Tristeza 2003
Quem nunca sentiu, que atire o primeiro lenço
Há quem pense que pastor não sente tristeza. Sim, há quem pense que, pelo fato de trabalhar com coisas espirituais e, em tese, viver sob a orientação divina, ele tenha “mais crédito” no céu, o que lhe permitiria viver livre de sentimentos comuns aos mortais. Pensam assim porque alguns pastores criam em torno de si uma aura de espiritualidade que nem sempre corresponde à realidade. Por isso, por falta de senso crítico, insegurança ou qualquer outro motivo, ainda há quem alimente idéias fantasiosas em torno dessa personalidade, as vezes e infelizmente controvertida, chamada pastor.
Mas não vou escrever sobre pastor e sim sobre tristeza. É que experimentei-a recentemente quando minha filha, aos 18 anos, deixou-nos para voltar ao Brasil onde inicia seus estudos de Administração de Empresas na Universidade Federal de Pernambuco. Então, cada vez que entro em seu quarto, choro a saudade da separação, confirmando o que sempre soube, mas nem sempre admiti: sou muito mole!
Me consola saber que não estou sozinho pois a maioria dos brasileiros nos Estados Unidos sentiu ou sente este tipo de tristeza. Alguns ainda estão na fase do choro, outros já superaram, mas todos a experimentam, vez por outra, por ter deixado pra trás, pessoas, lugares, bichinhos de estimação que fazem parte do seu mundo significativo.
Há tristezas que resultam de problemas nossos e há as que são fruto de solidariedade. Acontecem, por exemplo, quando perdemos um(a) namorado(a), um ente querido por morte, quando somos reprovados num exame vestibular ou na tentativa de um novo emprego, quando vemos uma criança que cresceu nos Estados Unidos não poder entrar na faculdade por causa da ilegalidade, quando presenciamos o sofrimento de pessoas que amamos ou pensamos nas gritantes desigualdades sociais brasileiras e suas consequências funestas...
É interessante que a tristeza nem sempre está vinculada ao que se vive no presente. Mesmo que o presente esteja próximo do desejado, ela invade nossas vidas inesperadamente usando como chave a lembrança de uma experiência dolorosa e, se não fossem as lágrimas – “bem-aventurado os que choram porque serão consolados” – o coração explodiria, pois a dor seria insuportável. Tais lembranças produzem um sentimento de incompletude, de lacuna no coração, uma sensação de que algo está faltando.
Essa sensação deve ser curtida e não abafada. Digo isso porque há quem acredite ser vergonhoso expressá-la, afinal, se “homem que é homem não chora”, chorar seria coisa de fraco. Fruto de séculos de cultura machista, essa compreensão faz com que alguns escondam suas tristezas ou a camuflem num copo de cerveja numa roda de “amigos”, num “shopping”, torrando desnecessariamente alguns trocados ou ainda em catarses coletivas praticadas em algumas reuniões religiosas. Outros, por ignorância, chegam a se envolver com drogas ilegais, caindo nas mãos de traficantes, transformando a vida - a sua e a dos que os cercam - num inferno. Não podem escondê-la, porém, de si mesmos, nem mesmo embalando-a em roupas de marca, maquiagens caras ou carros maravilhosos... Na hora em que se despem destas coisas e a cabeça se encontra com o travesseiro, a noite é perturbadora.
Dependendo da filiação religiosa da pessoa, há um agravante. É que algumas igrejas ensinam que “crente” não fica triste. Então, para não dar “mal exemplo” - marketing religioso de péssima qualidade, verdadeira propaganda enganosa da “fé” causadora de profundas neuroses - há pessoas se remoendo que insitem num riso hipócrita para preservar a imagem da instituição. Diferentemente das instituições religiosas, Deus não precisa de marqueteiros, de gerenciadores de sua imagem. Ele pede somente que o amemos, bem como a nós mesmos e aos nossos semelhantes e que confiemos na incondicionalidade do seu amor. Por isso, ser verdadeiro na tristeza é a postura mais adequada, ponto de partida para quem pretende vencê-la e viver de forma saudável.
Anima-nos saber que Jesus não escondeu sua tristeza. Ele disse: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal...”(Mateus 26.38). Anima-nos sua honestidade: “neste mundo vocês terão aflições; contudo tenham ânimo! Eu venci o mundo”. (João16.33). Anima-nos o registro poético da experiência de Davi, rei Judeu, com Deus: “Pode a tristeza durar, todo o anoitecer, mas a alegria vem ao amanhecer (Salmos ). Portanto, enfrente sua tristeza na perspectiva de que ela é transitória. Cultive sempre amizades sinceras. E se for preciso, procure ajuda de profissionais. Eles também são sinais da graça de Deus.
Há quem pense que pastor não sente tristeza. Sim, há quem pense que, pelo fato de trabalhar com coisas espirituais e, em tese, viver sob a orientação divina, ele tenha “mais crédito” no céu, o que lhe permitiria viver livre de sentimentos comuns aos mortais. Pensam assim porque alguns pastores criam em torno de si uma aura de espiritualidade que nem sempre corresponde à realidade. Por isso, por falta de senso crítico, insegurança ou qualquer outro motivo, ainda há quem alimente idéias fantasiosas em torno dessa personalidade, as vezes e infelizmente controvertida, chamada pastor.
Mas não vou escrever sobre pastor e sim sobre tristeza. É que experimentei-a recentemente quando minha filha, aos 18 anos, deixou-nos para voltar ao Brasil onde inicia seus estudos de Administração de Empresas na Universidade Federal de Pernambuco. Então, cada vez que entro em seu quarto, choro a saudade da separação, confirmando o que sempre soube, mas nem sempre admiti: sou muito mole!
Me consola saber que não estou sozinho pois a maioria dos brasileiros nos Estados Unidos sentiu ou sente este tipo de tristeza. Alguns ainda estão na fase do choro, outros já superaram, mas todos a experimentam, vez por outra, por ter deixado pra trás, pessoas, lugares, bichinhos de estimação que fazem parte do seu mundo significativo.
Há tristezas que resultam de problemas nossos e há as que são fruto de solidariedade. Acontecem, por exemplo, quando perdemos um(a) namorado(a), um ente querido por morte, quando somos reprovados num exame vestibular ou na tentativa de um novo emprego, quando vemos uma criança que cresceu nos Estados Unidos não poder entrar na faculdade por causa da ilegalidade, quando presenciamos o sofrimento de pessoas que amamos ou pensamos nas gritantes desigualdades sociais brasileiras e suas consequências funestas...
É interessante que a tristeza nem sempre está vinculada ao que se vive no presente. Mesmo que o presente esteja próximo do desejado, ela invade nossas vidas inesperadamente usando como chave a lembrança de uma experiência dolorosa e, se não fossem as lágrimas – “bem-aventurado os que choram porque serão consolados” – o coração explodiria, pois a dor seria insuportável. Tais lembranças produzem um sentimento de incompletude, de lacuna no coração, uma sensação de que algo está faltando.
Essa sensação deve ser curtida e não abafada. Digo isso porque há quem acredite ser vergonhoso expressá-la, afinal, se “homem que é homem não chora”, chorar seria coisa de fraco. Fruto de séculos de cultura machista, essa compreensão faz com que alguns escondam suas tristezas ou a camuflem num copo de cerveja numa roda de “amigos”, num “shopping”, torrando desnecessariamente alguns trocados ou ainda em catarses coletivas praticadas em algumas reuniões religiosas. Outros, por ignorância, chegam a se envolver com drogas ilegais, caindo nas mãos de traficantes, transformando a vida - a sua e a dos que os cercam - num inferno. Não podem escondê-la, porém, de si mesmos, nem mesmo embalando-a em roupas de marca, maquiagens caras ou carros maravilhosos... Na hora em que se despem destas coisas e a cabeça se encontra com o travesseiro, a noite é perturbadora.
Dependendo da filiação religiosa da pessoa, há um agravante. É que algumas igrejas ensinam que “crente” não fica triste. Então, para não dar “mal exemplo” - marketing religioso de péssima qualidade, verdadeira propaganda enganosa da “fé” causadora de profundas neuroses - há pessoas se remoendo que insitem num riso hipócrita para preservar a imagem da instituição. Diferentemente das instituições religiosas, Deus não precisa de marqueteiros, de gerenciadores de sua imagem. Ele pede somente que o amemos, bem como a nós mesmos e aos nossos semelhantes e que confiemos na incondicionalidade do seu amor. Por isso, ser verdadeiro na tristeza é a postura mais adequada, ponto de partida para quem pretende vencê-la e viver de forma saudável.
Anima-nos saber que Jesus não escondeu sua tristeza. Ele disse: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal...”(Mateus 26.38). Anima-nos sua honestidade: “neste mundo vocês terão aflições; contudo tenham ânimo! Eu venci o mundo”. (João16.33). Anima-nos o registro poético da experiência de Davi, rei Judeu, com Deus: “Pode a tristeza durar, todo o anoitecer, mas a alegria vem ao amanhecer (Salmos ). Portanto, enfrente sua tristeza na perspectiva de que ela é transitória. Cultive sempre amizades sinceras. E se for preciso, procure ajuda de profissionais. Eles também são sinais da graça de Deus.
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