sábado, 1 de agosto de 2009

Mexendo com seu boldo (2004)

Quando você entra num templo ou numa sala de um mall, onde pessoas se reúnem para fins religiosos, seja para meditação espiritual, cerimônia fúnebre, casamento, formatura ou mesmo uma celebração cotidiana – culto, missa ou sei lá o que - tenha certeza absoluta de que, para que aquele espaço estivesse à sua disposição, alguém tirou dinheiro do bolso e investiu ali; alguém pagou a aquisição ou o aluguel, sua limpeza e conservação, energia elétrica, água, etc. etc. etc. E mais: pagou não somente as despesas patrimoniais, mas também as organizacionais. Tempo e conhecimento foram investidos para que as coisas acontecessem. Quanto maior for a exigência de tempo e conhecimento dos organizadores, maiores são os investimentos. Portanto, afirmar que a entrada é gratuita, sempre é relativo. Pode ser gratuita para o convidado, mas alguém pagou as despesas.

Há muito trabalho voluntário nas instituições religiosas, verdadeiras manifestações de amor daqueles que acreditam na importância do que realizam, mas há, também, trabalhos que exigem tamanha dedicação de tempo, conhecimento e ação específicos que, sem investir em algúem para fazê-lo, não aconteceria. Assim, a diferença entre o trabalho religioso voluntário e o remunerado, não está no amor de quem o faz, mas nas exigências de tempo requeridas. Portanto, gostando ou não, também as atividades religiosas têm um custo financeiro. Se nada se faz sem dinheiro, em qualquer lugar do planeta, que diremos em sociedades capitalistas nas quais “time” - e tudo mais – “is money”?

Nós brasileiros não aprendemos a contribuir generosa e regularmente para igrejas porque nossa cultura religiosa não é democrática. O sistema de governo da religião dominante no Brasil excluiu, durante séculos, a participação decisória dos fiéis a ela agregados. Suas decisões, tomadas de cima para baixo, e suas finanças administradas sem participação comunitária, criaram uma religiosidade paternalista na qual as pessoas se acostumaram a usufruir dos serviços, sem tomar conhecimento do custo e origem dos recursos. Essa ausência de participação nas instäncias administrativas, gerou religiosos depreocupados e, pior, contrários até, ao levantamento de sustento, comum à cultura das igrejas evangélicas. (Durante séculos, essa religião dominante beneficiou-se, legal mas incorretamente, da condição de “Igreja Oficial”, mantendo-se, também, com dinheiro de cidadãos protestantes, de outras religiões ou sem religião, sob o nome de dinheiro público).

O triste é que, na contramão e negando a história, cresce o número de igrejas com a marca indevida de “Evangélica” que excluem os fiéis da administração financeira, deixando todo o dinheiro nas mãos do pastor, bispo, apóstolo, vice-deus... Isso ocorre, em parte, porque há pessoas que devolvem seus dízimos ou dão suas ofertas, mas preferem não tomar conhecimento de como são aplicados, deixando isso por conta da “igreja”. A questão é: quem é essa “igreja”? Aqui entra, outra vez, um problema da cultura religiosa brasileira. Nela, a palavra igreja é associada a templo ou uma cúpula. Originalmente, porém, igreja é povo e não templo ou cúpula. Portanto, sua administração deve ser, democratica, como têm feito, ao longo de séculos, igrejas batistas, presbiterianas ou congregacionais, por exemplo.

Os líderes das igrejas deveriam ser os maiores interessados na administração transparente e democrática das finanças, primeiro, porque isso reflete melhor a concepção bíblico-teológica do sacerdócio individual do cristão e, depois, porque é um meio de protegerem-se de qualquer difamação,afinal, onde as coisas não são claras, a fumaça pode intoxicar.

Ninguém deve financiar uma instituição religiosa movido por chantagem, medo de penalidades espirituais ou como investimento particular à espera de retorno. Nem deve pensar que todas as igrejas agem como empresa visando lucro financeiro. Ainda há muitas igrejas que não se contaminaram com a paranóia do ter; ainda há pessoas que cultivam o altruismo e o senso de coletividade.

Não deixe de participar de uma igreja se estiver em crise financeira. Pastores que nos olham com um cifrão nos olhos são exceção. Lembre-se de que o melhor investimento é o que fazemos na vida espiritual, pois, como disse Jesus, “ a traça e a ferrugem não destroem e os ladrões não arrombam nem furtam” (Mt. 6.19-21). Seus efeitos, portanto, são eternos!

Vale lembrar, pra terminar, que, nos Estados Unidos, dinheiro dado às igrejas pode ser descontado na declaração de Impostos. Sendo assim, no início do ano, exerça seu direito de solicitar à Instituição para a qual fez doações, uma declaração do total contribuído, para apresentar ao “leão” norte-americano.

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