sábado, 1 de agosto de 2009

Xô, amargura (I) (2004)

Há pessoas que são um rio de amargura. Por onde passam deixam marcas de frustração, contaminam seus pares e fazem brotar desesperança. Em alguns casos não percebemos razões para o amargor: são bem sucedidas no casamento, os filhos bem educados e estão bem empregadas. Apesar disso são um verdadeiro pessimismo ambulante.

A vida na ótica delas é chata, a sociedade é toda podre, todos são hereges. Mesmo sendo inteligentes, capazes de produzir coisas interessantes, não se enxergam em termos emocionais. Quando alguém destaca algo bom, feito por elas, o máximo que conseguem é dar um sorriso amargo.

Dependendo da personalidade e do grau de amargura, se tornam especialistas em analisar problemas. Soluções? Apenas no campo da teoria. Estão imobilizadas por crerem que, ou se conserta tudo de uma vez ou não vale a pena tentar. Não acreditam em processos por isso não se envolvem, nem os desencadeia. Lançar sementes, para quê? Não vão germinar! Podem ser capazes de fazer críticas profundas, bem fundamentadas e analisar situações de forma correta, mas a amargura as impede de agir. Agir para quê? Nada vai mudar!

Ideais inatingíveis de ortodoxia e ortopraxia "se concretizam" nelas. Os outros precisam enquadrar-se. Essa postura narcisista é um dos seus mais importantes afluentes de amargura. Paradoxalmente, não acreditam em si, são complexadas, cheias de sentimento de inferioridade, de rejeição. Não acreditam nos outros. Todas as pessoas, em todos os lugares, estão contra elas. O universo conspira contra elas. Quando discursam sobre a justiça, destacam como a vida é injusta... para com elas. Sentem-se sem voz, por isso suas palavras soam como grito. O tom pode soar suave, mas o conteúdo fere os ouvidos. Sempre que têm oportunidade, depreciam o outro ou encontram algo a ser criticado. Quando vêem alguém feliz, incomodam-se.

Não sabem o que é doçura, o que é apreciar a beleza das coisas, tomar uma criança nos braços, afagar os cabelos dos filhos, dar um abraço relaxado numa pessoa amiga, rir dos erros que cometem, curtir as cores e o perfume das flores, o verde ou o frescor das árvores... Música para elas é física ou, quando muito, bolinhas pretas sobre ou entre linhas. Não sabem o que é balançar o corpo e, muito menos, arrepiar-se ao som de uma canção harmoniosa. Parecem não acreditar que têm o direito de brincar com a ou na vida. Quem as impede de fazê-lo? Elas não sabem; apenas sentem que não podem.

Como é chato conviver com pessoas amargas! Mesmo sendo lúcidas intelectualmente, ricas economicamente ou poderosas politicamente, falta-lhes algo. Escravas, talvez, de sentimentos alimentados ao longo da vida, não conseguem a libertação, nem se dispõem a buscá-la. Pela indisposição, vai contaminando as margens por onde correm deixando um forte rastro. Se for pastor ou padre, gera uma igreja amarga. Se for professor, gera alunos amargos. Se for líder, amarga os liderados.

Agem como se não tivessem o direito a experimentar coisas boas e doces que a vida oferece. Algumas nem acreditam que possam libertar-se. Desconhecem a orientação bíblica: "tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem"; (Heb. 12.15). Precisam, portanto, da graça de Deus, sinalizada através de um amigo, de alguém qualificado em aconselhamento ou de profissional de psicologia ou psiquiatria. Precisam espantar a amargura! Xô, amargura!

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