sábado, 1 de agosto de 2009

A morte de Nezilda (2004)

“Eu quero lá pensar em morte. O que quero mesmo é viver”. É assim que muitas pessoas reagem diante deste assunto. Porém, pensar na morte não é morrer; é pensar a vida com mais profundidade. Quem evita pensar na morte, não sabe pensar em vida, vive superficialmente, de aparência.

Pensei nisso após participar, no último dia 4, do culto de gratidão pela vida de Nezilda Buarque Malta, mulher lutadora, jovem, alegre, gentil, cheia de fé, que partiu deixando, dentre os familiares, os filhos Denisy, Márcia e Mauri Jr..

A morte de Nezilda ressuscitou em minha mente a fragilidade da vida. Reportou-me ao tempo em que Leda Nagle terminava o JORNAL HOJE, da Globo, com um sonoro “vejo você amanhã, com certeza”. Mas, quem pode ter certeza do amanhã? Tiago, um dos prováveis irmãos de Jesus, disse: “Eia agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. (Tg. 4.13-15).

Quantos vieram para os Estados Unidos, certos de ganhar muito dinheiro e hoje vivem na mais profunda frustração? Quantos chegaram com saúde e agora perambulam cheios de dores e tristezas? Alguns bem sucedidos vivem de explorar cruelmente seus conterrâneos. Outros abandonaram valores éticos e espirituais para fazer o que lhes dá na telha. Não são poucos os que agem como se a vida girasse em torno de si e se resumisse no aqui e no agora. Outros, ainda, vivem como se a vida se resumisse em acumular dinheiro.

A música “Testamento”, de Toquinho e Vinícius de Moraes deveria ser tocada diariamente em nossas casas. Eis parte dela: “Você que só ganha pra juntar, o que é que há, diz pra mim, o que é que há. Você vai ver um dia em que fria você vai entrar. Por cima uma lage, embaixo a escuridão. É fogo irmão, é fogo, irmão…E voce com todo seu baú, vai ficar por lá, na mais total solidão, pensando a beça que não levou nada do que juntou. Só seu terno de cerimônia, que fossa hein meu chapa, que fossa!”

A morte de Nezilda me fez pensar em solidariedade. Ao ver a família cercada de uma multidão, com tantos pastores na cerimônia, pensei na importância dos relacionamentos. Não estou falando de encontros da noite. Nada contra eles! Eles têm seu lugar em nosso cotidiano. Mas, geralmente, são fortuitos. Falo de relacionamentos movidos por valores sólidos. Na hora da adversidade são eles que nos sustentam efetiva e afetivamente. Se você morresse hoje, quem assistiria sua família?

A morte de Nezilda me fez pensar no homem rico que depois de uma colheita abundante disse pra si mesmo: “Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” E Jesus conclui: “Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus”. (Lc. 12.19-21). Você está usando seu dinheiro ou o dinheiro está usando você?

A morte de Nezilda me fez pensar na importância da fé. A fé permitiu-lhe enfrentar em paz, o leito da enfermidade, ciente de que sua vida estava nas mãos de Deus; de que morrer não é o fim, mas um novo tipo de comunhão com o Criador. Para os familiares, a fé produziu consolo, pela ação do Espírito Santo e certeza do reencontro.

E pensando na morte de Nezilda, confirmou-se a palavra do pregador: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete; porque naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração”. (Eclesiástes 7.2).

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