sábado, 15 de agosto de 2009

Cristo e a ética do Reino

Textos:
Texto Bíblico: Mateus 16, 17 e 18
Texto áureo: Mateus 16.15-16

Comentários da lição:
A ética do Reino de Deus - conjunto de princípios que norteiam nossas ações como cristãos - é um dos elementos mais importantes a serem compreendidos em nossos dias. Isso porque a Igreja de Jesus Cristo, a exemplo do que ocorre na sociedade como um todo, vive momentos de transição em torno de uma série de costumes, seja no campo da conduta pessoal, seja no campo litúrgico ou mesmo nas posturas adotadas diante dos modelos sociais vigentes na economia ou na política, por exemplo.
O emocionalismo que tem tomado conta de nossas reuniões têm impedido uma reflexão profunda e bíblica em torno de nossas ações. A emoção não deve ser reprimida em nossas experiências espirituais mas devem ser regidas de acordo com parâmetros estabelecidos a partir de reflexões sérias e não manipuladoras da Palavra de Deus.

Mateus 16.1-4 - Má-fé e a ética do Reino

Há pessoas extremamente fragilizadas na fé ou que estão diante de um desafio tão grande que necessitam de um sinal de Deus como referencial para se posicionar com segurança. Outras se interessam por sinais extraordinários apenas como meio de demonstrar poder espiritual, visando conquistar respeito social. No episódio de Jesus com os Fariseus e Saduceus, percebemos que estes não buscavam nem uma coisa, nem outra. O propósito era, simplesmente, "experimentar" a Jesus(16.1).

Essa postura, também denominada de ação de má-fé ou com "segundas intenções", era muito comum entre os líderes religiosos daquela época e continua presente nos dias de hoje, inclusive, nos círculos denominados cristãos. Jesus não somente percebeu a "segunda intenção" deles, mas também reprovou tal atitude, não entrando no jogo deles.

Como cristãos precisamos não só de sabedoria para discernir as intenções das pessoas mas também de resistência espiritual para não cedermos à tentação de nos envolvermos em debates cujos propósitos não visam o crescimento espiritual; antes são tentativas de prejudicar a vida alheia ou espaço para manifestações de orgulho pessoal, posturas estas incompatíveis com a ética do reino.

Mateus 16.5-12 A ausência de ética na doutrina

Jesus usa, neste texto, mais uma figura de linguagem para ensinar os discípulos. Inicialmente os discípulos não alcançam o sentido das palavras de Jesus e pensam que Ele se referia ao fermento material. Jesus, então, ajuda-os a compreender que estava falando da doutrina dos Fariseus.
Ao usar a expressão fermento ele se referia aos problemas causados pela doutrina dos Fariseus, uma vez que essa palavra, naquele contexto histórico, significava uma má influência. Por isso eles deveriam ter cautela em relação às doutrinas farisaicas, senão elas entrariam em suas vidas e as corromperia.
Todo corpo de doutrina sistematizada é uma tentativa humana de interpretar a Palavra de Deus visando nortear os crentes num determinado contexto e, às vezes, visando responder a um problema que esteja causando conflitos, no seio de uma comunidade. Por maior que seja a quantidade de pessoas e a seriedade dos envolvidos no processo de interpretação nenhum corpo doutrinário está livre de equívocos.
O problema dos Fariseus era que seus equívocos eram tantos que acabavam por anular a própria Palavra de Deus. Anulando a Palavra de Deus, anulavam a possibilidade de vida e uma doutrina que não é capaz de conduzir à vida acaba gerando a incredulidade.

A dificuldade dos discípulos de interpretarem as palavras de Jesus continua presente em nossos dias. Uma coisa é fazermos uma leitura da Palavra de Deus numa perspectiva devocional, como consolo para nossas almas; outra coisa é fazermos uma leitura visando formular conceitos para nortear nossas ações e as dos nossos semelhantes. Nesse caso, se não procurarmos entender em profundidade as palavras de Jesus, incorreremos no mesmo erro dos fariseus e nossa doutrina também será "fermento".

Mateus 17.24-27 - Os impostos e ética cristã

Impostos são valores financeiros que todo cidadão paga como forma de participar da vida em sociedade. Receber os benefícios da boa aplicação dos recursos oriundos dos Impostos é algo que todos gostam; pagar os Impostos, porém, não é algo que todos fazem com prazer, especialmente quando não percebe os benefícios deles em prol da comunidade em que se vive.
Segundo W. Barclay, (Mateo II, ediciones la aurora, Argentina, 1973) a inclusão desse texto por Mateus, em seu evangelho, se deve ao fato de que o templo de Jerusalém havia sido destruído, porém o Imperador Vespaciano decretou que o Imposto deveria continuar sendo pago em prol do templo de Júpiter Capitolino, em Roma. Tal decreto gerava um profundo conflito na cabeça dos cristãos.
Se por um lado há a lei, que é um instrumento necessário para uma boa convivência social, por outro, há a consciência de que, nem sempre os fundamentos da lei ou a aplicação dos recursos dos Impostos são éticos.
Além disso, pesa contra os Impostos a acusação de que seu percentual, em relação aos rendimentos pessoais, é elevado. Diante dessa realidade a pergunta conflitante é: pagar ou sonegar? Daí a pergunta feita a Pedro: "O vosso mestre não paga os Impostos?" O exemplo de Jesus nos ensina que, na condição de cidadãos, os cristãos devem cumprir a lei e pagar os Impostos.

Mateus 18.15-35 A ética e a construção da comunhão

Construir a comunhão não é um processo automático que independe da vontade e da ação humanas. Além de predisposição das partes decididas a conviverem, é preciso que haja a compreensão de alguns elementos teológicos.
O texto em pauta nos ensina, em primeiro lugar, que devemos aprender a lidar com irmãos que cometem pecados. Cometer pecados não é o desejável mas é a realidade que todos enfrentamos(I Jo. 2.1). Uma vez que um irmão esteja vivendo numa situação de pecado, Jesus apresenta, não um ritual frio, como se fosse uma série de etapas jurídicas a serem observadas antes da condenação, mas ações individuais e coletivas que devem ser observadas a fim de que, caso seja necessária uma ação mais radical, que ela seja fruto não da compreensão de uma só pessoa, numa única observação, mas que seja resultado de ações refletidas e misericordiosas da coletividade(18.15-18).
Em segundo lugar, Jesus nos ensina que a vida comunitária deve ser entendida como uma luta em que a solidariedade deve se fazer presente até quando necessitamos pedir algo a Deus, em oração. Não se trata, portanto de uma fórmula mágica em que a presença de duas pessoas pedindo algo, tem que resultar numa conquista automática, sem que Deus possa dizer não(18.19).
Em terceiro lugar, o ensino confirma que Deus se faz presente onde pessoas se reúnem debaixo de sua autoridade - "em meu nome" - portanto em harmonia e respeito(18.20).
Em quarto lugar, a comunhão cristã é fruto da capacidade infinita de perdoar o outro(18.21-22).
Finalmente, a fim de que todos pudessem compreender a profundidade do perdão e sua importância para vivermos em comunhão, Jesus conta a parábola do credor incompassivo que, mesmo sendo alvo do perdão e da misericórdia, não era capaz de perdoar e ser misericordioso.


A LIÇÃO EM FOCO

1. O cumprimento da lei é uma condição fundamental para que se viva bem em sociedade. Nos sistema autoritários de governo, como era o caso do vigente na época de Jesus, ou o cidadão cumpria passivamente a lei ou se rebelava, geralmente através de movimentos armados.
No sistema democrático de governo, em processo de aperfeiçoamento no Brasil, os cidadãos têm o direito de eleger aqueles que entendem representar melhor sua compreensão de vida e de mundo, não apenas para administrarem as cidades, os Estados e o País mas também para fazerem as leis - Vereadores, Deputados e Senadores. E não só isso, os próprios cidadãos, através da filiação a partidos políticos, podem se candidatar a qualquer das funções mencionadas.
Assim sendo, numa sociedade democrática os cristãos tem o dever de cumprir a lei, como qualquer cidadão mas devem, também, trabalhar para modificá-las através de seus representantes, se entenderem que são injustas.

2. Ao criar o ser humano, Deus o capacitou para ter fé, da mesma forma que o capacitou para amar, sentir, pensar ou agir, por exemplo. O ensino bíblico que diz que a salvação pela graça, por meio da fé, é dom de Deus(Ef. 2.8), confirma a compreensão de que graça e fé são dons de Deus. Porém, a maneira como cada ser humano usa sua fé ou em quem ela é depositada, é uma escolha que Deus concedeu a cada um, a possibilidade de fazê-la.
Aprendemos que Jesus Cristo é o único em quem devemos depositar nossa fé e que aquele que nEle desenvolve uma fé amadurecida, não precisa de sinais para se guiar(II Cor. 5.7). Os sinais têm sua importância na vida cristã, especialmente em momentos em que nos sentimos fragilizados diante dos grandes desafios da vida. Porém, devemos desenvolver uma fé tal em Jesus Cristo que, independente de sinais e independente de vivermos situações desfavoráveis, continuemos firmes em nossa confiança nEle.

0 comentários: