sábado, 1 de agosto de 2009

Masturbação (2004)

Se voce é daqueles que ficam vermelhos só de ouvir falar naquilo, minhas desculpas! Não poderia, porém, deixar de tocar no assunto. Ele tem pouca repercussão pública exatamente porque acontece estritamente na (vida) privada. Mas, é motivo de dilema para milhares de adolescentes, jovens e adultos separados por um "visto" de seus cônjuges.

A masturbação - busca solitária de prazer através da manipulação do órgao sexual - e outros assuntos relacionados à sexualidade, ganharam ênfase nos currículos de escolas brasileiras somente a partir da década passada. A inclusão se deu em reação a abusos cometidos, especialmente via televisão, e seus efeitos sociais. Conversas educativas sobre o tema continuam tabu. Pais tomam conhecimento da primeira mestruação da filha, mas ignoram a primeira ejaculação e seu significado para o filho. Existem muitos mitos em torno da masturbação, desde os mais jocosos - faria crescer cabelos nas mãos - até os sem fundamentação científica - causaria espinhas no rosto ou conduziria ao homossexualismo. A masturbação, porém, em si, não é problema. Problema é o sentimento de culpa decorrente. Como lidar com sexo ainda é transitar no proibido, quem se masturba fica com a sensação de desobediência, culpa, medo, tristeza... A Bíblia silencia sobre o tema. Dois textos, entretanto, são distorcidos para "comprovar" que masturbação seria pecado. O primeiro refere-se ao coito interrompido de Onãn. (Gênesis 38.8-10). Porém, os minimamente alfabetizados sabem a diferença entre coito interrompido e masturbação. Além disso, pecado ali não foi o coito interrompido, mas o desrespeito à lei do levirato.
O segundo, refere-se às palavras de Jesus: "Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela". (Mt. 5.28). Aqui, também, o tema não é masturbação, nem posicionamento sobre pensamentos eróticos, mas adultério.

Os que condenam a masturbação, porém, alegam que ela é acompanhada de pensamentos eróticos e isso seria pecado, com base nesse texto. Isso beira à neurose! Porém, se exegese ajudar na cura, vale a pena conhecer uma. Veja o que diz o Dr. David Hocking em "Love and Marriage":
"Primeiro, a palavra olhar está no presente, no grego, indicando um hábito vivencial contínuo. Não cremos que esteja dizendo que olhar com desejo sexual em um dado momento é errado. Deus nos fez com desejo sexual. Os homens gostam de olhar para a mulheres e as mulheres gostam de olhar para os homens. Cremos que esta passagem está condenando a prática de centralizar a sua atenção em uma dada pessoa, com a motivação de cometer adultério com ela. Em segundo lugar, a palavra "mulher" está no singular, quanto ao número e não no plural. O texto não está condenando o ato de se olhar para mulheres em geral, mas a concentração em uma mulher em particular. Uma pessoa determinada começa a dominar nossos desejos.
Em terceiro lugar, as palavras "para cobiçar" têm referência óbvia à perpetração do adultério. Isto não é a mesma coisa que experimentar o desejo de olhar para a aparência física de uma mulher e gostar do que se viu. O problema pode acontecer quando você se concentra em uma pessoa em particular e mentalmente vai pra cama com ela". (O mito da grama mais verde, JUERP, RJ, 1985, pg. 82, 83).
Precisamos ser honestos, de cara, repito, pra dizer que a Bíblia não trata do tema masturbação. Dizer também que, assim como autores bíblicos combatem a glutonaria e embriaguez, sem nunca apontarem o jejum absoluto e abstinência total como alternativa, também combatem a imoralidade sexual sem apontar a "castração" como solução. Eles não seriam tão insensatos! A repressão sexual é tão nociva ao indivíduo e à sociedade quanto a liberação. O diálogo honesto sobre sexualidade, solidão, frustração, relacionamentos e outros, é a saída recomendada. No caso da masturbação, uma avaliação das circuntâncias pessoais, da frequência do ato e sentimentos posteriores, feita por pessoa qualificada, pode identificar as causas, se a prática seria doentia e que soluções saudáveis existem. Por isso, no trato do tema, em lugar do literalismo bíblico legalista, a confiança na graça de Deus deve ser enfatizada. Se pela graça não formos edificados, estamos perdidos, pois resta-nos a letra que mata.

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