sábado, 1 de agosto de 2009

Um canto de lamentação

2 Samuel 1.17-27
“Lamentou Davi a Saul e a Jônatas, seu filho, com esta lamentação” (v.17).

Lamentação é a expressão emocional de alguém que sente a dor de uma derrota ou de uma grande perda. Se, na maioria das vezes, ela é inútil para fazer com que a realidade se modifique retornando ao estágio desejado, ela pode ajudar-nos a reorganizar nosso mundo interior, a clarear elementos do fato gerador ou a descortinar alternativas que nos preparem para evitar ou enfrentar adequadamente os revezes da vida.

Jesus, por exemplo, lamentou o fato de Jerusalém estar distante dos caminhos de Deus na célebre frase: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste!” (Mt. 23.37)

Além disso, a lamentação dentro de níveis adequados, também pode ser uma manifestação pública de solidariedade ou até mesmo um instrumento pedagógico de valorização, como no caso de Davi. Ao receber a notícia da morte de Saul e Jônatas, ele não apenas cantou uma lamentação, mas também ordenou que se ensinasse aos homens de Judá.

O canto de lamento de Davi retrata o sentimento de vergonha de um povo derrotado numa batalha na qual dois importantes líderes foram mortos e enaltece as qualidades daqueles que partiram, levando o povo a valorizá-los.

Se por um lado a linguagem poética, emotiva, transfere equivocadamente para um espaço físico a responsabilidade pela derrota, por outro ela escancara a sensibilidade de um líder guerreiro, mostrando que, diante da dor, seja qual for a condição sócial, política, religiosa ou econômica do sofredor, todos nos sentimos fragilizados e precisamos exprimir o que sentimos.

(Texto produzido para a Revista Manancial, da UFMBB e publicado na 1ª quinzena de maio)

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