lançamento do manifesto, curioso é o fato de que, em assembléias da CBB, não muito distantes, não conseguimos deixar claro, por exemplo, questões éticas envolvendo as falências da Juerp, da Juratel e da “venda” de terreno do Seminário do Sul!

De batistas de São Paulo, recebo artigos escritos por pastores e líderes sobre a necessidade de ética na escolha do presidente, pois o atual estaria dilapidando o patrimônio público.
Curiosidade: De lá também recebo e-mail tecendo comentários duramente críticos decorrentes da venda de parte do patrimônio do Colégio Batista!

De diversos líderes, leio a velha tese de que o Brasil precisa ser evangelizado (leia-se, para muitos, o povo precisa tornar-se evangélico), pois esta seria a única saída para o problema da corrupção, das injustiças sociais, enfim.
Curiosidade: O Espírito Santo e Rio de Janeiro representam a maior concentração evangélica do país, sendo que neste último os dois últimos governos foram liderados por evangélicos e, ambos, estão entre os que apresentam maiores índices de violência e narcotráfico da nação!

Recebi críticas porque em minha defesa do voto a favor de Lula, não falei da moral sexual e me referi somente à economia (preocupação sexual, por um lado, fruto de fixação de sexualidade mal administrada pois nós evangélicos não temos uma teologia consistente da corporalidade; por outro, fruto de postura servil às ênfases norte-americanas. Tais “enfatizadores” da moral sexual não conseguem percebem que os americanos podem se dar ao luxo de priorizar discussões da moral sexual porque em seu país fome, violência, saneamento básico, habitação, transporte e distribuição de renda, por exemplo, não são problemas sociais).
Curiosidade: Parece que desconhecemos a recomendação bíblica: “recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres; o que também procurei fazer com diligência”.(Gal. 2.10)

Citei batistas e evangélicos para falar somente das traves dos meus olhos!

Diante disso, fico aqui no meu cantinho, não tão quietinho, matutando nas palavras de Jesus: “E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho?” (Mt. 7.3).

Penso nesse texto, agora, não no sentido de limparmos nossos olhos para termos moral para limpar os dos outros. Penso que precisamos limpar nossos olhos para enxergar que estamos sendo oportunistas políticos.

Que estamos agindo de má-fé, não pela escolha de Geraldo e não de Lula. Isso é um direito de cada. A má-fé está em usar a aparente preocupação com a moralidade para fazer prevalecer nossos interesses políticos.

Parece, nossa defesa da moralidade está vinculada a anseios latentes de tirar um ex-peão de fábrica, nascido no sertão nordestino, que está priorizando fazer a comida chegar à mesa dos mais empobrecidos, para botar um médico nascido no estado mais rico da nação (o meu querido Estado, terra onde nasci!), que representa um governo que, durante dois mandatos, agiu como se o país se restringisse aos ricos de São Paulo;

Parece, estamos rejeitando um presidente que optou por abrir os olhos para a América latina, África, Oriente Médio, sem brigar com Estados Unidos e Europa, para trazer de volta aqueles que nos fazem ter a burra sensação de que não somos pobres porque priorizamos o relacionamento, mesmo de modo servil, somente com o primeiro mundo! (Observe que o governo Lula não optou por um em detrimento de outro, mas pelos dois mundos!).

Tenha certeza, a leitora que conseguiu chegar até aqui, que não ficarei deprimido se o psdb/pfl voltar ao poder. Torcerei e orarei até para que, em seus investimentos, ele não mude o foco de priorizar os empobrecidos.

Tenha certeza, também, de que não sou um ingênuo (modéstia à parte, conquistei duas graduações, uma habilitação e uma especialização, e na área em que me prontifiquei a atuar ainda não posso me considerar um fracassado!), acreditando que o governo Lula é santo, que novas denuncias não surgirão mais num segundo governo, que todos os problemas do país se resolveram se dermos a ele mais uma oportunidade! Não.

Tenha certeza, também, que não sou defensor do programa de governo do PT.

Apenas estou convencido de que trocar PT pelo psdb/pfl, depois de tudo o que avançamos em relação aos empobrecidos deste país, depois de números inquestionáveis da superioridade geral deste governo em relação ao do psdb/PFL, seria uma grande bobagem!

Então, em 29 de outubro meu voto será, de novo, de Lula!

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