sábado, 15 de agosto de 2009

As dimensões da mensagem de Cristo

Textos:
Texto bíblico: Mateus 5, 6 e 7
Texto áureo: 5.16

Comentários da lição:

O Sermão da Montanha é profundo em seu conteúdo ético. Através dele, Jesus questiona relacionamentos, atitudes, prioridades, religiosidade, enfim, questiona costumes e práticas do contexto em que desenvolvia seu ministério.

No Sermão, ele vai direto ao essencial dos elementos que devem nortear nossa conduta, mostrando que é fundamental diferenciarmos o essencial - o permanente, do acidental - o transitório. Aqueles que conseguem perceber a profundidade dos questionamentos de Jesus, neste Sermão, alcançam o sentido mais profundo da vida e se tornam mais graciosos em seu viver diário, portanto, menos legalistas e com maior senso de auto disciplina.

A compreensão do Sermão nos prepara para quebrar paradigmas impostos pela sociedade, inclusive pelas igrejas, que muitas vezes causam doenças, especialmente emocionais e afetivas, nos indivíduos; aprendemos a lidar de forma madura com os costumes estabelecidos e até mesmo a nos submetermos a eles, quando necessário. O mais importante, porém, é que passamos a pautar nossas práticas e pensamentos em valores eternos e a compreender melhor o ser humano, fatos que nos capacitam a viver e a conviver melhor.

Sendo o combate ao legalismo, uma das marcas do Sermão, concluímos que seu propósito não era estabelecer uma nova regra de vida, mais dura do que os dez mandamentos, para se alcançar o Reino de Deus. Seu objetivo era mostrar que o ideal de Deus para a vida humana era muito mais elevado do que a proposta legalista apresentada pela elite religiosa de então.
Demonstrando a falácia do legalismo farisaico, o Sermão acentua a impossibilidade do ser humano atingir os propósitos de Deus por si mesmos e, fortalece a necessidade do homem de depender da graça de Deus. Os ensinos do Sermão servem de parâmetro para pessoas que vivem debaixo da graça de Deus e que desejam uma vida melhor para si e para seus semelhantes e não como o caminho para a entrada no Reino de Deus.

Mateus. 5.1-12 - O sentido das bem-aventuranças

A vida é um emaranhado de áreas que interagem dinamicamente. Não é possível, na prática, dissociar por exemplo, o espiritual do material, o biológico do emocional, o social do político e assim por diante. O ser humano é multidimensional ou seja, é espiritual, é físico, é emocional, é social, é intelectual e assim por diante e essas divisões de áreas que fazemos só devem ser aceitas para fins didáticos, visando facilitar a compreensão do ser e a interação com a realidade que nos envolve.
Por isso, as bem-aventuranças não devem ser entendidas como uma mensagem que visa exclusivamente a dimensão espiritual do ser humano. Elas visam o ser humano como um todo e seu propósito é ensinar que o caminho da felicidade passa pelo equilíbrio de um conjunto de atitudes que devem ser cultivadas e não pela prática isolada de uma delas.
Em outras palavras, para que uma pessoa seja feliz não basta que seja saudável. por exemplo, fisicamente; se for doente afetivamente a felicidade não será sentida. Sendo o espiritual a dimensão mais profunda e duradoura da vida sua compreensão é essencial pois desencadeia uma atitude diferente em todas as demais áreas da vida, visando uma qualidade de vida melhor para todos.

Mateus. 5. 17-20 - O significado do cumprimento da lei

As palavras de Jesus, "até que tudo seja cumprido"(Mt. 5.18) é fundamental à compreensão do texto em pauta. Elas significam que, cumprido o seu propósito, a lei perderia sua função. Nesse sentido é que as palavras de Jesus devem ser compreendidas para que, por interpretações equivocadas, não transformemos em desgraça a graça manifesta em Cristo Jesus. A lei tinha um propósito claro nos planos de Deus. Ela serviria de "...aio, para nos conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados"(Gal. 3.24). Em Cristo a lei cumpre sua finalidade (Rom. 10.4). Logicamente, perder a função, a finalidade, não é o mesmo que perder o valor. Especialmente em seus aspectos éticos a lei divina continua valendo. Ela continua indicando que todos estamos debaixo do juízo divino (Rom. 3.19); que todos somos pecadores(Rom. 3.20; 7.7) e por isso precisamos depender da graça divina(Rom. 5.20).

Jesus nos estimula a não violarmos a lei (Mt. 5.19), isto é, a não desvirtuarmos seus propósitos. O cumprimento da lei, portanto, deve ser visto não como meio de alcançar a salvação, mas como conseqüência da compreensão dos propósitos de Deus.

O crente não se desespera diante da limitação humana e da impossibilidade de alcançar o exigido por lei, nem se sente perdido pois sua confiança está depositada na graça manifesta em Cristo. Por outro lado, o crente não sente prazer quando está fora da lei de Deus e muito menos usa a graça para viver em pecado. A graça é uma porta aberta, não para vivermos no pecado mas para nos libertarmos dele.

Mt. 5.21 - 7.23 A superioridade dos ensinos de Jesus

Um dos perigos que corremos em nossa ânsia de fazer a vontade de Deus é transformar os ensinos de Jesus em novas leis. Outro perigo é desprezarmos os ensinos bíblicos por valorizarmos mais as experiências místicas individuais do que os ensinos da Palavra de Deus, extraindo dela somente os textos que confirmam nossas experiências.
Não devemos nos esquecer de que os textos neo-testamentários visavam, num primeiro momento, responder questões de comunidades ou pessoas para as quais foram dirigidos. Mateus, por exemplo, visava responder aos problemas surgidos no seio da comunidade judaico-cristã. Somente alguns séculos depois os textos foram juntados, formando o Canon do Novo Testamento.
Assim sendo, auxiliados pelo Espirito Santo é que devemos buscar na Palavra de Deus, respostas para situações individuais experimentadas hoje.

Dos versos 21 a 48 do capítulo 5, Jesus faz uma comparação entre os ensinos de Moisés e seus próprios ensinos. Do capítulo 6.1 até 7.23, predomina um confronto entre os ensinos e práticas dos Fariseus e os ensinos de Jesus. Essa comparação era fundamental para uma comunidade que se desenvolveu sob a cultura do judaísmo, dominada naquele momento histórico pelas interpretações dos Fariseus e agora se deparava diante de uma nova realidade: o discipulado cristão. Fazer essa transição exigia uma nova compreensão do sentido da Palavra de Deus e esse foi o propósito de Mateus ao fazer tais registros.

Mt. 7.24-29 Os ensinos de Jesus como fundamentos da igreja

Ao registrar os ensinos de Jesus sobre os dois fundamentos, o propósito de Mateus foi enfatizar aos seus primeiros leitores, judeus, que o que deveria fundamentar suas vidas não deveria ser mais os ensinos dos líderes judaicos e sim os ensinos de Jesus. Os ensinos de Jesus são o fundamento que dá consistência à vida e não os ensinos dos Fariseus e demais líderes da religião estabelecida.

O ensino em si é importante ao indicar que a obediência prática às palavras de Jesus e não a postura de ouvinte é que demonstra que somos sábios. Nos ensina também que a vida construída sobre bases sólidas é a que coloca os ensinamentos de Jesus em primeiro lugar.



A lição em foco

1. Quando pensamos em ética, não estamos obviamente pensando em moral. A ética tem a ver com referenciais universais de conduta, como por exemplo, a justiça, a verdade, a liberdade, a solidariedade, enfim, enquanto a moral tem a ver com costumes de um lugar, num determinado tempo.
Os costumes devem ter como fundamento a ética mas nem sempre ocorre assim. Interesses econômicos, razões psicológicas ou místicas, disputas políticas, crenças mal fundamentadas por exemplo, podem determinar a implantação de um costume numa determinada comunidade. Um exemplo de costume, com base em crenças mal fundamentadas, é a proibição de mulheres cortarem os cabelos hoje, imposta por algumas denominações pentecostais. Os costumes devem ser preservados se justificados por valores éticos, no seu contexto histórico.

2. Diariamente somos confrontados por diversas doutrinas denominadas cristãs. Com o avanço da tecnologia e da velocidade da informação, podemos nos deparar literalmente a cada instante com "doutrinas cristãs", através do rádio, da televisão, da internet e da multiplicidade de literatura disponível. Não é difícil veicular material impresso e, portanto, qualquer indivíduo escreve e publica seus pensamentos.
Ninguém escreve ou publica algo sem qualquer interesse. Por isso, para não ser levado por caminhos tortuosos, cabe a cada um aprofundar seus conhecimentos em torno dos ensinos de Jesus e desenvolver a capacidade de discernir o que Jesus ensinou das interpretações que cada um pode dar.
Devemos saber que há editoras que publicam qualquer material religioso, por interesses estritamente financeiros e há aquelas que publicam materiais visando fortalecer uma forma de crença.
Portanto, toda publicação de pensamento, inclusive de interpretação bíblica visa, pelo menos, o "lucro" de formar opinião a respeito de determinados assuntos na sociedade. Somente o estudo sério, auxiliado pelo Espírito Santo de Deus, nos possibilita a fundamentar nossas vidas nos ensinos de Jesus, separando o trigo do joio.

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