Relações de poder nas igrejas primitivas (2005)
Enganam-se aqueles que criticam os conflitos de interesses constatados nas estruturas das igrejas, convenções e juntas batistas, tanto quanto os que preferem fazer vistas grossas para o fato, ou mesmo escondê-lo, sob o argumento de que isso depõem contra a denominação. Assumir a realidade e estudá-la é o melhor caminho para minimizarmos eventuais efeitos colaterais maléficos.
Na verdade, se temos conflitos, isso apenas retrata nossa condição natural de seres que pensam, sentem, agem e interagem, de maneira individual e ativa, com a realidade. Ademais, o fato de adotarmos a democracia como forma de governo impede que diferenças permaneçam escondidas e possibilita que cheiros, às vezes desagradáveis, dos bastidores, atinjam nossas narinas.
Para aqueles que se sentem incomodados com a exposição de nossos conflitos ou que mistificam e mitificam o passado, defendendo um retorno aos “fundadores” como caminho para superar problemas do presente, eis uma notícia que preferiríamos não anunciar: entre os santos “fundadores” das igrejas cristãs primitivas, conflitos também se fizeram presentes, senão vejamos:
Em Jerusalém, os judeus de fala grega se sentiram discriminados pelos de fala hebraica, fato que exigiu a eleição da primeira CPSC - Comissão Para Solução de Conflitos - (At. 6.1-6); os cristãos do PC – Partido da Circuncisão – criticaram Pedro, fato que exigiu dele explicações sobre suas posturas (At. 11.1-3); esses mesmos cristãos geraram uma grande contenda com Paulo e Barnabé (At. 15.1-2), fato que forçou a realização de uma assembléia da igreja (At. 15.1-19) em que o PRF – Partido Religioso dos Fariseus – (At. 15.5) fez acusações que geraram muita discussão (At. 15.5-8); Paulo e Barnabé, quem diria, tiveram um desentendimento tão sério que culminou com uma separação temporária (At. 15.9);
Na Galácia, Paulo bateu de frente com Pedro porque este teria agido incoerentemente (Gal. 2.11-13);
Em Filipos, duas irmãs viveram um conflito que mereceu intervenção de Paulo (Fil. 4.2-3);
Em Corinto a coisa foi tão feia que o escancarado partidarismo em torno de líderes foi classificado por Paulo como mundanismo (I Cor. 1.11-12; 3.4);
O próprio “grupo de elite” de Jesus já discutia entre si, ainda na presença do mestre, em torno de qual deles seria o maior (Lc. 9.46) e até já havia candidatos às cadeiras mais próximas de Jesus na glória, fato gerador de indignação (Mc. 10.35-41).
Diga-se de passagem, os que defendem o passado como paradigma para a igreja de hoje deveriam estudar com mais profundidade a história da igreja, inclusive dos “reformadores”, para perceberem que em todas as épocas e lugares as relações de poder foram testadas e conflitos de diferentes naturezas e graus ficaram registrados.
Isso não significa que devamos nos acomodar diante dos atritos resultantes da convivência cooperativa e democrática da qual participamos. Muito menos, servir de modelo ou estímulo para alimentarmos ou justificarmos conflitos na denominação ou igreja. Antes, suas causas e soluções devem ser estudadas, postura que pode nos ajudar no aperfeiçoamento de nossas relações interpessoais e organizacionais.
Todos, em todas as épocas e lugares, experimentam relacionamentos conflituosos. Portanto, não permitamos que aumentem o peso de nossas culpas pela parte que nos toca, nem que oportunistas políticos, com discurso pseudo-espiritual, usem isso para justificar o afastamento da cooperação ou a criação de igrejas ou denominações de propriedade privada.
Continuemos lutando pela unidade, tanto na diversidade quanto na adversidade, alimentando a cultura do respeito mútuo e do diálogo e combatendo extremismos nocivos à caminhada cristã solidária.
Na verdade, se temos conflitos, isso apenas retrata nossa condição natural de seres que pensam, sentem, agem e interagem, de maneira individual e ativa, com a realidade. Ademais, o fato de adotarmos a democracia como forma de governo impede que diferenças permaneçam escondidas e possibilita que cheiros, às vezes desagradáveis, dos bastidores, atinjam nossas narinas.
Para aqueles que se sentem incomodados com a exposição de nossos conflitos ou que mistificam e mitificam o passado, defendendo um retorno aos “fundadores” como caminho para superar problemas do presente, eis uma notícia que preferiríamos não anunciar: entre os santos “fundadores” das igrejas cristãs primitivas, conflitos também se fizeram presentes, senão vejamos:
Em Jerusalém, os judeus de fala grega se sentiram discriminados pelos de fala hebraica, fato que exigiu a eleição da primeira CPSC - Comissão Para Solução de Conflitos - (At. 6.1-6); os cristãos do PC – Partido da Circuncisão – criticaram Pedro, fato que exigiu dele explicações sobre suas posturas (At. 11.1-3); esses mesmos cristãos geraram uma grande contenda com Paulo e Barnabé (At. 15.1-2), fato que forçou a realização de uma assembléia da igreja (At. 15.1-19) em que o PRF – Partido Religioso dos Fariseus – (At. 15.5) fez acusações que geraram muita discussão (At. 15.5-8); Paulo e Barnabé, quem diria, tiveram um desentendimento tão sério que culminou com uma separação temporária (At. 15.9);
Na Galácia, Paulo bateu de frente com Pedro porque este teria agido incoerentemente (Gal. 2.11-13);
Em Filipos, duas irmãs viveram um conflito que mereceu intervenção de Paulo (Fil. 4.2-3);
Em Corinto a coisa foi tão feia que o escancarado partidarismo em torno de líderes foi classificado por Paulo como mundanismo (I Cor. 1.11-12; 3.4);
O próprio “grupo de elite” de Jesus já discutia entre si, ainda na presença do mestre, em torno de qual deles seria o maior (Lc. 9.46) e até já havia candidatos às cadeiras mais próximas de Jesus na glória, fato gerador de indignação (Mc. 10.35-41).
Diga-se de passagem, os que defendem o passado como paradigma para a igreja de hoje deveriam estudar com mais profundidade a história da igreja, inclusive dos “reformadores”, para perceberem que em todas as épocas e lugares as relações de poder foram testadas e conflitos de diferentes naturezas e graus ficaram registrados.
Isso não significa que devamos nos acomodar diante dos atritos resultantes da convivência cooperativa e democrática da qual participamos. Muito menos, servir de modelo ou estímulo para alimentarmos ou justificarmos conflitos na denominação ou igreja. Antes, suas causas e soluções devem ser estudadas, postura que pode nos ajudar no aperfeiçoamento de nossas relações interpessoais e organizacionais.
Todos, em todas as épocas e lugares, experimentam relacionamentos conflituosos. Portanto, não permitamos que aumentem o peso de nossas culpas pela parte que nos toca, nem que oportunistas políticos, com discurso pseudo-espiritual, usem isso para justificar o afastamento da cooperação ou a criação de igrejas ou denominações de propriedade privada.
Continuemos lutando pela unidade, tanto na diversidade quanto na adversidade, alimentando a cultura do respeito mútuo e do diálogo e combatendo extremismos nocivos à caminhada cristã solidária.
0 comentários:
Postar um comentário