sábado, 15 de agosto de 2009

Cristo, o messias que sofre

Textos:
Texto bíblico - Mateus 27 e 28
Texto áureo - Mateus 28.19-20

Comentários da lição:
Os fatos que caracterizaram o aprisionamento, julgamento, crucificação, morte e ressurreição de Jesus são da maior importância para nós cristãos hoje. Neles percebemos com uma clareza impressionante o que o pecado faz, inclusive com pessoas que são profundamente religiosas e até mesmo que tiveram o privilégio de desfrutar da convivência diária com Jesus.
A leitura da narrativa nos serve de alerta sobre as possibilidades de comportamentos inadequados, também dentro de nossas igrejas, se não houver em cada pessoa um compromisso verdadeiro com os valores do reino de Deus. Ela nos mostra que líderes religiosos que não tem um compromisso sério com princípios espirituais são capazes de fazer coisas iguais e até piores do que as praticadas por incrédulos.

Mateus 27. 1-10 - O remorso de Judas

A atitude de Judas deve ter aumentado o sofrimento de Jesus afinal, por ter a responsabilidade de cuidar do dinheiro do grupo (Jo. 13.29) certamente fazia parte do grupo mais próximo que o acompanhava. João porém não hesita em declarar que ele era ladrão(Jo. 12.4-6). Por isso não é difícil compreender sua traição por trinta peças de prata.
Apesar de não ter permitido que sua natureza fosse alterada, mesmo convivendo com Jesus, Judas tinha conhecimento dos ensinos do mestre e era consciente do erro que havia cometido. Tal consciência não o deixou em paz, mesmo depois de ter devolvido o dinheiro aos sacerdotes.
Isso, entretanto, não foi suficiente para gerar nele um arrependimento - mudança de mentalidade. Antes, o que ele experimentou foi remorso, que se trata de uma alteração apenas no sentimento. E, diante da implacável dor de consciência, optou pelo suicídio.

Mudanças de sentimento acompanham as experiências de conversão. Mas elas, em si mesmas, não são suficientes para gerar vida. A regeneração ou o surgimento de um novo tipo de vida acontece somente quando há mudança de mentalidade. E isso não aconteceu com Judas.

O registro da devolução do dinheiro, por judas, reafirma os equívocos religiosos nos quais estavam envolvidos os líderes do templo. Eles não se incomodavam pelo fato de ter subornado uma pessoa, com dinheiro do templo, para trair Jesus, mas se preocupavam com o possível pecado de devolver ao cofre do templo, o referido dinheiro.

Mateus 27.11-26 O julgamento político de Pilatos

Pela pergunta de Pilatos a Jesus, fica subentendido que a acusação que mais preocupava o governador era a de que Jesus pretendia ser o Rei dos Judeus. Se isso fosse verdade, caberia a ele, na condição de governador, adotar as providências para garantir o domínio romano.
A atitude de Jesus, entretanto, deixa Pilatos intrigado e até mesmo admirado. À pergunta feita, Jesus apenas responde: "É como dizes". Pilatos, não convencido de que Jesus tivesse intenções de organizar alguma rebelião política e, como que, para não tirar conclusões erradas, enviou-o a Herodes(Lc. 23.8-11). Esse, após entrevistar a Jesus, devolveu-o, sem restrições.
No decorrer do processo, a mulher de Pilatos informa-lhe de um sonho que tivera com Jesus e, por isso, entendia que Pilatos não deveria se envolver. Por outro lado, a multidão, insuflada pelos sacerdotes, pedia a crucificação de Jesus. Pilatos, portanto, ficou diante de duas opções. Libertar Jesus por não encontrar nele pecado que justificasse a morte e ser responsabilizado pela agitação do povo ou, condenar Jesus, mesmo sabendo de sua inocência, para agradar a multidão. Sua decisão foi política: transferiu para a multidão o poder de decisão, a qual, entre Jesus e Barrabás, optou pela crucificação de Jesus.


Mateus 27.27-56 - O desrespeito à dignidade humana

Após a decisão de Pilatos, os soldados levaram Jesus ao pretório. Ali, Jesus experimentou o desrespeito aos mais elementares dos direitos humanos: o de ser tratado com dignidade. Diante da coorte, Jesus foi alvo de zombarias, foi humilhado, recebeu cusparadas e foi agredido com um pedaço de cana.

A cena da crucificação demonstra que a postura cruel e desrespeitosa dos soldados não eram apenas com Jesus. Eles obrigaram um tal Simão a carregarem a cruz de Cristo. O único gesto de piedade demonstrado foi quando ofereceram vinho misturado com fel, uma bebida amarga que tinha efeitos narcóticos e visava minimizar a dor das pessoas crucificadas.
Não sabemos porque Jesus recusou a bebida. Uma das hipóteses é que ele queria experimentar a dor mais profunda daquela situação. O fato é que Jesus experimentou o que havia de mais cruel na sociedade de então.

Na cruz, Jesus continuou sendo objeto de zombaria. Uma delas referia-se às palavras dele a respeito da derrubada e edificação do templo(27.40). Jesus porém não cedeu à tentação pois sabia que precisava padecer na cruz, por nossos pecados.
O momento em que Jesus se rendeu à morte(27.50) se caracterizou por fenômenos extraordinários. O véu do santuário se rasgou, houve um terremoto e mortos ressuscitaram.

Mateus 27.57-66;28.1-15 A bondade do discípulo de Arimatéia e a maldade dos sacerdotes

O registro de Mateus, relativo ao padrão econômico do discípulo de Arimatéia que ofereceu-se para sepultar seu mestre, indica que o perfil dos seguidores de Jesus não era apenas de pessoas empobrecidas e marginalizadas. O acesso do discípulo de Arimatéia a Pilatos, a fim de solicitar permissão para sepultar o corpo de Jesus, demostra que, além de rico, gozava de prestígio junto às autoridades políticas.
Quando comparado com o registro dos ensinos de Jesus, em torno da dificuldade de um rico entrar no Reino dos céus(Mt. 19.16-30), esse registro de Mateus confirma que a graça de Deus está disponível para todos aqueles que estão dispostos a colocar o amor a Jesus, acima de tudo, inclusive acima do amor ao dinheiro.

Vemos também os principais sacerdotes e fariseus se articulando no sentido de evitar um possível roubo do corpo de Jesus. Imaginando que os discípulos de Jesus fossem tão maquiavélicos quanto eles, pediram a Pilatos que fortalecesse a segurança do túmulo. O fortalecimento da segurança tornou-se importante, por aumentar a credibilidade histórica da ressurreição, evitando que outras possibilidades de interpretação anulassem o fato.

Merece destaque também, o perfil ético dos principais sacerdotes. O uso de meios eticamente ilícitos era comuns em suas práticas. Para alcançar seus fins, os valores espirituais eram desprezados. Além de terem subornado Judas(Mt. 26.14-16), também subornaram os soldados a fim de que mentissem sobre o desaparecimento do corpo de Jesus(Mt. 28.11-13) e estavam dispostos a usar sua influência política para evitar uma possível punição aos soldados corrompidos, por parte do governo(Mt. 28.14).

Mateus 28.16-20 - O reencontro com os discípulos e a grande comissão

Não há possibilidade de se definir quando foi que Jesus marcou o encontro com os discípulos nem o nome do monte em que se encontrariam. O fato é que a reunião aconteceu, ainda que sob a dúvida de alguns. Em relação à dúvida, os que duvidaram não eram do grupo dos onze, uma vez que o último dos onze a se convencer da ressurreição foi Tomé.

O registro é uma das partes mais conhecidas do Novo Testamento. Nele, Jesus não apenas reafirma sua autoridade(Mt. 28.18) e promete estar sempre com eles(Mt. 28.20) mas, especialmente, define a visão estratégica a ser seguida pelos discípulos após sua ascensão.
Essa visão consistia em:
1) fazer discípulos de todas as nações;
2) batizá-los em nome da trindade;
3) ensiná-los a serem obedientes aos seus ensinamentos.
A preocupação de Jesus não é com o proselitismo ou com a formação de um império religioso, mas com a recuperação da imagem de Deus nos seres humanos, através do ensino da palavra e do discipulado.

A LIÇÃO EM FOCO

1. Geralmente um julgamento oficial é influenciado por pelo menos três fatores: o que diz a lei, o senso de justiça e a conveniência política de quem julga. Quando a lei é clara, ainda que fira o senso de justiça pessoal do juiz, este se vê obrigado a cumpri-la. Daí ouvirmos de alguns juizes: "eu não faço justiça, apenas cumpro a lei".
Há situações, porém, em que a lei não é clara e, nesse caso, o senso de justiça do juiz prevalece. Finalmente, há situações em que não prevalece nem o que diz a lei, nem o que manda a o senso de Justiça. Nesse caso, prevalece a conveniência política.
No caso de Jesus, percebe-se que a conveniência política foi o fator preponderante na decisão de Pilatos e Jesus foi condenado injustamente.

2. O tratamento dado a Jesus - cusparada, espancamento e humilhações - foi profundamente injusto, tanto pelos motivos quanto em sua forma.
Em tese, a aplicação de penalidade pelo cometimento de um crime, tem por objetivo levar o penalizado a ter consciência da infração, visando promover uma mudança de comportamento. Portanto, do ponto de vista pedagógico, a pena deve ser compatível com o crime, mantendo viva, na mente do criminoso, o senso de dignidade humana.
A auto consciência de infrator não deve anular sua auto consciência de ser humano. Por isso, como cristãos devemos lutar por um sistema penal através do qual os criminosos sejam punidos sem perderem a consciência de que foram criados à imagem de Deus.

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