sábado, 15 de agosto de 2009

Cristo e natureza do Reino de Deus

Textos:
Texto bíblico: Mateus 12 e 13
Texto Áureo - Mateus 13.23

Comentários da lição:
A expressão Reino de Deus e Reino dos Céus tem o mesmo significado. No evangelho de Mateus predomina o costume palestino de se evitar o uso do nome de Deus, daí a utilização da transcrição Céu. Segundo Leonhard Goppelt, "sob o ponto de vista histórico, a pregação do Batista se orientava na vinda do 'que há de vir'; a de Jesus, no entanto, se orientava na vinda de Deus, isto é, no seu domínio"(Teologia do Novo Testamento, Editora Sinodal, São Leopoldo, 1976).
Por isso, não encontraremos Jesus descrevendo o perfil físico do Reino dos Céus, em seu sentido popular, isto é, descrevendo um lugar sobre o firmamento onde os salvos morariam. O propósito era mostrar como se daria o domínio de Deus e seus efeitos na vida humana.

Mateus 12.1-21 - O Senhorio de Cristo sobre a lei

A guarda do sábado era uma instituição divina que foi profundamente assimilada pelo judaísmo. Seu objetivo era preservar a saúde humana, através do necessário descanso. Compreendido o objetivo da lei, a prática do descanso seria, naturalmente, observada.
Porém, aquilo que foi estabelecido para o bem estar dos seres humanos, passou a ser uma arma contra eles. É que, como resultado de uma interpretação que não alcançava o espírito da lei, as pessoas passaram a ter seus passos detalhadamente regulados por normas estabelecidas pelos líderes religiosos. A regulamentação fugiu a tal ponto do espírito da lei que até colher alimento para saciar a fome ou curar uma pessoa no sábado era motivo de penalidades.

Os cristãos, entendendo os ensinos de Jesus, mantiveram o espírito da lei - a função do descanso - ao guardar o domingo, pelo significado histórico desse dia, em face da ressurreição de Jesus. Com o passar dos anos, porém, novamente por deficiência na compreensão do espírito da lei, muitas igrejas passaram a tratar o domingo de forma legalista, estabelecendo uma série de atividades que se poderia ou não fazer naquele dia. Atividades religiosas, por exemplo, seriam permitidas; atividades de lazer ou produção, não. Diante disso, algumas igrejas passaram a sobrecarregar os crentes com tantas atividades no domingo, retirando deles o tempo para descansar ou estar em família.
Hoje, o rolo compressor do capitalismo, as mudanças nas formas de produção e comercialização de bens e as alterações na forma como se vive em sociedade, influenciaram na mudança da legislação do país, dificultando o descanso de muitos indivíduos e a possibilidade de convivência familiar. Nesse sentido, o espírito do sábado precisa ser resgatado e como igreja precisamos estar atentos.

O registro de Mateus sobre o sábado é uma evidência do novo tempo, da chegada do Reino de Deus, em que o Senhorio de Jesus se sobrepõe à própria lei judaica.

Mateus 13.3 - O Reino de Deus e as parábolas de Jesus

Segundo Champlin "Nota-se que Jesus não só empregou as parábolas, mas, igualmente, o discurso comum, mais à forma de sermão, e que também ensinou por meio da conversa simples" (O Novo Testamento Interpretado, Milenium Distribuidora Cultural Ltda, São Paulo 1980). As parábolas, porém, foram o meio mais usado por Jesus para facilitar, aos seus ouvintes, a compreensão dos conhecimentos que deveriam assimilar.
Nesse sentido, o método de Jesus era profundamente compatível com as teorias mais atuais a respeito da construção do conhecimento. Expoentes como Piaget e Vigotski defenderam que a construção do conhecimento se dá através da relação entre o que se ouve e o que foi introjetado na mente do indivíduo desde os primeiros contatos com a realidade. Falando através de parábolas, Jesus possibilitava aos seus ouvintes relacionar seus ensinos com coisas que eles já tinham na mente, facilitando a compreensão da mensagem e a construção do conhecimento em torno do Reino de Deus.

Mateus 13.1-30;31-43; 44-53 - O reino de Deus segundo as parábolas

Para Joachim Jeremias, "Todas as parábolas de Jesus forçam o ouvinte a tomar posições perante Jesus e sua missão pois todas estão cheias do 'mistério do Reino de Deus'(Mt.4.11), isto é da certeza que os tempos salvíficos já estão a irromper-se" (As parábolas de Jesus, Edições Paulinas, São Paulo, 1980). Entender as parábolas de Jesus é o mesmo que entender a natureza do Reino de Deus, a missão de Jesus e, consequentemente, entender qual deve ser a nossa postura de discípulos na sociedade em que vivemos.
Segundo J. Jeremias, a parábola do Semeador, foi vista como uma alegoria, e interpretada traço por traço pela igreja primitiva. A interpretação recebeu uma ênfase psicológica, servindo de exortação aos novos convertidos, no sentido de verificarem suas disposições interiores relacionadas aos compromissos assumidos.
A parábola do grão de mostarda tem por objetivo mostrar como o Reino de Deus, partindo de uma pequena semente, se tornaria uma grande árvore, cujos ramos serviriam de abrigo para as pessoas. De igual modo, a Parábola do Fermento também se referia ao crescimento do Reino de Deus. As Parábolas do tesouro escondido e a da pérola indicam que a alegria da pessoa que encontra o Reino de Deus é tão profunda que ela é capaz de vender tudo o que tem para possuí-lo e sua vida toda passa a se orientar por ele. A parábola da rede e a do trigo e do joio indicam que, por ocasião da vinda do Reino, aconteceria uma separação dos salvos dos não salvos, como ocorre na seleção de peixes, após o recolher da rede.

As parábolas de Jesus e sua aplicação para hoje

As parábolas de Jesus podem ser utilizadas para fins diversos. Um exemplo disso é o uso que se faz das mesmas numa perspectiva psicológica, visando ajudar as pessoas a se compreenderem melhor, alterando suas qualidades de vida. Um exemplo disso é o trabalho de Hanna Wolff, em seu livro Jesus Psicoterapeuta(Edições paulinas, São Paulo, 1990).
Conquanto a utilização das parábolas para fins diversos não seja errado, devemos tentar compreendê-las em sua finalidade original, isto é, numa perspectiva teológica, no contexto em que foram proferidas e, a partir daí, contextualizar seus ensinos para nossos dias.

Partindo desse ponto de vista, as parábolas descritas no texto bíblico em pauta são profundamente importantes para nossas vidas hoje. A do grão de mostarda e do fermento, nos fazem perceber que as palavras de Jesus se cumpriram e, em relação ao momento em que Jesus as proferiu, o Reino de Deus cresceu de forma extraordinária e suas igrejas, como agências deste Reino, têm abrigado milhões de pessoas ao redor do mundo.

As parábolas do tesouro escondido e da pérola, devem servir como auto-avaliação da nossa própria experiência espiritual. Será que estamos dominados pela profunda alegria do Reino de Deus, a ponto de colocá-lo como valor supremo em nossa existência?

A parábola da Rede e a do trigo e do joio são um alerta sobre o juízo que a chegada do Reino de Deus trará consigo e como haverá uma seleção entre os salvos e pedidos. Seremos aprovados?


A LIÇÃO EM FOCO

1. Jesus nos ensina, em duas de suas parábolas que, com o advento do Reino, haverá uma identificação dos salvos e dos perdidos mas que essa identificação não deve ser apressada para não cometermos equívocos(Mt. 13.24-30). Porém, ao dizer que "pelo fruto se conhece a árvore" (12.33), Jesus abre espaço para especulações, já presentes na mente humana.
Se o fruto que produzimos é o principal indicador de que pertencemos ou não ao Reino dos Céus, é importante esclarecer que tipo de fruto nos identifica como cidadãos do Reino. Discursos e manifestações de poder sobrenatural, por exemplo, foram descartados por Jesus como indicadores de que pertencemos ao Reino (Mt. 7.22-23).
Pelas parábolas da rede e do trigo e do joio, também podemos dizer que ser membro de uma igreja, seja ela de que denominação for, também não é um bom indicador. A produção do fruto do Espírito(Gal. 5.22-23), especialmente o amor(I JO. 3.14) é o indicador mais confiável. Vale salientar, entretanto que este indicador deve ser usado para avaliar a nossa própria situação no Reino e não a vida alheia. Somente a Deus cabe julgar a situação do outro.

2. O Senhorio de Jesus sobre o sábado traz à tona uma antiga discussão entre o individual e o institucional. As instituições foram criadas após os indivíduos visando preservar a qualidade de vida do indivíduo, em si mesmo e na coletividade. Devido à própria natureza pecaminosa do homem, nem sempre as instituições alcançaram esse propósito. E o que é pior, as vezes se tornaram prejudiciais à vida humana.
No caso do sábado, a forma como estava sendo tratado pela religião estabelecida, fez com que ele se tornasse em maldição e não bênção para o indivíduo. A igreja, a família e a escola, por exemplo, enquanto instituições, precisam permanentemente se autocriticarem a fim de não se transformarem em maldição para o indivíduo, em vez de bênção.
Por isso, os valores que as regem devem ser confrontados permanentemente com a natureza e os valores do Reino de Deus a fim de que se afinem a eles.

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