Curtas de Teresina (2006)
Nossos irmãos de Teresina acolheram os batistas brasileiros para mais uma assembléia convencional - a primeira naquela cidade - num clima duplamente caloroso: na temperatura e no afeto. A alta temperatura e a falta de ventilação dentro do Ginásio onde as reuniões aconteceram, não foram suficientes para abafar o calor humano demonstrado pelo povo do Piauí no sentido de fazer com que nos sentíssemos bem.
Como coisas boas já foram destacadas neste semanário, destaco, para não ser repetitivo, alguns detalhes que precisamos estar mais atentos.
O som
A exemplo do que aconteceu na festa do Centenário Batista, em Salvador, a acústica foi um problema. Num encontro em que a participação do povo discursando é uma das marcas centrais e a tensão é freqüente em face das divergências comuns numa denominação que se enxerga como democrática, o problema acústico gera desconforto, provoca profundo desgaste de energia individual, cria um clima de feira no plenário e, por isso, merece especial atenção da organização do evento.
Os mais iguais
A única vez em que fiz uso da palavra nos debates dessa assembléia foi por uma questão de ordem. Questão de ordem é, não somente, uma das palavras mais desagradáveis de se ouvir numa assembléia, mas também uma das mais equivocadamente usadas. Diz a regra que ela pode ser usada quando a ordem dos debates não está sendo obedecida. Logo, se ela é muito usada, há uma forte possibilidade da ordem não estar mesmo sendo obedecida.
No meu caso usei-a ao não suportar mais tanta complacência da mesa diretora com pessoas que insistiam em falar sobre matéria vencida. Ora, respeitar oradores que desrespeitam o plenário insistindo em falar sobre matéria fora da ordem, significa desrespeitar não somente a ordem estabelecida, mas também as centenas de outras pessoas que tentam fazer sua parte para que o andamento da programação não atrase.
Pior porém, foi ouvir da mesa que, de fato o assunto estava fora de ordem, mas o orador, por seu histórico na denominação, deveria ser honrado com a palavra, ainda que fora de ordem.
Lembrei-me então da expressão popular que diz que todos são iguais perante a lei, mas uns são mais iguais. Vi repetir ali a figura dos coronéis que se acham e são tratados como acima da lei. Vi, sobretudo, um retrato do que tanto criticamos no Brasil: a lei não ser aplicada quando se trata de “gente de destaque”.
Penso que em nosso meio, um líder deve ser o primeiro a não querer fazer uso da palavra fora de ordem. Especialmente um líder que tantas vezes dirigiu assembléias e, por isso, conhece as regras do jogo. Mas se ele não quer enxergar isso e se a lei é para todos, que seja tratado, como todos, de maneira igual perante a lei, é óbvio! O contrário disso não significa somente cordialidade, mas também demonstração de desrespeito a todos, ainda que sem intenção, ao permitir que um descumpra a lei.
As prioridades nos programas noturnos
Já há convenções regionais que estabeleceram que as mensagens dos cultos noturnos, especialmente a oficial, deve ter prioridade sobre todo o restante da programação. Nessa assembléia isso não ocorreu. Foram tantos discursos improvisados de “personalidades politicamente de destaque” ou da mesa diretora anunciando isso e aquilo que os pregadores receberam a palavra quando eles e o povo já estavam próximos da exaustão, inclusive pelo calor.
Fui convidado para pregar num culto. Passando das 22 horas, depois de duas horas de programa, fui solenemente apresentado como orador da noite. Educada e sorridentemente disse que, se fosse pregar seguiria tal esboço, mas, devido ao tempo, a explanação ficaria para outra ocasião. Orei e encerrei minha parte em respeito ao povo (e também a mim!).
A composição dos Conselhos
Há coisas que não entendo. Há um século as discussões em torno do preenchimento das vagas nos Conselhos da Convenção se repetem sempre que chega em plenário o parecer da Comissão de Renovação dos Conselhos. Parece, então, que o tema merece estudo especial.
O critério regimental anterior, da proporcionalidade, desagradava alguns, mas havia um critério. Agora, fala em representatividade regional sem dizer como. Ficou pior.
Ora, se a Convenção é formada por igrejas, ainda que não agrade a todos, o melhor seria distribuir-se as vagas de forma proporcional à quantidade de igrejas de cada convenção estadual ou regional. Como o controle de entradas de igrejas é feito pela própria convenção, bastaria a aplicação de uma simples regra matemática para que cada convenção regional soubesse o número de vagas que lhe pertence.
Outro problema é a aplicação equivocada da regra que diz que as vagas nos Conselhos dos Seminários serão ocupadas por pessoas da determinadas convenções regionais. Essa regra, conjugada à tentativa de distribuição proporcional, faz com que, na prática, determinadas convenções regionais tenham representação somente nos seminários e não participem de nenhuma outra área de atuação denominacional.
Portanto, está na hora do Conselho de Planejamento se debruçar sobre o assunto, propor regra clara, com visível grau de justiça e oferecer à Assembléia o número de vagas que cabe a cada convenção regional.
A discussão sobre pastoras
Estou curioso para ver como a Ordem dos Pastores vai resolver o assunto. Na verdade, não entendo o porquê de se continuar discutindo o tema quando igrejas e Convenções Estaduais já se posicionaram favorável ou contrariamente.
A diretoria da Ordem interpretou inteligentemente e o plenário referendou, que não cabe a ela discutir o mérito do assunto uma vez que a matéria é da Igreja Local; que à Ordem cabe somente discutir se deve ou não aceitar a filiação de pastoras.
A questão é que, salvo melhor juízo, um pastor está automaticamente filiado à Ordem do Brasil quando é aceito nas secções regionais. Como já existem precedentes nas regionais aceitando pastoras, uma decisão contrária, nesta altura do campeonato, representaria um bom bico político. Quem for a Florianópolis verá!
O futuro
Até quando o tempo de nossas assembléias será utilizado para discutirmos quase que exclusivamente o passado ?
Como coisas boas já foram destacadas neste semanário, destaco, para não ser repetitivo, alguns detalhes que precisamos estar mais atentos.
O som
A exemplo do que aconteceu na festa do Centenário Batista, em Salvador, a acústica foi um problema. Num encontro em que a participação do povo discursando é uma das marcas centrais e a tensão é freqüente em face das divergências comuns numa denominação que se enxerga como democrática, o problema acústico gera desconforto, provoca profundo desgaste de energia individual, cria um clima de feira no plenário e, por isso, merece especial atenção da organização do evento.
Os mais iguais
A única vez em que fiz uso da palavra nos debates dessa assembléia foi por uma questão de ordem. Questão de ordem é, não somente, uma das palavras mais desagradáveis de se ouvir numa assembléia, mas também uma das mais equivocadamente usadas. Diz a regra que ela pode ser usada quando a ordem dos debates não está sendo obedecida. Logo, se ela é muito usada, há uma forte possibilidade da ordem não estar mesmo sendo obedecida.
No meu caso usei-a ao não suportar mais tanta complacência da mesa diretora com pessoas que insistiam em falar sobre matéria vencida. Ora, respeitar oradores que desrespeitam o plenário insistindo em falar sobre matéria fora da ordem, significa desrespeitar não somente a ordem estabelecida, mas também as centenas de outras pessoas que tentam fazer sua parte para que o andamento da programação não atrase.
Pior porém, foi ouvir da mesa que, de fato o assunto estava fora de ordem, mas o orador, por seu histórico na denominação, deveria ser honrado com a palavra, ainda que fora de ordem.
Lembrei-me então da expressão popular que diz que todos são iguais perante a lei, mas uns são mais iguais. Vi repetir ali a figura dos coronéis que se acham e são tratados como acima da lei. Vi, sobretudo, um retrato do que tanto criticamos no Brasil: a lei não ser aplicada quando se trata de “gente de destaque”.
Penso que em nosso meio, um líder deve ser o primeiro a não querer fazer uso da palavra fora de ordem. Especialmente um líder que tantas vezes dirigiu assembléias e, por isso, conhece as regras do jogo. Mas se ele não quer enxergar isso e se a lei é para todos, que seja tratado, como todos, de maneira igual perante a lei, é óbvio! O contrário disso não significa somente cordialidade, mas também demonstração de desrespeito a todos, ainda que sem intenção, ao permitir que um descumpra a lei.
As prioridades nos programas noturnos
Já há convenções regionais que estabeleceram que as mensagens dos cultos noturnos, especialmente a oficial, deve ter prioridade sobre todo o restante da programação. Nessa assembléia isso não ocorreu. Foram tantos discursos improvisados de “personalidades politicamente de destaque” ou da mesa diretora anunciando isso e aquilo que os pregadores receberam a palavra quando eles e o povo já estavam próximos da exaustão, inclusive pelo calor.
Fui convidado para pregar num culto. Passando das 22 horas, depois de duas horas de programa, fui solenemente apresentado como orador da noite. Educada e sorridentemente disse que, se fosse pregar seguiria tal esboço, mas, devido ao tempo, a explanação ficaria para outra ocasião. Orei e encerrei minha parte em respeito ao povo (e também a mim!).
A composição dos Conselhos
Há coisas que não entendo. Há um século as discussões em torno do preenchimento das vagas nos Conselhos da Convenção se repetem sempre que chega em plenário o parecer da Comissão de Renovação dos Conselhos. Parece, então, que o tema merece estudo especial.
O critério regimental anterior, da proporcionalidade, desagradava alguns, mas havia um critério. Agora, fala em representatividade regional sem dizer como. Ficou pior.
Ora, se a Convenção é formada por igrejas, ainda que não agrade a todos, o melhor seria distribuir-se as vagas de forma proporcional à quantidade de igrejas de cada convenção estadual ou regional. Como o controle de entradas de igrejas é feito pela própria convenção, bastaria a aplicação de uma simples regra matemática para que cada convenção regional soubesse o número de vagas que lhe pertence.
Outro problema é a aplicação equivocada da regra que diz que as vagas nos Conselhos dos Seminários serão ocupadas por pessoas da determinadas convenções regionais. Essa regra, conjugada à tentativa de distribuição proporcional, faz com que, na prática, determinadas convenções regionais tenham representação somente nos seminários e não participem de nenhuma outra área de atuação denominacional.
Portanto, está na hora do Conselho de Planejamento se debruçar sobre o assunto, propor regra clara, com visível grau de justiça e oferecer à Assembléia o número de vagas que cabe a cada convenção regional.
A discussão sobre pastoras
Estou curioso para ver como a Ordem dos Pastores vai resolver o assunto. Na verdade, não entendo o porquê de se continuar discutindo o tema quando igrejas e Convenções Estaduais já se posicionaram favorável ou contrariamente.
A diretoria da Ordem interpretou inteligentemente e o plenário referendou, que não cabe a ela discutir o mérito do assunto uma vez que a matéria é da Igreja Local; que à Ordem cabe somente discutir se deve ou não aceitar a filiação de pastoras.
A questão é que, salvo melhor juízo, um pastor está automaticamente filiado à Ordem do Brasil quando é aceito nas secções regionais. Como já existem precedentes nas regionais aceitando pastoras, uma decisão contrária, nesta altura do campeonato, representaria um bom bico político. Quem for a Florianópolis verá!
O futuro
Até quando o tempo de nossas assembléias será utilizado para discutirmos quase que exclusivamente o passado ?
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