Estou só de butuca (2005)
Coloquei meu cavanhaque de molho e, como se dizia no interior, estou só de butuca. Como parte dos brasileiros, estou observando, amolecendo os dados para digeri-los, tentando evitar uma dor de estômago. Talvez aja assim pela dificuldade de admitir que o que está sendo anunciado, de fato esteja acontecendo. É muita informação, contra-informação e desinformação ao mesmo tempo.
Estou de butuca, atento aos desdobramentos das investigações, na esperança de que os nós sejam desatados, o joio seja separado do trigo, inocentes aplaudidos e culpados justamente punidos. Ligado, sobretudo, para não engolir silenciosa e passivamente uma grande pizza, nem ter de continuar convivendo com um sistema político doente que engorda bolsos de poderosos chefões.
Do ponto em que me encontro, arrisco algumas considerações:
A primeira é que, conquanto reconheça na história uma disputa de interesses políticos, beira à ingenuidade querer explicar os acontecimentos como uma disputa entre elite e proletariado. Para mim, usar o pressuposto da luta de classes é uma demonstração da dificuldade político-emocional de admitir-se que, talvez, em certo sentido “Regina Duarte” estivesse com a razão; que em vez da esperança vencer o medo, esteja ocorrendo exatamente o contrário.
É óbvio que faz parte da natureza política tirar proveito da falha adversária para conquistar maiores espaços. Não menos óbvio, porém, é que, se uma “elite” está se deliciando com a crise instalada é porque uma outra elite, liderada por meia dúzia de petistas, produziu munição pesada para ser usada contra si própria.
A segunda é a tentativa de separar-se PT e governo. Não sou filiado ao PT, mas sempre votei em Lula e em correligionários seus para o legislativo. Mesmo não me afinando a todas as teses defendidas pelo partido, não via opções partidárias que representassem melhor alguns dos valores que priorizo, como cristão. Ao votar em Lula, votei no PT. Para mim o PT é o governo e nem mesmo Duda Mendonça, com toda a sua competência, me convenceria do contrário.
A terceira é que não acredito na inocência de Lula. Não digo isso pela denúncia da associação da Telemar à empresa do filho dele. Digo isso, primeiro, porque sendo o PT gerido de forma colegiada, seria impossível um esquema tão grande passar despercebido de seu líder maior. Segundo, porque admitir a inocência de Lula seria admitir que Collor tinha razão ao afirmar que, se eleito, ele comeria nas mãos dos outros. Como Lula nunca me passou a imagem de ingênuo, resta-me acreditar que sabia, sim, de tudo!
Publiquei, antes das últimas eleições, que, pelo fato de já ter administrado empreendimento governado democraticamente, compreendia as dificuldades de mudanças rápidas num possível governo Lula. À época, defendia sua eleição, no mínimo, como necessária para que experimentássemos um governo com origens como a do PT para amadurecermos politicamente. Só não imaginava que, depois de eleito, a indumentária fosse drasticamente trocada, a economia continuasse bem somente para aqueles para os quais sempre foi e, sobretudo, que tamanha sujeira se instalasse na ante-sala do Palácio. Não nego, portanto, que diante de tudo o que pregou em termos de ética e justiça social, alio-me publicamente aos frustrados.
Frustrado, mas não abatido, continuo de butuca, unido àqueles que almejam um final de história feliz para o povo brasileiro e infeliz para os corruptos de plantão! Afinal, nenhuma decepção deve ser tão forte que nos desestimule a continuar lutando pela implementação de estruturas e eleição de indivíduos que possibilitem o florescimento da justiça e da solidariedade em favor da maioria sofrida da população brasileira.
Estou de butuca, atento aos desdobramentos das investigações, na esperança de que os nós sejam desatados, o joio seja separado do trigo, inocentes aplaudidos e culpados justamente punidos. Ligado, sobretudo, para não engolir silenciosa e passivamente uma grande pizza, nem ter de continuar convivendo com um sistema político doente que engorda bolsos de poderosos chefões.
Do ponto em que me encontro, arrisco algumas considerações:
A primeira é que, conquanto reconheça na história uma disputa de interesses políticos, beira à ingenuidade querer explicar os acontecimentos como uma disputa entre elite e proletariado. Para mim, usar o pressuposto da luta de classes é uma demonstração da dificuldade político-emocional de admitir-se que, talvez, em certo sentido “Regina Duarte” estivesse com a razão; que em vez da esperança vencer o medo, esteja ocorrendo exatamente o contrário.
É óbvio que faz parte da natureza política tirar proveito da falha adversária para conquistar maiores espaços. Não menos óbvio, porém, é que, se uma “elite” está se deliciando com a crise instalada é porque uma outra elite, liderada por meia dúzia de petistas, produziu munição pesada para ser usada contra si própria.
A segunda é a tentativa de separar-se PT e governo. Não sou filiado ao PT, mas sempre votei em Lula e em correligionários seus para o legislativo. Mesmo não me afinando a todas as teses defendidas pelo partido, não via opções partidárias que representassem melhor alguns dos valores que priorizo, como cristão. Ao votar em Lula, votei no PT. Para mim o PT é o governo e nem mesmo Duda Mendonça, com toda a sua competência, me convenceria do contrário.
A terceira é que não acredito na inocência de Lula. Não digo isso pela denúncia da associação da Telemar à empresa do filho dele. Digo isso, primeiro, porque sendo o PT gerido de forma colegiada, seria impossível um esquema tão grande passar despercebido de seu líder maior. Segundo, porque admitir a inocência de Lula seria admitir que Collor tinha razão ao afirmar que, se eleito, ele comeria nas mãos dos outros. Como Lula nunca me passou a imagem de ingênuo, resta-me acreditar que sabia, sim, de tudo!
Publiquei, antes das últimas eleições, que, pelo fato de já ter administrado empreendimento governado democraticamente, compreendia as dificuldades de mudanças rápidas num possível governo Lula. À época, defendia sua eleição, no mínimo, como necessária para que experimentássemos um governo com origens como a do PT para amadurecermos politicamente. Só não imaginava que, depois de eleito, a indumentária fosse drasticamente trocada, a economia continuasse bem somente para aqueles para os quais sempre foi e, sobretudo, que tamanha sujeira se instalasse na ante-sala do Palácio. Não nego, portanto, que diante de tudo o que pregou em termos de ética e justiça social, alio-me publicamente aos frustrados.
Frustrado, mas não abatido, continuo de butuca, unido àqueles que almejam um final de história feliz para o povo brasileiro e infeliz para os corruptos de plantão! Afinal, nenhuma decepção deve ser tão forte que nos desestimule a continuar lutando pela implementação de estruturas e eleição de indivíduos que possibilitem o florescimento da justiça e da solidariedade em favor da maioria sofrida da população brasileira.
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