Vencendo as crises da adolescência (2006)
Vez por outra paro pra pensar na minha adolescência. Não costumo reclamar do que faltou, prefiro valorizar o que tive. Se em algumas áreas as condições de vida não foram as desejáveis, em outras foram bastante felizes. Num balanço final, o saldo foi positivo.
Lembro-me com alegria daquela fase cardume. Era o período em que não somente andávamos em bando, mas também, para onde um ia todos seguiam juntos.
Era o tempo em que a palavra responsabilidade não fazia parte do vocabulário. Tínhamos conhecimento dela mais por ouvir falar – quando é que você se tornará responsável? - do que por falar.
Sonhar era uma das experiências mais comuns. Idealizar a vida ao lado de alguém que se ama, chorar por causa do sofrimento de um amigo e indignar-se com as injustiças em tom fortemente emocional, era muito mais comum na caminhada.
Era delicioso voar em mundos de fantasia enquanto a professora falava em geometria, raiz quadrada, crase, análise sintática, enfim. Ruins eram as conseqüências quando aterrissava na hora das provas. Aí doía!
Imaginar-se financeiramente autônomo, dono do próprio nariz, sem ter que prestar contas sobre a hora de voltar pra casa ou das notas alcançadas na escola ocupava parte significativa do tempo.
O uso de gírias como forma de comunicação, de corte de cabelo ou certos tipos de roupa como meio de diferenciação faziam com que me sentisse único, ainda que semelhante aos da mesma idade. Essa era a forma de vivenciar a independência possível e de imitar alguém admirado em quem projetava desejos distantes de se concretizarem.
Porém, não posso negar que, se tivesse tido acesso às informações que tenho hoje, sobre perfil de pessoas naquela faixa de idade, talvez, não somente a fase tivesse sido ainda melhor, mas também, nos anos posteriores, a influência dela causasse menos dor de cabeça pra mim e para os que me cercam.
Melhor ainda, se tivesse sido cercado por pessoas, na família, na igreja, na escola, que conhecessem os característicos desta fase e, por isso, conseguissem mergulhar em minha alma e acompanhar-me em meus vôos, ajudando-me de forma adequada a encontrar melhores rumos para superar as tribulações, as coisas poderiam ter sido mais fáceis.
Teria tido menos sentimento de culpa se soubesse que o conflito de autoridade faz parte daquele momento da vida; se soubesse que, se na fase anterior à adolescência a palavra dos pais é verdade absoluta, na adolescência é natural que se inicie a busca de verdades próprias, com as próprias palavras; que isso é fato gerador de conflitos, mas também é essencial à definição do caráter.
Talvez tivesse sofrido menos se soubesse, portanto, que aquilo que chamavam de rebeldia, desobediência, desvio, ou até, pasmem, falta de comunhão com Deus ou desobediência aos seus ensinos, poderia ser sinal de saúde, de amadurecimento, de crescimento pessoal.
Teria tido uma adolescência mais saudável se o diálogo e informações em torno das alterações pelas quais o corpo passa, fossem mais freqüentes. Talvez a timidez fosse encarada com mais naturalidade e os níveis de ansiedade atingissem patamares menos danosos, se ficasse mais claro que todos passam por tal processo e o processo passa.
Certamente as coisas teriam sido mais fáceis se tivesse havido mais diálogo quanto às transformações sexuais que ocorrem e se estas tivessem sido tratadas com naturalidade, como parte saudável do desenvolvimento humano. Se assuntos como masturbação e fantasias sexuais tivessem sido objetos de diálogo humano, honesto e franco, destituídos de preconceitos, ignorância e tabus, sem dúvida a passagem teria sido mais agradável.
O grande barato da vida, porém, é que a cada dia podemos decidir o que fazer com o que fomos ou deixamos de ser. Podemos escolher lamentar o que nos machucou e ficarmos paralisados ou tentar tirar lições do passado visando construir um presente e um futuro melhores.
Por isso, na adolescência, como em todas as fases da vida, é importante relativizarmos as experiências, sejam boas ou ruins. É importante compreendermos que não devemos mergulhar na tristeza diante das adversidades, porque elas passam, nem nos enchermos de orgulho nos momentos de glória, pois eles também passam.
Como tudo na vida passa, a adolescência também passa. O importante é procurarmos conhecer mais sobre as marcas de cada fase de nossa existência e como podemos enfrentá-las à luz da palavra de Deus.
Aprendendo a enfrentar as crises - transições da vida - não somente nos fortaleceremos para os desafios futuros, mas também, lamentaremos menos ao olhar para o passado. E, ao olharmos no espelho da vida, nosso semblante atestará que valeu a pena termos feito o que fizemos e vivido como vivemos.
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